Em uma de suas instigantes proposições, o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard enunciou que “a vida só pode ser compreendida para trás, mas deve ser vivida para frente”. Poucos exercícios parecem tão apropriados a um princípio de ano e, para tanto, busquei relembrar acontecimentos que me marcaram e que de alguma forma me ajudam a entender o ano que passou para sonhar o 2016 que virá.
Em 2015 vivemos uma espécie de ressaca estrutural na economia brasileira. Mês após mês acompanhamos, aflitos, a redução da atividade econômica, o recrudescimento da inflação, o aumento do índice de desemprego. Tivemos um flashback da alta do dólar e a temida perda do investment grade pelas agências internacionais. Passamos o tempo todo imersos em um dos maiores escândalos de corrupção e de valores de nossa história republicana.
Vimos o enfraquecimento de instituições públicas e privadas com impactos diretos sobre a confiança, interna e externa, no País. Embora não visualizemos grandes inovações que apontem um novo caminho nessa seara, permanece a esperança. Pessimistas anunciaram que o Brasil ia colapsar, mas cá estamos, à base de resiliência. Nunca os poderosos que erraram estiveram tão próximos de passar longas temporadas nas penitenciárias.
O ano de 2015 testou também a relação da população com a tecnologia e a inovação, por conta do conflito entre taxistas e o Uber – e grande parte optou pela tecnologia. (Já os governos mostraram que continuam incapazes de compreender a real dimensão da inovação e da nova economia colaborativa.) Sabemos que o próximo teste não tardará, porque o Google e outras gigantes seguem a todo vapor com seus projetos inovadores.
Danos irreparáveis foram causados a empresas que não respeitaram o meio ambiente, como a Volkswagen, com a manipulação de testes de emissão de poluentes na Alemanha, e a Samarco, protagonista do maior desastre ambiental da história do Brasil, em Minas Gerais. Apesar da tristeza que isso nos dá, não deixou de ser educativo. 2015 não deixará muitas saudades, mas não é de minha natureza ser pessimista. Costumo ter fé na vida, busco olhá-la pelo prisma das oportunidades.
Toda essa consciência coletiva e os aprendizados podem ser convertidos em energia capaz de nos transformar na melhor versão de nós mesmos, de nossas organizações e da sociedade que merecemos. Vamos tentar? Não há tempo a perder.