Começo este artigo fazendo uma provocação, abordando o tema pela sua desconstrução: RH Estratégico, para mim, não existe. Estratégia existe apenas uma, a do negócio. O trabalho de todos é fazer a estratégia do negócio acontecer.
Se as suas ações são o desdobramento de uma parte da estratégia, ou se elas viabilizam a sua execução, mitigando gargalos e acelerando alavancas de crescimento e resultado, você está sendo estratégico. Não crie uma estratégia paralela no ímpeto de ter uma para chamar de sua, apenas garanta que tudo o que você faz está intrinsecamente conectado à estratégia do negócio.
RH Estratégico é uma (auto)afirmação do que deveria ser básico e generalizado, e me leva a pensar em uma redundância desnecessária, quase um pleonasmo. Eu não acredito em RH Estratégico, porque eu não acredito em uma prática de recursos humanos que não seja estratégica. Se há algo no seu RH que não é considerado estratégico, está na hora de você rever o que está no seu escopo.
## O RH entrega valor para o negócio
Esse, no entanto, não é um assunto novo. O RH reivindica o subtítulo de estratégico há bastante tempo. Por sua vez, não é de hoje que os negócios vêm demandando um RH mais próximo da estratégia. O que eu leio desse (mais comum do que gostaríamos) desencontro de expectativas, é que de um lado há um pedido de reconhecimento, e de outro um pedido de posicionamento. Ambos justos, diga-se de passagem.
Mas, ora, o encontro tão desejado só pode acontecer em um terceiro lugar, num lugar de entrega de valor para o negócio. E por isso eu gosto de tirar o termo RH Estratégico da frente, porque ele pode nos levar a pensar que o RH tem uma estratégia própria e a afastar a nossa atuação da execução da estratégia do negócio. Tenho certeza de que todo mundo já ouviu as expressões “isso é coisa do RH”, ou “isso é papo de RH”, e ainda, a variação que vem acompanhada daquela típica virada de olhos “ih, lá vem o RH”.
Esses são os sinais do RH Estratégico ensimesmado na sua própria estratégia. O RH que faz benchmark e volta para a empresa querendo aplicar o projeto, porque é a última tendência no mercado e a empresa não pode ficar de fora. Ou quer fazer o projeto para figurar nos rankings e ganhar o prêmio de melhores práticas de RH.
## O RH é transdisciplinar
Certa vez, eu ouvi a frase: “Se você precisa da sua empresa para se desenvolver, você é um profissional do passado.” Nesse contexto o RH é obsoleto, certo? Errado. O RH é muito mais do que desenvolvimento. Mais do que seleção, remuneração, [people analytics](https://www.revistahsm.com.br/post/people-analytics-ajuda-a-reter-jovens-talentos), cultura, engajamento, ou qualquer outro subsistema. É muito mais do que o grande projeto do ano, do que “o-melhor-programa-dos-últimos-tempos-da-última-semana”, ou da contratação da consultoria top das galáxias.
O RH é transdisciplinar. Transita no marketing, no comercial, na produção, no financeiro, nas equipes de projetos, de desenvolvimento de software, e em qualquer área da empresa. Ele não participa da reunião quando tem assunto de RH. Ele faz parte da reunião. Ele não é área de apoio, ele é parte do negócio. Ele não é convidado para a mesa de decisão. Ele é dono de um lugar na mesa de decisão. E note quanto de reconhecimento e posicionamento é necessário para podermos ocupar e pertencer a esse lugar.
O termo parceiro de negócios, HR business partner, foi criado para diferenciar dentro do RH um papel que deveria ser o de todos – e não só o do RH, inclusive. Porque ser um parceiro de negócio é um modelo mental, não um cargo. O profissional, especialista no que for, em seleção, em desenvolvimento, em remuneração, seja da área de RH ou não, precisa se considerar um parceiro do negócio. E indo além, mais do que parceiros, acredito que devemos ser líderes de negócio, líderes que, com outros líderes, compõem o time que impulsiona o resultado da empresa.
O RH é o líder que lê os problemas do negócio e entrega soluções com a sua expertise em gente. Trazer para a mesa os interesses do negócio e o interesse das pessoas, e ter a certeza de que quando este encontro acontece, estamos entregando a nossa própria razão de existir. É uma relação ganha-ganha, em que o indivíduo ganha, se desenvolvendo e [sendo reconhecido](https://www.revistahsm.com.br/post/como-promover-o-reconhecimento-de-colaboradores-em-meio-ao-trabalho-hibrido), e a empresa ganha, porque colhe a entrega deste indivíduo desafiado e realizado em forma de resultado, a única relação possível.
Afinal, é preciso dominar a estratégia e o modelo de negócio, falar a língua do negócio, conhecer seus números, seu mercado, seu momento, desafios e oportunidades. Mas no final, é tudo sobre pessoas.
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