Sustentabilidade

Watson já está entre Nós

O célebre sistema da IBM coloca o Brasil na era das plataformas cognitivas; já emergem no mundo os primeiros negócios cognitivos

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**Vale a leitura porque…**

… a computação cognitiva causará rupturas nos negócios. Nem sempre mudanças tecnológicas mudam as empresas – em 1993, surgiram o browser, o formato pdf, o spam, as imagens geradas por computador no cinema. Tudo foi impactante, mas sem efeitos. Agora é diferente.

… a inteligência artificial, de modo geral, tende a ser totalmente disruptiva para as empresas; vai fazê-las ingressar na terceira era da computação. 

Em 2011, o supercomputador da IBM, o Watson, venceu os seres humanos no quiz televisivo Jeopardy e chamou a atenção do mundo. As máquinas ficarão mais inteligentes do que os homens? Em fevereiro último, ele chegou ao Brasil e ficamos mais perto de responder a essa pergunta. O Watson não veio fisicamente – para tocá-lo seria preciso ir ao laboratório da IBM em Yorktown Heights, Nova York –, porém, mesmo como um serviço acessado na nuvem, ele deve nos levar à terceira era da computação – e causar uma grande ruptura nos negócios.

A IBM está na frente nesse jogo, mas não se encontra sozinha. Empresas como Google, Amazon, Microsoft e outras também exploram a computação cognitiva. O D-Wave 2x, computador quântico desenvolvido em conjunto por Google e Nasa, processa em um segundo o que um desktop comum levaria 10 mil anos para processar. A Amazon já comercializa seu assistente virtual Echo, que leva a inteligência artificial (IA) a outro patamar.

A Microsoft desenvolveu o Tay, assistente virtual que até há pouco tempo tuitava. Mais importante, a empresa anunciou em setembro uma unidade de pesquisa com 5 mil cientistas apenas para democratizar a IA para pessoas e organizações. Recentemente, a Salesforce apresentou o Einstein – ferramenta de IA integrada a sua plataforma para fazer a geração preditiva de leads – e, no final de novembro, as empresas brasileiras já poderão usá-lo.

Para Marcelo Porto, CEO da IBM Brasil, o fácil acesso à computação cognitiva, apoiado em nuvem e com recursos como mobilidade, analytics, segurança e colaboração, fará acelerar o questionamento e a desintermediação dos modelos de negócio tradicionais nos mais variados segmentos – indústria, tecnologia, telecomunicações, entretenimento, hotelaria, transporte, seguros, finanças etc. “Agora o Brasil também está entrando na era das plataformas cognitivas, extremamente transformacional e disruptiva”, afirma ele sem hesitação. A pergunta é: você está preparado?

**AS TRÊS ERAS**

Para realmente entender o que está por vir nos próximos cem anos, é interessante rever os últimos cem e analisar a evolução da computação. A marca de sua primeira era foi a disrupção provocada pelas máquinas tabuladoras da IBM, equipamentos capazes de contar com precisão, usados no Brasil para fazer o Censo de 1920, por exemplo. A segunda era, iniciada por volta de 1940, veio na esteira das máquinas programáveis – e ainda estamos nela, como nos mostra desde o caixa automático do banco (ATM) até o smartphone.

Agora, no entendimento da IBM e de suas rivais, estaria começando a terceira era da computação, caracterizada pelas máquinas cognitivas, que entendem a linguagem natural e têm capacidade de aprender, raciocinar e criar hipóteses sobre dados, como faz o Watson. Nova disrupção à vista.

Conforme explica Porto, a ruptura do que ele prefere chamar de “plataformas cognitivas” é explicada por dois fatores: (1) o volume de dados cresce exponencialmente e (2) o que mais cresce são os dados não estruturados, do tipo que não se consegue encaixar em uma tabela no banco de dados nem tendo os algoritmos certos e capacidade de processamento adequada.

O mundo precisa das plataformas cognitivas para extrair desse universo de dados não estruturados insights úteis para a sociedade – e para as organizações.

“Ao assistir a um vídeo, ver uma foto, olhar uma radiografia ou a imagem de um radar, uma plataforma cognitiva como o Watson entende o que aquilo significa, gera um insight e dispara algum tipo de ação”, exemplifica Porto.

O fato é que a explosão de dados mal começou. No mundo cada vez mais medido por sensores – eles já são trilhões – e conectado pela internet das coisas, a avalanche de dados com potencial de gerar insights será permanente. Sem as plataformas cognitivas, eles serão desperdiçados; com elas, gerarão conhecimento.

**NEGÓCIO COGNITIVO**

As implicações para o universo corporativo são claras. Empresas que transformarem dados em conhecimento e conseguirem individualizar cada cliente vão se diferenciar. “Serão os negócios cognitivos e estarão na crista da onda desta nova era”, explica o CEO da IBM Brasil. 

Os clientes valorizarão esse conhecimento? “Quando o Watson avisar a uma pessoa que ela vai ter crise de hipoglicemia em três horas e, assim, impedir o colapso, não só essa pessoa valorizará o conhecimento, como seu plano de saúde também. De modo geral, todo mundo quer ser reconhecido como indivíduo: o cliente quer que seu banco saiba quem ele é e as transações que fez, e o mesmo vale para a concessionária, a companhia de telefonia, a loja de roupas. Os consumidores tendem a valorizar as empresas que os conhecem melhor”, responde Porto. 

Outro valor criado pela inteligência artificial está em atender à expectativa dos consumidores de haver interações a qualquer hora do dia ou da noite, sem necessidade de marcar um momento específico para um feedback. 

Os próprios profissionais gostarão de ter suas habilidades alavancadas pela computação cognitiva. Para se manter atualizado, um oncologista especialista em câncer de mama precisaria estudar em média 20 horas por dia, entre ler os artigos que estão sendo publicados e ter todas as informações de pacientes – impossível. Uma plataforma cognitiva que consiga digerir todos esses dados vai ajudá-lo a adotar o melhor tratamento para um paciente específico sem que ele precise fazer isso. Da mesma forma, uma plataforma que conheça em detalhe todas as especificações técnicas dos produtos de uma loja apoiará o vendedor em um processo muito mais efetivo. Igual raciocínio vale para gestores, professores, advogados, meteorologistas etc.

**Saiba Mais Sobre Marcelo Porto**

**Quem é:** CEO da IBM Brasil desde janeiro de 2015.

**Carreira:** há 32 anos na IBM, passou por várias áreas e países.

**A IBM:** com receita de US$ 81,2 bilhões (2015), 35% dos quais vindos de seus imperativos estratégicos – analytics, cloud, mobile, social e segurança –, investe US$ 6 bilhões anuais em inovação e é líder mundial de patentes há 22 anos.

**PORTO ABORDA OS DESAFIOS DA IBM BRASIL**

**Nossas empresas ainda nem venceram o desafio da transformação digital; vão querer passar para o da computação cognitiva?**
Eu acho que as empresas brasileiras se conscientizaram da necessidade da transformação digital, ainda que haja muita lenha para queimar. Agora, se a computação cognitiva é uma disrupção inevitável, um dia elas também se conscientizarão disso.

**A crise não adiará a consciência?**
Não creio. Extremos econômicos costumam ser momentos de investimento em tecnologia. No cenário de crescimento do PIB de 1% ou 2% anuais, as empresas tendem a continuar fazendo as mesmas coisas, mas, quando há hipercrescimento ou instabilidade, elas buscam fazer diferente e, para isso, investem em novas tecnologias – seja para capturar o crescimento, seja para impedir a queda.

**Qual o grande argumento a favor da plataforma cognitiva com as empresas brasileiras?**
Eu diria que é a eficiência. Pense na agricultura de precisão, na gestão de fortunas, na manutenção preditiva de equipamentos, nos call centers. E simplicidade. Todos querem simplificar as coisas, mas é algo difícil de fazer.

**Há resistência à IA?**
Acho que não, principalmente porque os mais jovens são abertos a isso.

**A IBM Brasil vai se reinventar para vender o Watson?**
Todas as empresas de tecnologia estão tendo de transformar sua força de trabalho para adequá-la à nova realidade. Não basta entender mais sobre as novas tecnologias. O modelo de vendas e de engajamento dos clientes é diferente do tradicional; outras habilidades são requeridas, são envolvidos os ecossistemas, as plataformas são autossustentáveis. E isso exige de nós novos modelos de gestão.

**A mudança começou?**
Todos os processos da empresa, das vendas à contabilidade, têm de ser revisados – e começamos a fazê-lo este ano. Por exemplo, nossa gestão de performance, que até 2015 tinha avaliação anual, hoje usa um app e faz feedback contínuo. E os objetivos podem ser alterados pelo próprio funcionário ou gerente.

**NO BRASIL**

O leitor conhece o app de smartphone “Me Casei”, que serve para organizar uma cerimônia de casamento? Quando alguém troca informações com o app, está usando os serviços cognitivos do Watson. A comunidade desenvolvedora nacional vem sendo estimulada pela IBM a usar o supercomputador em suas aplicações B2C, com a disponibilização de 30 APIs – de texto para voz, voz para texto, identificação de imagem etc. A resposta tem sido boa: um hackathon promovido pela empresa este ano atraiu mais de 250 desenvolvedores. 

O Watson também já está sendo treinado em português nos processos do banco Bradesco para, em um primeiro momento, responder a consultas de seus profissionais sobre qualquer produto e, mais adiante, atender os clientes no call center. Mais três bancos já fecharam com a IBM. 

Uma fabricante de eletrodomésticos está testando em algumas casas filtros de água com inteligência artificial. Cobrando por assinatura, ela otimiza o serviço prestado ao fazer o Watson processar as informações captadas pelos sensores dos filtros. 

Uma aplicação óbvia é em atividades que dependem da meteorologia, como agronegócio, aviação, mineração ou exploração de petróleo na camada pré-sal. Porém, segundo Porto, os setores mais interessados na computação cognitiva no Brasil por enquanto são finanças (bancos e seguradoras), varejo, educação e saúde. 

A família do Watson, aliás, cresceu: ele tem um primo – a unidade específica para a saúde, chamada Watson Health –, também acessível ao Brasil. 

**MUDANÇA PROFUNDA**

Se digitar www.thenorthface. com/xps, você pode entrar na capacidade cognitiva do e-commerce da The North Face e ver como a IA está mudando as coisas. Você fala que quer comprar um casaco e o sistema pergunta: “Para quê?”. Você responde: “Para esquiar”, e ele pergunta: “Onde?”. É como se você tivesse entrado em uma loja física da marca e estivesse conversando com um especialista em casacos. 

A mudança será profunda e ocorrerá no mundo inteiro, impactando os modelos de gestão e a remuneração das pessoas. O grande temor é que estas se tornem dispensáveis, mas Porto é otimista – ele crê que o ser humano é insubstituível e a máquina só vem ajudá-lo. 

Tanto startups como corporações como Under Armour [veja página 102] começam a se tornar negócios cognitivos. Afinal, as coisas só serão elementares com esse Watson.

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