Todo líder, especialmente os CEOs de médias e grandes empresas, tem duas grandes preocupações: como garantir que a operação seja o mais eficiente possível, ou seja, pensar no hoje e garantir os resultados para sua sobrevivência, e como se diferenciar em um mercado competitivo, já vislumbrando a organização no futuro. Olhar para frente significa pensar em como conectar o negócio atual às diversas novidades e tendências, entre elas, big data, analytics e inteligência artificial.
E para deixar o atual momento ainda mais complexo, quando olhamos pela perspectiva econômica, o desafio é compreender como se preparar para altas taxas de juros, inflação e conflitos geopolíticos que impactam as cadeias de produção globais. Ou seja, são muitas variáveis que precisam ser trabalhadas pelos altos executivos, sempre buscando entender como preparar a organização hoje para esse futuro.
Levantamento da McKinsey, de março deste ano, sobre como as prioridades dos principais CEOs estão evoluindo e quais as ações que estão empreendendo para dar conta delas, mostra que ascensão de tecnologias disruptivas (58%), risco de inflação elevada e retração econômica prolongados (56%) e escalada de riscos geopolíticos (47%) são as tendências que mais exigem um plano de ação dos líderes corporativos em 2023.
A pesquisa da Mckinsey conecta também com levantamento realizado pela HRtech Mereo junto ao setor de gente e gestão de cem empresas e mostra o abismo entre o que pensam os CEOs e como as organizações executam essa estratégia. A pesquisa da Mereo é bem relevante: são empresas que possuem acima de 500 colaboradores, em mais de 30 segmentos e 30% delas são listadas em bolsa. A pesquisa avaliou quais eram as prioridades das áreas de gente e gestão e, para minha surpresa, para não dizer espanto, diretrizes como transformação digital e inovação, temas cruciais para as empresas “future-ready”, figuravam como as menos prioritárias.
A diretriz transformação digital aparece como prioridade para gestores do setor em apenas 18% das organizações avaliadas. As metas mais utilizadas nesta diretriz são de projetos para transformação de um RH mais digital, com utilização de plataformas para captação de dados e avaliação de desempenho, por exemplo.
E vejam que interessante: as metas de transformação digital não estão nas mãos de altas lideranças (7%), e sim de analistas (18%) ou gerentes (12%), o que denota não ser ainda algo prioritário dentro das organizações. Esses achados mostram, por exemplo, uma fragilidade não identificada pelo levantamento da McKinsey, empresa americana especializada em consultoria para empresas e governos. Nele, além da disrupção digital ser o ponto nevrálgico dos CEOs, 62% deles planejam desenvolver advanced analytics (aqui entraria a introdução do polêmico ChatGPT, por exemplo); reforçar a segurança cibernética (48%) e automatizar o trabalho (45%).
Na pesquisa da Mereo, a situação é ainda mais preocupante quando o tópico é inovação. Ela, que se refere à ação de desenvolver ideias diferentes do convencional mas que resolvem problemas reais e que são fundamentais para diferenciação com relação aos concorrentes, culminando em um melhor posicionamento estratégico, aparece como prioridade para líderes de gente e gestão em apenas 4% das companhias, sendo o foco metas de inovação aberta, transformação cultural e retorno financeiro com projetos inovadores.
É importante ter em mente que, sempre que tratamos de transformação digital e inovação, estamos falando principalmente de mudança de mentalidade das pessoas. Testar soluções diferentes do usual e estar mais aberto ao erro como forma de aprendizado precisam fazer parte da cultura da organização. E o principal catalisador deste processo deve ser a área de gente e gestão, apoiando os demais líderes nessa transformação. Faz tempo que falamos de inovação bem como transformação digital e hoje, olhando os dados das pesquisas, vemos que isso ainda não é uma prioridade em diversos setores.
Nesse sentido, é fundamental que as companhias, especialmente os profissionais com cargos de alta liderança, coloquem-nas como prioridades, construindo uma cultura de inovação, ou seja, um ambiente que acolha ideias e diversidade. Isso passa por um setor de gente e gestão estruturado para criar e acolher a cultura e o ecossistema complexo que a inovação existe. O presente não deixa dúvidas: o surgimento cada vez mais acelerado de tecnologias disruptivas se apresenta como um alerta, um último chamado à inovação – as empresas precisam aderir a esses modelos se quiserem “sobreviver”.