O mercado brasileiro de TIC continua avançando. A perspectiva para este ano é de crescimento de 6,2% do setor de tecnologia da informação e de 3% do de telecom, segundo o estudo [IDC Predictions Brazil](https://www.idc.com/getdoc.jsp?containerId=prLA50352423). Isso promete tornar ainda mais caótica a situação de falta de mão de obra no País. Desde 2021, a demanda por profissionais na área é de 159 mil, em média por ano e que deve ser mantida pelo menos até 2025, porém apenas 53 mil pessoas são formadas anualmente. Esses dados são da [Brasscom](https://brasscom.org.br/estudo-da-brasscom-aponta-demanda-de-797-mil-profissionais-de-tecnologia-ate-2025/) (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais), que projeta um déficit de 530 mil profissionais de TIC, de 2021 a 2025, diante da demanda prevista de 797 mil talentos.
Esses números, sem dúvida, são um entrave para o desenvolvimento de todas as empresas, ainda mais no crescente cenário de transformação digital. “Sem buscarmos alternativas para atuar na raiz do problema, esse gap de talentos vai piorar cada vez mais, colocando em xeque todas as projeções de crescimento do mercado de tecnologia e a contribuição do setor para a economia brasileira”, afirma Leandro Torres, sócio-fundador e CEO da edtech BePRO Institute.
Apesar da criticidade que a falta de profissionais de TI qualificados representa, ainda há, segundo Torres, “uma miopia no mercado em não se investir satisfatoriamente em formação de talentos”. Para exemplificar, ele cita as grandes consultorias de TI, cujos colaboradores são cobrados por resultados, mas nem mesmo existe a cultura dos mais experientes treinarem os mais jovens. “Foi analisando e vivenciando toda essa problemática que decidimos criar a BePRO Institute”, explica ele, que tem quase 30 anos de experiência em empresas como Service IT e Organize Cloud Labs.
## Curso de capacitação de graça
Os planos da edtech são ambiciosos: pretende formar 800 desenvolvedores cloud até o final de 2023. O curso online é gratuito, indicado para pessoas que buscam o primeiro emprego ou querem dar um reskilling na carreira. É preciso estar cursando – ou ter cursado – alguma disciplina da área de TI, além de conhecimento básico de inglês.
Para a primeira turma, iniciada em abril, 150 pessoas (30 delas mulheres) se inscreveram, mas somente 26 tinham esses pré-requisitos, sendo oito mulheres e 18 homens, com idades de 19 a 52 anos. “A ideia é termos turmas de 50 pessoas”, revela Torres. “Nossa proposta é preparar os alunos para lidarem com questões diárias da rotina de um desenvolvedor jr., acelerando sua inserção no mercado de trabalho por meio de uma jornada que espelhe os desafios atuais do mercado”, afirma o executivo.
Toda a capacitação, que tem duração de quatro semanas, ocorre numa plataforma própria de EAD, na qual Torres investiu cerca de R$ 500 mil. No formato de bootcamp, os treinamentos são focados em plataformas de desenvolvimento na nuvem. A primeira plataforma escolhida foi a da Outsystems, de desenvolvimento low-code, com jornada educacional de 140 horas, com um total de 63 conteúdos gravados, entre:
– __Conteúdo técnico:__ sobre a plataforma, desenvolvimento mobile, desenvolvimento front-end, noções básicas de arquitetura de TI, fundamentos operacionais, entrega de projetos e melhores práticas, entre outros.
– __Conteúdo comportamental:__ abordando temas como técnicas de estudo, gestão do tempo, liderança protagonista, resiliência, cujos conteúdos foram preparados por Lúcia Helena Galvão, professora de filosofia da organização Nova Acrópole do Brasil.
– __Conteúdo prático:__ basicamente no formato de exercícios individuais.
– __Mentoria:__ com acompanhamento no decorrer de toda a jornada.
Com inspiração na metodologia ágil, são realizados daily meetings obrigatórios, de manhã e à tarde. As comunicações com e entre os alunos acontecem em grupo no WhatsApp e no Discord. Na última semana, cada um desenvolve uma aplicação, como projeto final.
Além da iniciativa social, ao oferecer a capacitação gratuita para interessados, a BePRO pretende atrair empresas, interessadas em treinar seus funcionários ou para apadrinhar alunos, podendo depois contratá-los. Para essas, a formação de cada aluno custará R$ 6 mil. Outro plano é fazer parcerias com universidades e fornecedores de tecnologia.
A união de forças é importante para formar esses profissionais que serão cada vez mais demandados pelas organizações. “A transformação digital não é uma opção, mas sim um imperativo para todas as empresas que querem continuar e prosperar no mercado”, diz Torres. Para que esta transformação aconteça, elas precisarão:
– modernizar seus sistemas e plataformas tecnológicas, tornando-as mais eficientes, integráveis e flexíveis;
– mapear e automatizar processos; e
– investir em inovação.
“Pois bem, todas essas frentes de trabalho passam pela necessidade de se adquirir ou aumentar conhecimentos e capacidades relacionadas ao desenvolvimento de aplicações”, pontua o empreendedor. E, se o mercado não forma as pessoas com as qualificações desejadas para ocuparem os postos de trabalho, a alternativa é incentivar e apostar em iniciativas que deixem os profissionais mais preparados para as empresas.