Todo mundo sabe: a China é grande, cresce rápido e é cada vez mais crucial para muitas empresas no mundo. Desde a histórica “visita ao sul” de Deng Xiaoping, há três décadas, as multinacionais investem maciçamente no país, estratégia que evoluiu pari pas-su com o avanço do seu papel global.
A crença inicial foi de que outros modelos de negócio poderiam ser replicados na China; esperava-se que “copiar e colar” funcionasse. Empresas locais não eram vistas como concorrentes. Esse papel era de outras corporações que operavam com parceiras locais para reduzir custos.
De lá para cá, o desempenho das multinacionais na China variou muito. Algumas não obtiveram o resultado esperado, outras optaram por reduzir sua presença e outras simplesmente recuaram. Houve quem descobrisse na China um de seus maiores mercados e também o epicentro das suas cadeias de fornecimento globais.
Hoje, as multinacionais notam que a China é mais do que um “país estrangeiro”. Reconhecem velocidade, agilidade e motivação para aprender e se adaptar. Muitas, no entanto, sentem que poderiam ter mais resultados, e ficam perplexas por não capturarem o potencial legítimo oferecido pelo país. Há, porém, uma visão equivocada sobre como se faz negócios na China, fruto de notícias de um ambiente injusto e difícil para as multinacionais e de conselhos simplórios dados por diferentes profissionais que, longe de captar a real importância do país, apenas deram aos ocidentais uma ideia de estranheza.
Há muito tempo acredito que as multinacionais que desejam atuar na China precisam superar desafios, como a falta de um framework estratégico adequado para caracterizar o país; a subavaliação da capacidade e intensidade de inovação do país e de seu impacto nos negócios. E falta compreender adequadamente o modelo de governança chinês, sem ser contaminado pela retórica política. As multinacionais com melhor desempenho reconheceram esses fatores e mudaram seu mindset ao longo do tempo. Estabeleceram equipes locais, transferiram parte de P&D para a China e prestaram mais atenção aos concorrentes locais. Aprofundar a compreensão do papel da China no mundo, contemplando a geopolítica como pré-requisito para desenvolver estratégias no país, colabora para a evolução.
Para os pessimistas, a geopolítica ficará insustentável. Já os verdadeiros estrategistas terão uma visão objetiva e procurarão formas de criar valor mesmo reconhecendo os riscos. Ao emergir como plataforma para o melhor pensamento estratégico, a China influenciará negócios no resto do mundo. Acompanhar seu desenvolvimento em um ambiente de rápida mudança exige dos estrategistas uma mentalidade não linear, multidimensional e descontínua, que aceite ambiguidades, identificando benefícios e riscos envolvidos.
Com grandes oportunidades para multinacionais, ter presença forte na China significa também fortalecer sua posição global. Capturar o potencial legítimo que o país oferece, porém, exige excelente mentalidade estratégica.
Artigo publicado na HSM Management nº 154