Um e-mail enviado por engano levou os gigantes Google e Uber à Justiça em mais uma batalha da guerra pelo pioneirismo do carro autônomo. A Waymo, subsidiária do Google, acusa o Uber de roubar o projeto e informações privadas de uma tecnologia chamada LiDAR, que seria o coração do carro autônomo. O pivô da briga é Anthony Levandowski, ex-funcionário do Google, que trabalhava no projeto dos veículos autodirigidos, mas saiu de lá no início de 2016 e fundou a startup 280 Systems, que depois passou a se chamar Otto e foi vendida para o Uber em agosto do mesmo ano.
Um colaborador da Waymo recebeu inadvertidamente um e-mail de um fornecedor do Uber. Em um arquivo anexado, estava a placa de circuito da Otto, que, segundo o Google, é idêntica ao projeto da Waymo. A partir daí, esta acusou o Uber e a Otto de violação de patentes, entrando na Justiça para impedir o uso da tecnologia por essas empresas.
A LiDAR não é rigorosamente uma tecnologia proprietária – várias empresas trabalharam em seu desenvolvimento e patentearam suas versões, explica uma reportagem publicada pela Knowledge@Wharton. Baseada em escaneamento e mapeamento a laser, ela cria imagens em 3D em tempo real, que permitem que o veículo “veja” o que está a sua volta e “perceba” se há pedestres, tráfego, ciclistas ou quaisquer outros obstáculos. O Google tinha chegado a um nível de desenvolvimento que já teria tornado a tecnologia suficientemente acessível em termos de custo.
O Google foi pioneiro na LiDAR, lançando o primeiro projeto com ela em 2009. Entretanto, há uma proliferação de sistemas que operam de maneiras diversas, o que dificulta o aperfeiçoamento da tecnologia em seu objetivo de reduzir acidentes e mortes. Além disso, muitos aspectos dessa inovação continuam não regulamentados. Mesmo assim, o Uber segue avançando na área desde setembro de 2016, realizando experimentos em Pittsburgh, EUA, ainda que sem aprovação judicial.
Dois professores da Wharton School, John Paul MacDuffie, de marketing, e Sharon Sandeen, de direito, comentaram a contenda judicial na Knowledge@Wharton. MacDuffie comparou o processo com o caso de 2012 entre a Apple e a Samsung, no qual a última teve de pagar US$ 1 bilhão à primeira. Para Sandeen, esse caso pode ter dois desdobramentos: o licenciamento cruzado dos carros, com o compartilhamento de informações entre as duas empresas, ou uma verdadeira guerra para ver quem sai na frente.
Segundo a professora, a maioria dos casos relativos a segredos comerciais envolve ex-funcionários que vão trabalhar para concorrentes ou criam uma startup. Ela até acha estranho o Google ter demorado tanto para agir após a saída de Levandowski, que já trabalhava com a tecnologia antes mesmo de se juntar à empresa. O processo pode ser bom para a Waymo/Google, completou MacDuffie, uma vez que a imagem pública do Uber é de uma empresa que não se preocupa em seguir regras.