Desenvolvimento pessoal

“Aculturabilidade” pesa mais que alinhamento cultural

Quem ficará na empresa? Quem será demitido? Segundo pesquisa, a capacidade de se adaptar a uma cultura é chave no recrutamento.

Compartilhar:

O êxito do famoso deck da cultura da Netflix, que começou a ser desenvolvido em 2001, fez com que o “fit cultural” se tornasse o mantra da área de recrutamento e seleção de empresas do mundo inteiro. Profissionais de recursos humanos compraram a ideia de que o alinhamento de valores entre empregador e empregado é o maior fator de sucesso em uma contratação. No entanto, pesquisa realizada por Amir Goldberg, professor associado de comportamento organizacional da Stanford Graduate School of Business, sugere outra dimensão ainda mais importante, e negligenciada: a adaptabilidade a uma cultura.

Como relata artigo recente da revista _Stanford Business_, os pesquisadores reuniram mais de 10 milhões de e-mails internos de uma empresa de tecnologia enviada entre 2009 e 2014 e usaram a análise linguística para monitorar o fit cultural de cada funcionário ao longo do tempo, comparando-o com seu desempenho e com sua eventual saída da empresa (voluntária ou não). De fato, os colaboradores que se encaixavam bem desde o início tendiam a ter um bom desempenho e a permanecer, mas descobriu-se que um mecanismo de previsão de êxito muito mais poderoso é a capacidade de um funcionário reconhecer e internalizar os padrões culturais do ambiente em que estiver. “Nós descobrimos que o grau em que o funcionário se adapta a uma cultura organizacional é o que prediz quem vai ficar, quem vai embora e quem será demitido”, diz Goldberg. Essa capacidade de ler códigos culturais e ter comportamentos alternativos em conformidade com eles foi batizada pelos pesquisadores de “aculturabilidade” (“enculturability”).

Alguns indicadores disso são o fato de os candidatos terem vivido em outros países ou ambientes, se eles se moveram facilmente entre ambientes de trabalho variados, e se conseguiram se adaptar a esses ambientes com relativa suavidade.

**RETENDO OS MELHORES**

Essa descoberta representa uma oportunidade para o RH. Segundo Goldberg, entre os funcionários que eram culturalmente desajustados no início, os de baixa aculturabilidade normalmente costumam ser demitidos, mas muitos de alta aculturabilidade, que se adaptam e têm excelente desempenho voluntariamente, decidem ir embora, incomodados por detalhes de cultura. A oportunidade é de reter esse segundo grupo, o que pode ser feito se os líderes zelarem constantemente por sua integração cultural. Como Goldberg disse à _Stanford Business_, o uso frequente de ferramentas de linguagem para detectar a harmonia cultural, como sua pesquisa de e-mails, ajuda nisso.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura
ESG
No lugar de fechar as portas para os jovens, cerque-os de mentores e, por que não, ofereça um exemplar do clássico americano para cada um – eles sentirão que não fazem apenas parte de um grupo estereotipado, mas que são apenas jovens

Daniela Diniz

05 min de leitura
Empreendedorismo
O Brasil já tem 408 startups de impacto – 79% focadas em soluções ambientais. Mas o verdadeiro potencial está na combinação entre propósito e tecnologia: ferramentas digitais não só ampliam o alcance dessas iniciativas, como criam um ecossistema de inovação sustentável e escalável

Bruno Padredi

7 min de leitura
Finanças
Enquanto mulheres recebem migalhas do venture capital, fundos como Moon Capital e redes como Sororitê mostram o caminho: investir em empreendedoras não é ‘caridade’ — é fechar a torneira do vazamento de talentos e ideias que movem a economia

Ana Fontes

5 min de leitura
Empreendedorismo
Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Ivan Cruz

7 min de leitura
ESG
Resgatar nossas bases pode ser a resposta para enfrentar esta epidemia

Lilian Cruz

5 min de leitura
Liderança
Como a promessa de autonomia virou um sistema de controle digital – e o que podemos fazer para resgatar a confiança no ambiente híbrido.

Átila Persici

0 min de leitura
Liderança
Rússia vs. Ucrânia, empresas globais fracassando, conflitos pessoais: o que têm em comum? Narrativas não questionadas. A chave para paz e negócios está em ressignificar as histórias que guiam nações, organizações e pessoas

Angelina Bejgrowicz

6 min de leitura
Empreendedorismo
Macro ou micro reducionismo? O verdadeiro desafio das organizações está em equilibrar análise sistêmica e ação concreta – nem tudo se explica só pela cultura da empresa ou por comportamentos individuais

Manoel Pimentel

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Aprender algo novo, como tocar bateria, revela insights poderosos sobre feedback, confiança e a importância de se manter na zona de aprendizagem

Isabela Corrêa

0 min de leitura