A internet tem uns 20 anos. primeiro, conectava pessoas. depois, chegaram as empresas e começaram a prestar serviços às pessoas e umas às outras, online, em equipamentos fixos. A rede móvel tem uns 10 anos, mais ou menos a idade das redes sociais. de novo, primeiro as pessoas foram para as duas, seguidas pelas empresas, que, convenhamos, ainda não chegaram realmente “lá”, em nenhuma das duas. inovação corporativa leva tempo…
Agora começa a tomar forma a internet das coisas, ideia tão antiga quanto a internet, uma convergência de pelo menos três visões: dos objetos e suas capacidades de processar informação, comunicar-se e controlar as próprias ações e as de outros objetos; da rede, como infraestrutura essencial para esses objetos interagirem; e, por fim, de uma visão semântica, do significado dos objetos em rede.
Mesmo que ache que ainda não está na internet das coisas, você está, desde que seu smartphone passou a transmitir a posição do carro para um serviço em rede –sem o que você não conseguiria seguir uma rota em tempo real. A internet das coisas não só já está em nossa vida, como veio para ficar. No entanto, seu potencial só será realizado quando as empresas assumirem a liderança do processo, como foi nos outros casos. Eis o coração deste artigo: a liderança da internet das coisas é um grande desafio e uma grande oportunidade para as empresas. É um desafio porque os gestores –e os aparatos regulatórios– estão em uma velocidade muito aquém do ritmo da rede. E é uma oportunidade porque o corre-corre atual tem caráter mais experimental do que de serviços estáveis, confiáveis, que podem ser usados por muitos, para mudar o patamar de complexidade, sofisticação e uso de muitas coisas.
Conto uma possível história de internet das coisas, localizada na rede elétrica, e o leitor identifica o desafio e a oportunidade: os medidores de energia de sua casa são eletromecânicos, tecnologia de quase 100 anos, e são lidos por uma pessoa, quando são, uma vez por mês. Um medidor digital, conectado, poderia fazer tantas medidas quantas fossem programadas.
Eletrodomésticos, como coisas em rede, poderiam interagir com o medidor e, daí, com o fornecedor de energia. O consumidor “diria” para sua máquina de lavar que precisa das roupas limpas em 72 horas, pelo menor custo possível. Resultado? Máquinas de lavar negociariam preço de energia. E o gerador solar da casa do consumidor, bem como seu carro elétrico, conectados, negociariam a venda de energia.
Tais efeitos sistêmicos precisam de muito mais do que alguns sensores e atuadores controlados com um app no smartphone, porque, em rede, conta o “efeito rede” –quanto mais coisas, sistemas e pessoas conectados, mais valor gerado.
No caso da rede elétrica, a agência reguladora, a Aneel, já teve um plano de chegar a 100% de medidores digitais até 2009, meta que passou para 2021, mas o mercado prevê menos de 50% em 2020! Enquanto isso, 100% dos medidores chineses serão “smart” em 2020, pois já são 50% hoje. Só que a rede das coisas vai bem além da eletricidade –pense em seu carro recebendo o aviso do próprio recall, por exemplo. As empresas não podem esperar a oportunidade de inovar na internet das coisas virar obrigação (e continuar um desafio).