Healing leadership

A aceleração da agenda de cura que começa pelo G

Cada vez mais líderes se tornam ativistas de uma economia mais inclusiva, equitativa e regenerativa. A governança pode pavimentar esse caminho

Dario Neto e Marcel Fukayama

Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga....

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A pandemia foi o grande marco de 2020. De um lado, criou uma crise sanitária, humanitária, social e econômica sem precedentes. Por aqui, perdemos mais de 200 mil vidas, mais de 8 milhões de postos de trabalho foram encerrados e agora experimentamos uma nova onda, em uma estrutura fragilizada e que expõe vulnerabilidades estruturais como sociedade, mercado e país.
Uma crise dessa magnitude, porém, também é parteira de grandes transformações. O novo coronavírus já mudou realidades – algumas, quiçá, para sempre. O mundo do trabalho, por exemplo, teve sua dinâmica profundamente afetada, assim como o comércio online, que apresentou crescimento histórico no ano passado. Como falamos na coluna passada, os investimentos do tipo ESG (ambiental, social e governança, em sua sigla em inglês) tiveram um boom em 2020.
Com isso, essas oportunidades também se apresentam em forma de tendências, que poderão ser aceleradas em virtude da mudança rápida de contexto. Listamos algumas das tendências que uma liderança que cura precisa conhecer e abraçar:

– __Massificação do ativismo empresarial.__ Não há bons negócios num país ruim. É crescente o número de lideranças empresariais engajadas com a agenda para uma nova economia mais inclusiva, equitativa e regenerativa. A prosperidade coletiva gera benefícios para todos, diminui riscos sistêmicos e aumenta significativamente a chance de êxito para os negócios e indivíduos e, por consequência, para a sociedade. Ainda que apartidárias, as lideranças empresariais ativistas estão percebendo que a mudança que buscamos é uma das expressões mais claras do ato político. Sem medo de se posicionar, com uma mensagem clara e coerente, buscam contribuir para uma agenda pública e de benefícios coletivos.
– __Tecnologias emergentes a serviço dos principais desafios socioambientais.__ A recorrência de negócios orientados a impacto socioambiental positivo baseados em inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e blockchain evidencia que é questão de tempo para tomarem o mainstream da agenda de venture capital e empreendedorismo. Casos como o da brasileira Moss, a maior plataforma de tokens de créditos de carbono do mundo, viabilizada por blockchain, que se propõe a frear definitivamente o desmatamento da Amazônia, ou da Circular Brain, disposta a digitalizar a cadeia brasileira de recicladores de resíduos eletrônicos e atuar com créditos de reciclagem, são alguns promissores exemplos que nos enchem de otimismo.
– __Evolução da governança e gestão orientadas para distribuição de riqueza e poder.__ O uso de ferramentas ágeis de gestão é inevitável no novo contexto do mundo do trabalho. E traz consigo novos modelos de governança que buscam qualificar e compartilhar tomadas de decisão para gerar pertencimento e acessar inteligência coletiva, não apenas entre colaboradores, mas em toda a cadeia de valor ou stakeholders em geral. São os chamados modelos sociocráticos de gestão e governança. Daí vem o desenvolvimento de liderança distribuída, com a reorganização dos papéis e das responsabilidades e, consequentemente, do poder. Essa distribuição cria novos modelos societários e de participação, nos quais as organizações são não apenas poderosas plataformas de geração de riqueza, mas também de empoderamento e de distribuição dessa riqueza.
– __Estandardização dos padrões de contabilidade social e ambiental com posterior massificação.__ A crise de 1929 gerou a necessidade de buscarmos uma estandardização nos padrões contábeis financeiros. Ao longo da década atual, chamada de década da restauração pela ONU por conta da Agenda 2030, teremos um avanço estrutural na estandardização dos padrões contábeis sociais e ambientais. Consulta recente da International Financial Reporting Standards (IFRS) vai nessa direção, bem como a fusão do Sustainability Accounting Standards Board (SASB) com o International Integrated Reporting Council (IIRC), criando a Value Reporting Foundation. A contabilidade de triplo impacto pavimenta todo um arcabouço institucional, desde um novo regime tributário até formas de reporte e relacionamento das organizações com seus stakeholders, entre eles a sociedade e o planeta.

A liderança terá de desenvolver uma série de competências para enfrentar essas tendências. Entre elas, a capacidade de navegar por incerteza, ambiguidade e volatilidade, num mundo interconectado e interdependente, que evidencia todos os dias a importância de se posicionar como uma voz coerente, consistente e íntegra diante de desafios e oportunidades.
Quer uma dica de por onde começar? Comece pelo G do ESG – governança. A governança multistakeholder pode pavimentar o caminho para a adoção de práticas e mudanças estruturais que despertarão as organizações para estarem mais vivas do que nunca nesta década.

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