Healing leadership

A aceleração da agenda de cura que começa pelo G

Cada vez mais líderes se tornam ativistas de uma economia mais inclusiva, equitativa e regenerativa. A governança pode pavimentar esse caminho
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

Compartilhar:

A pandemia foi o grande marco de 2020. De um lado, criou uma crise sanitária, humanitária, social e econômica sem precedentes. Por aqui, perdemos mais de 200 mil vidas, mais de 8 milhões de postos de trabalho foram encerrados e agora experimentamos uma nova onda, em uma estrutura fragilizada e que expõe vulnerabilidades estruturais como sociedade, mercado e país.
Uma crise dessa magnitude, porém, também é parteira de grandes transformações. O novo coronavírus já mudou realidades – algumas, quiçá, para sempre. O mundo do trabalho, por exemplo, teve sua dinâmica profundamente afetada, assim como o comércio online, que apresentou crescimento histórico no ano passado. Como falamos na coluna passada, os investimentos do tipo ESG (ambiental, social e governança, em sua sigla em inglês) tiveram um boom em 2020.
Com isso, essas oportunidades também se apresentam em forma de tendências, que poderão ser aceleradas em virtude da mudança rápida de contexto. Listamos algumas das tendências que uma liderança que cura precisa conhecer e abraçar:

– __Massificação do ativismo empresarial.__ Não há bons negócios num país ruim. É crescente o número de lideranças empresariais engajadas com a agenda para uma nova economia mais inclusiva, equitativa e regenerativa. A prosperidade coletiva gera benefícios para todos, diminui riscos sistêmicos e aumenta significativamente a chance de êxito para os negócios e indivíduos e, por consequência, para a sociedade. Ainda que apartidárias, as lideranças empresariais ativistas estão percebendo que a mudança que buscamos é uma das expressões mais claras do ato político. Sem medo de se posicionar, com uma mensagem clara e coerente, buscam contribuir para uma agenda pública e de benefícios coletivos.
– __Tecnologias emergentes a serviço dos principais desafios socioambientais.__ A recorrência de negócios orientados a impacto socioambiental positivo baseados em inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e blockchain evidencia que é questão de tempo para tomarem o mainstream da agenda de venture capital e empreendedorismo. Casos como o da brasileira Moss, a maior plataforma de tokens de créditos de carbono do mundo, viabilizada por blockchain, que se propõe a frear definitivamente o desmatamento da Amazônia, ou da Circular Brain, disposta a digitalizar a cadeia brasileira de recicladores de resíduos eletrônicos e atuar com créditos de reciclagem, são alguns promissores exemplos que nos enchem de otimismo.
– __Evolução da governança e gestão orientadas para distribuição de riqueza e poder.__ O uso de ferramentas ágeis de gestão é inevitável no novo contexto do mundo do trabalho. E traz consigo novos modelos de governança que buscam qualificar e compartilhar tomadas de decisão para gerar pertencimento e acessar inteligência coletiva, não apenas entre colaboradores, mas em toda a cadeia de valor ou stakeholders em geral. São os chamados modelos sociocráticos de gestão e governança. Daí vem o desenvolvimento de liderança distribuída, com a reorganização dos papéis e das responsabilidades e, consequentemente, do poder. Essa distribuição cria novos modelos societários e de participação, nos quais as organizações são não apenas poderosas plataformas de geração de riqueza, mas também de empoderamento e de distribuição dessa riqueza.
– __Estandardização dos padrões de contabilidade social e ambiental com posterior massificação.__ A crise de 1929 gerou a necessidade de buscarmos uma estandardização nos padrões contábeis financeiros. Ao longo da década atual, chamada de década da restauração pela ONU por conta da Agenda 2030, teremos um avanço estrutural na estandardização dos padrões contábeis sociais e ambientais. Consulta recente da International Financial Reporting Standards (IFRS) vai nessa direção, bem como a fusão do Sustainability Accounting Standards Board (SASB) com o International Integrated Reporting Council (IIRC), criando a Value Reporting Foundation. A contabilidade de triplo impacto pavimenta todo um arcabouço institucional, desde um novo regime tributário até formas de reporte e relacionamento das organizações com seus stakeholders, entre eles a sociedade e o planeta.

A liderança terá de desenvolver uma série de competências para enfrentar essas tendências. Entre elas, a capacidade de navegar por incerteza, ambiguidade e volatilidade, num mundo interconectado e interdependente, que evidencia todos os dias a importância de se posicionar como uma voz coerente, consistente e íntegra diante de desafios e oportunidades.
Quer uma dica de por onde começar? Comece pelo G do ESG – governança. A governança multistakeholder pode pavimentar o caminho para a adoção de práticas e mudanças estruturais que despertarão as organizações para estarem mais vivas do que nunca nesta década.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Empreendedorismo
A importância de uma cultura organizacional forte para atingir uma transformação de visão e valores reais dentro de uma empresa

Renata Baccarat

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura
Empreendedorismo, Diversidade, Uncategorized
A entrega do Communiqué pelo W20 destaca o compromisso global com a igualdade de gênero, enfatizando a valorização e o fortalecimento da Economia do Cuidado para promover uma sociedade mais justa e produtiva para as mulheres em todo o mundo

Ana Fontes

3 min de leitura
Diversidade
No ambiente corporativo atual, integrar diferentes gerações dentro de uma organização pode ser o diferencial estratégico que define o sucesso. A diversidade de experiências, perspectivas e habilidades entre gerações não apenas enriquece a cultura organizacional, mas também impulsiona inovação e crescimento sustentável.

Marcelo Murilo

21 min de leitura
Finanças
Casos de fraude contábil na Enron e Americanas S.A. revelam falhas em governança corporativa e controles internos, destacando a importância de transparência e auditorias eficazes para a integridade empresarial

Marco Milani

3 min de leitura
Liderança
Valorizar o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores é essencial para um ambiente de trabalho saudável e para impulsionar resultados sólidos, com lideranças empáticas e conectadas sendo fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.

Ana Letícia Caressato

6 min de leitura
Empreendedorismo
A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.

Manoel Pimentel

3 min de leitura