Assunto pessoal

A arte muda o mundo. Inclusive as empresas

Ela nos inspira, provoca e instiga a agir. Tanto que recebeu no SXSW 2022 quase tanta atenção quanto o metaverso e as criptomoedas
Rafael Balan Zappia é consultor associado da HSM para estratégias educacionais e conteúdos. É board member da ZIV, galeria voltada a criar oportunidades e gerar transformações com arte

Compartilhar:

A edição mais recente do South by Southwest (SXSW), considerado o maior festival de inovação do mundo, tratou do futuro da inteligência artificial, do metaverso e das criptomoedas, entre outros assuntos desafiadores. Mas o que mais me chamou a atenção foi o espaço dado às discussões em torno do papel das artes na cultura, na tecnologia e no contexto das organizações.

A cada ano há uma programação especial dedicada a esse assunto, o SXSW Art Program, que explora o impacto de ambientes imersivos e de diferentes expressões artísticas, físicas e digitais. Seu objetivo é estimular nossas capacidades para exercitar a criatividade e descobrir novas formas de nos conectarmos com o ambiente à nossa volta.

O SXSW deste ano trouxe obras instigantes. A pintora Desireé Vaniecia desafiou os estereótipos impostos às mães negras. *Order of Magnitude*, do artista digital Ben Grosser, é um vídeo que trata da obsessão do Vale do Silício pelo crescimento a todo custo. Já Ciara Elle Bryant criou uma muralha com caixas brancas empilhadas e tênis usados e desgastados para debater o impacto cultural de um ícone da moda, o Nike Air Force 1, lançado pela gigante norte-americana há 40 anos. Como se vê, assuntos diversos e atuais.

Há muito se fala do poder transformador e terapêutico das expressões artísticas, mas agora, mais do que nunca, elas são relevantes e necessárias. Em um mundo de incertezas, este artigo é um convite para podermos não só apreciar melhor a arte em suas várias formas, mas também para entender o seu potencial impacto nas organizações.

Primeiramente, a obra de arte deve ser vista sempre como uma experiência em aberto. Qualquer expressão artística, um quadro, uma música ou uma instalação, é sempre um convite para um diálogo mais profundo. Ao se deixar levar livremente por todos os possíveis significados e emoções que uma obra desperta, você se permite iniciar um diálogo criativo que não se esgota na primeira percepção. Dependendo da forma e do momento em que a apreciamos, surge sempre uma composição diversa. É como enxergar o novo e o diferente em algo que já imaginamos ser conhecido – uma habilidade essencial de desconstrução daquilo que nos parece óbvio, estático e conformado.

É essa primeira abertura que precisamos nos permitir, de se colocar frente a frente com a arte sem censura e sem ter o compromisso de estar certo ou errado. Deixar-se levar por uma curiosidade inocente e desarmada, dando sinal verde para novas associações e sensações. A arte desperta em nós essa capacidade extraordinária de ressignificar um mundo que já estamos habituados a perceber e viver. É um convite a experimentar a todo momento algo novo.

Essa experiência contemplativa está relacionada com a capacidade inventiva que todos nós possuímos. Um dos maiores especialistas em criatividade no mundo empresarial, o psicólogo Edward de Bono, criador do termo “pensamento lateral” e falecido no ano passado, já dizia: “A criatividade é o recurso humano mais importante de todos, pois sem ela não haveria progresso e estaríamos repetindo os mesmos padrões”. Ou seja, explorar o nosso potencial criativo é a chave para sermos os agentes ativos das grandes transformações a caminho.

## Estimule a criatividade
No nosso contexto organizacional, a criatividade inspirada pela arte pode fazer a diferença. Você pode pensar em pequenas mudanças, como uma forma diferente de executar melhor uma tarefa corriqueira ou um novo jeito de interagir com colegas e clientes. Ela pode ser usada para pensar novas realidades e novas referências. Para pensar diferente dentro e fora da caixa, você faz uso da criatividade.

Não é algo trivial. Todos somos criativos, mas sabemos que já fomos mais, possivelmente na infância. Mas os caminhos da vida e o amadurecimento acabaram deixando isso para trás. Tudo em nome da necessidade de se adaptar a uma cultura de trabalho pragmática, especializada, padronizada e avessa a mudanças.

Todo mundo é criativo, de alguma maneira, no dia a dia. Nossa cultura organizacional normalmente não entende o processo criativo como algo que faça parte do trabalho. Muitas vezes, nossos momentos de maior potencial criativo acontecem fora do contexto de trabalho. Por isso, trazer a experiência artística para dentro das organizações não é só “legal” ou “diferente”, é necessário e imperativo.

Outro aspecto fundamental que a arte suscita é a necessidade que temos de criar ambientes mais seguros de expressão e experimentação. O maior inimigo da criatividade é a resistência à mudança e o medo de errar. Muitas vezes se dar a abertura por alguns minutos para viajar completamente e sem censuras é o que permite retornar minutos depois com algumas ideias que talvez não sejam tão absurdas assim. Mas você só chegou a elas porque se deu a liberdade de ter um momento de expressão autêntica e inocente.

Esse convite para a contemplação da arte é também um convite para ressignificarmos todo o mundo conhecido à nossa volta – pois, de forma semelhante, podemos construir um fluxo de novas perspectivas com os eventos que fazem parte de nossa rotina. O óbvio só se torna óbvio, previsível e maçante porque ficamos presos a um modo viciado de enxergá-lo, como se fosse uma composição estática. Basta um novo olhar, uma nova percepção, e tudo ao redor pode mudar.

A certeza de que a transformação que observamos acontecer à nossa frente é reflexo de uma outra transformação, que está acontecendo dentro de nós. Existe uma relação reflexiva entre nossa dimensão mais íntima e a forma como percebemos e construímos o mundo que nos envolve. Mexer com um dos lados necessariamente provoca mudanças significativas no outro.

Por esses motivos, estamos reinventando na ZIV o conceito de galeria de arte e tudo o que é possível transformar por meio da experiência da arte. Não é à toa que foi um dos assuntos que mais se destacou na programação do SXSW deste ano. Em um mundo de transformações incertas e constantes, a única razão para nos mantermos vivos e relevantes está na nossa capacidade de criar novos significados, experiências e mundos possíveis. Sempre.

__Leia mais: [Qual é a liderança-chave no pós-pandemia](https://www.revistahsm.com.br/post/qual-e-a-lideranca-chave-no-pos-pandemia)__

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Transformação Digital
A preocupação com o RH atual é crescente e fizemos questão de questionar alguns pontos viscerais existentes que Ricardo Maravalhas, CEO da DPOnet, trouxe com clareza e paciência.

HSM Management

Uncategorized
A saúde mental da mulher brasileira enfrenta desafios complexos, exacerbados por sobrecarga de responsabilidades, desigualdade de gênero e falta de apoio, exigindo ações urgentes para promover equilíbrio e bem-estar.

Letícia de Oliveira Alves e Ana Paula Moura Rodrigues

ESG
A crescente frequência de desastres naturais destaca a importância crucial de uma gestão hídrica urbana eficaz, com as "cidades-esponja" emergindo como soluções inovadoras para enfrentar os desafios climáticos globais e promover a resiliência urbana.

Guilherme Hoppe

Gestão de Pessoas
Como podemos entender e praticar o verdadeiro networking para nos beneficiar!

Galo Lopez

Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança
Na coluna deste mês, Alexandre Waclawovsky explora o impacto das lideranças autoritárias e como os colaboradores estão percebendo seu próprio impacto no trabalho.

Alexandre Waclawovsky

Marketing Business Driven, Comunidades: Marketing Makers, Marketing e vendas
Eis que Philip Kotler lança, com outros colegas, o livro “Marketing H2H: A Jornada do Marketing Human to Human” e eu me lembro desse tema ser tão especial para mim que falei sobre ele no meu primeiro artigo publicado no Linkedin, em 2018. Mas, o que será que mudou de lá para cá?

Juliana Burza

Transformação Digital, ESG
A inteligência artificial (IA) está no centro de uma das maiores revoluções tecnológicas da nossa era, transformando indústrias e redefinindo modelos de negócios. No entanto, é crucial perguntar: a sua estratégia de IA é um movimento desesperado para agradar o mercado ou uma abordagem estruturada, com métricas claras e foco em resultados concretos?

Marcelo Murilo

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
Com a informação se tornando uma commoditie crucial, as organizações que não adotarem uma cultura data-driven, que utiliza dados para orientar decisões e estratégias, vão ficar pelo caminho. Entenda estratégias que podem te ajudar neste processo!

Felipe Mello

Gestão de Pessoas
Conheça o framework SHIFT pela consultora da HSM, Carol Olinda.

Carol Olinda

Melhores para o Brasil 2022
Entenda como você pode criar pontes para o futuro pós-pandemia, nos Highlights de uma conversa entre Marina gorbis, do iftf, e Martha gabriel

Martha Gabriel e Marina Gorbis