As redes sociais mudaram o mundo, mas talvez tenhamos perdido algo essencial no caminho: a capacidade de nos conectarmos de verdade. Já percebeu como levantamos mais assuntos sobre como as redes sociais são maléficas para nossa mente e saúde? Onde foi parar a ideia de comunidade e alimentação mútua? Praticidade nas relações e criações de vínculos?
Em um painel recente no SXSW 2025, Evan Williams (fundador do Twitter, Medium e Blogger), Molly Wilson (cofundadora da Mozi) e Baratunde Thurston debateram como as redes sociais passaram de espaços de conexão para máquinas de engajamento e consumo. A conclusão? Talvez seja hora de repensarmos o que significa ser “social” na era digital.
Se medirmos o sucesso das redes sociais pelo tempo que passamos rolando feeds, elas foram um triunfo. Mas se a métrica for a profundidade dos nossos relacionamentos, estamos em crise. Como destacou Baratunde Thurston, “seu desejo de se conectar foi sequestrado por um sistema que te ensina a consumir”.
O modelo de negócio das redes sociais, baseado em anúncios e engajamento, transformou a interação humana em um produto. Em vez de fortalecer laços, as plataformas priorizam o que mantém os usuários online por mais tempo. O resultado é um ciclo vicioso: a vontade de se conectar é substituída pelo impulso de consumir conteúdo, muitas vezes superficial e desconectado da realidade.
Evan Williams apontou que a própria estrutura das redes sociais incentiva a superficialidade. O modelo de “seguir” alguém cria um viés de consumo, não de troca. Quando o algoritmo decide o que você vê, a conexão genuína fica em segundo plano. “O maior erro das redes sociais foi transformar todo mundo em um criador de conteúdo”, afirmou Williams.
Essa dinâmica não apenas esvazia as interações, mas também gera ansiedade e comparação. Como Molly Wilson destacou, “se você sai de uma rede social se sentindo pior do que entrou, talvez ela não seja tão social assim”.
Diante desse cenário, Molly Wilson e Evan Williams criaram a Mozi, uma rede privada focada em conexões reais. Diferente das redes tradicionais, a Mozi não usa algoritmos para empurrar conteúdo ou pressionar os usuários a performar online. A ideia é simples: saber onde seus amigos estão e facilitar encontros no mundo real.
“Conexão de verdade não acontece no feed, acontece na vida real”, disse Molly. A Mozi representa uma espécie de “anti-rede social”, onde o objetivo não é viralizar, mas reconectar pessoas sem transformar a interação em espetáculo.
Mas como fazer essa oportunidade funcionar?
Um dos grandes desafios da Mozi é monetizar sem cair nas mesmas armadilhas das redes tradicionais. O plano é um modelo “freemium”, sem anúncios ou venda de dados, inspirado em apps como Strava ou plataformas de meditação. A questão é: as pessoas estão dispostas a pagar por algo que sempre foi gratuito?
Para Evan Williams, a resposta pode estar na oferta de valor real. “O problema das redes não é só o algoritmo, mas o fato de que ele substituiu nossas decisões”. Ao devolver o controle aos usuários, a Mozi busca criar uma experiência mais autêntica e significativa.
O painel deixou claro que as redes sociais, como as conhecemos hoje, estão em um impasse. Se, por um lado, elas democratizaram a comunicação, por outro, transformaram a interação humana em um produto. A Mozi e iniciativas semelhantes sugerem que há espaço para um novo modelo, onde a conexão real seja prioridade.
Mas o maior desafio ainda é a escala. Como criar uma rede social que não se transforme em mídia de massa? Como garantir que a tecnologia sirva para aproximar, e não para afastar? Essas são perguntas que todos nós, como usuários e criadores, precisamos responder.