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A corrida americana pela bateria de lítio

Ainda não se sabe qual tecnologia de baterias para carros elétricos vai prevalecer: o Brasil tem trabalhado em células com chumbo-ácido, cada vez mais competitivas, enquanto outros países apostam em células de íons de lítio
Bryant Jones investiga como a sociedade, a economia, a política e a tecnologia influenciam a contínua transição de energia limpa e de baixo carbono que ocorre em todo o mundo, com foco específico em tecnologias de energia geotérmica. Michael McKibben é geólogo, trabalhou na extração mineral de salmouras encontradas em fendas continentais ativas, fontes termais do fundo do mar e minérios hidrotermais.

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A energia geotérmica é uma das integrantes menos conhecidas da família da energia limpa. Apesar de seu potencial comprovado, é ofuscada pelas energias solar e eólica, relativamente mais baratas. Um motivo inesperado, porém, pode mudar essa situação em breve, pois a tecnologia geotérmica está prestes a liberar grandes quantidades de lítio de salmouras aquecidas, um recurso natural de locais como Salton Sea, na Califórnia.

O lítio é essencial para as baterias que alimentam veículos elétricos e garantem armazenamento de energia, cuja demanda está aumentando rapidamente, e os EUA são muito dependentes das importações de países como Argentina, Chile, Rússia e China. Essa tecnologia pode reforçar a cadeia de fornecimento de minerais críticos do país em um momento em que as preocupações com a segurança de supply chain estão aumentando e, ainda, com implicações na segurança energética e mineral e na geopolítica.

## Salmouras geotérmicas
As usinas geotérmicas usam o calor da Terra para produzir vapor, que aciona as turbinas e gera eletricidade. Mas elas têm outro subproduto: uma solução salina complexa que sai do subsolo, onde é aquecida e enriquecida com minerais como lítio, manganês, zinco, potássio e boro. O líquido concentrado depois que calor e vapor são extraídos se torna salmouras geotérmicas que, nas plantas de Salton Sea, apresentam altas concentrações de sólidos dissolvidos.

Se os testes em andamento provarem que o lítio para baterias pode ser extraído dessas salmouras com viabilidade econômica, as 11 usinas geotérmicas existentes ao longo de Salton Sea teriam o potencial de produzir lítio suficiente para atender cerca de 10 vezes a demanda atual dos EUA. Hoje, elas geram cerca de 432 megawatts de eletricidade e podem vir a produzir cerca de 20 mil toneladas métricas de lítio por ano, com valor superior a US$ 5 bilhões por ano.

## Riscos geopolíticos na cadeia de fornecimento de lítio
As atuais cadeias de fornecimento de lítio estão repletas de incertezas, representando um risco para a segurança mineral dos EUA. A guerra da Rússia na Ucrânia e a competição com a China (e a estreita relação desta com a Rússia) ressaltam as implicações geopolíticas dessa tecnologia. Afinal, a China é a atual líder no processamento de lítio e adquire reservas de outros grandes produtores.

Novas fontes domésticas de lítio podem melhorar a segurança energética e mineral para os EUA e seus aliados. Atualmente há uma instalação de produção de lítio no país, em Nevada. Ela extrai líquido salino e concentra o lítio a partir da evaporação da água em grandes lagoas rasas. Em contraste, a extração de lítio durante a produção de energia geotérmica devolve a água e as salmouras à Terra.

## Fortalecendo as energias limpas
Hoje, a energia geotérmica representa menos de 0,5% da geração de eletricidade nos EUA. Uma razão pela qual continua sendo uma tecnologia estagnada no país é a falta de apoio político forte. Resultados preliminares de pesquisas indicam que parte do problema está enraizado em divergências entre as próprias empresas geotérmicas mais antigas e mais novas e em sua relação com legisladores, investidores, mídia e público.

Essa ampliação seria bem-vinda em diversos sentidos. No campo da segurança energética, a fonte geotérmica complementa a solar e a eólica, por ser uma opção de energia de carga básica (que é constante, ao contrário da luz do sol e do vento). Ela abre, ainda, uma alternativa para os trabalhadores de petróleo, gás e carvão migrarem para uma economia de energia limpa.

A indústria pode se beneficiar de políticas como fundos de mitigação de risco, que reduzem custos de exploração, programas de subsídios para inovação, contratos de energia de longo prazo e incentivos fiscais.

Adicionar a produção de metais críticos como lítio, manganês e zinco a partir de salmouras geotérmicas pode fornecer aos operadores de energia elétrica geotérmica uma nova vantagem competitiva e ajudar a colocar essa alternativa na agenda política.

Essas tendências parecem caminhar na direção certa na Califórnia. Em fevereiro, a Comissão de Serviços Públicos adotou um novo plano que incentiva o estado a desenvolver 1.160 megawatts de nova eletricidade geotérmica. Isso está no topo de uma decisão de 2021 de adquirir 1.000 megawatts de recursos de geração firme, renováveis e de emissão zero com um fator de capacidade de 80%. Algo que só é possível com a expansão da tecnologia geotérmica.

Tais decisões tinham o objetivo principal de complementar as fontes de energia solar e eólica, e aposentar a usina nuclear de Diablo Canyon. Mas podem ter aberto a oportunidade da energia geotérmica deixar de ser a prima pobre e esquecida das fontes renováveis. Com o bônus de reforçar o abastecimento de lítio no mundo.

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