Cultura organizacional

A inclusão obrigatória de medicamentos nos planos de saúde afeta as empresas?

A resposta é sim. Mas as organizações não devem ficar esperando o impacto dessa decisão da ANS no custo do plano de saúde de seus colaboradores, é preciso agir e ter um bom processo de gestão
Karen de Boer é diretora operacional da Safe Care, empresa especializada na área de gestão de benefício saúde que oferece soluções completas de administração e consultoria em saúde.

Compartilhar:

Recentemente, a Agência Nacional de Saúde (ANS) anunciou a inclusão de mais quatro medicamentos no rol de coberturas obrigatórias dos planos de saúde. Apesar da medida ser direcionada às operadoras e seguradoras de plano de saúde, certamente haverá impacto direto nas empresas e na gestão da saúde dentro destas companhias. Do ponto de vista humano, a cobertura é fantástica; já do ponto de vista da saúde financeira das operadoras e desses impactos nos custos da manutenção do plano de saúde pelas empresas existe ainda uma grande discussão do efeito positivo da medida.

Afinal, esta decisão é boa ou ruim? Tenho escutado essa pergunta com uma enorme frequência desde o anúncio da ANS, e a verdade é que considero um grande avanço do ponto de vista do cuidar das pessoas. A saúde está sempre em primeiro lugar, e ter acesso a medicamentos, exames e qualquer tipo de recurso que assegure o direito do usuário do plano de saúde é essencial.

Mas, por outro, lado, as empresas não precisam ficar de braços cruzados apenas esperando o impacto dessa medida no custo do plano de saúde de seus colaboradores, é preciso agir, ter processo de gestão para o bom uso do plano para que não haja nenhum tipo de equívoco, processos truncados ou desperdícios de qualquer ordem.

Tudo isso ajuda na saúde financeira, na previsibilidade de gastos, nos altos índices de sinistralidade e, consequentemente, nos abusos dos reajustes das apólices de seguro-saúde. Para isso, é preciso fazer gestão, acompanhar indicadores de utilização, verificar dados, números, inteligência de dados com BI para enxergar a utilização do benefício dentro da companhia, fazendo seu uso de forma humana, correta, racional e justa para quem usa e para quem paga pelo benefício.

Existem, claro, várias especulações no mercado de que os planos de saúde podem aumentar os preços, pois um dos medicamentos, o que é indicado para atrofia muscular espinhal, por exemplo, é um dos tratamentos mais caros do mundo e, segundo as operadoras, não há como absorver o seu custo sem impactar no preço dos planos no mercado. Hoje existem aproximadamente 700 operadoras e, sem dúvida, boa parte delas sentirá muito o impacto do custo da compra desses medicamentos.

Ou seja, a decisão pode sim afetar diretamente quem contrata um plano de saúde e, no caso das empresas que oferecem esse benefício para os seus funcionários, o aumento poderá ter um impacto significativo nas finanças da companhia. E perceba, não é de hoje, esses custos já eram altos antes da medida recém anunciada pela ANS. Sabe-se que os gastos com o benefício saúde dos colaboradores é o segundo maior custo para as empresas, ficando atrás apenas da folha de pagamento.

Não existe neste momento a melhor equação para resolver o anúncio dessa nova resolução, mas o mercado terá de, alguma forma, se adaptar, buscando medidas multidirecionais para não ter que sacrificar a saúde em prol da manutenção do mercado ou vice-versa; de não fazer do direito à saúde um vilão para a saúde financeira das empresas.

Até a implementação na prática da nova medida, as empresas precisam revisitar seus KPIs de gestão de saúde, implementado tecnologia, processos e ferramentas para equacionar ainda mais a utilização do benefício de forma a atender colaboradores e a si própria como negócio, trazendo tecnologia, previsibilidade de gastos, ajustes de rotas, programas de manutenção de saúde etc.

Não há como escolher um lado, é preciso encontrar o meio para ligar os dois extremos, considerando e priorizando as pessoas e as empresas para que as mesmas consigam manter o benefício saúde para seus colaboradores, mas que se mantenham saudáveis e perenes do ponto de vista financeiro também. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas é possível percorrê-lo com sensibilidade e inteligência.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Empreendedorismo
Alinhando estratégia, cultura organizacional e gestão da demanda, a indústria farmacêutica pode superar desafios macroeconômicos e garantir crescimento sustentável.

Ricardo Borgatti

5 min de leitura
Empreendedorismo
A Geração Z não está apenas entrando no mercado de trabalho — está reescrevendo suas regras. Entre o choque de valores com lideranças tradicionais, a crise da saúde mental e a busca por propósito, as empresas enfrentam um desafio inédito: adaptar-se ou tornar-se irrelevantes.

Átila Persici

8 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A matemática, a gramática e a lógica sempre foram fundamentais para o desenvolvimento humano. Agora, diante da ascensão da IA, elas se tornam ainda mais cruciais—não apenas para criar a tecnologia, mas para compreendê-la, usá-la e garantir que ela impulsione a sociedade de forma equitativa.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG
Compreenda como a parceria entre Livelo e Specialisterne está transformando o ambiente corporativo pela inovação e inclusão

Marcelo Vitoriano

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O anúncio do Majorana 1, chip da Microsoft que promete resolver um dos maiores desafios do setor – a estabilidade dos qubits –, pode marcar o início de uma nova era. Se bem-sucedido, esse avanço pode destravar aplicações transformadoras em segurança digital, descoberta de medicamentos e otimização industrial. Mas será que estamos realmente próximos da disrupção ou a computação quântica seguirá sendo uma promessa distante?

Leandro Mattos

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Entenda como a ReRe, ao investigar dados sobre resíduos sólidos e circularidade, enfrenta obstáculos diários no uso sustentável de IA, por isso está apostando em abordagens contraintuitivas e na validação rigorosa de hipóteses. A Inteligência Artificial promete transformar setores inteiros, mas sua aplicação em países em desenvolvimento enfrenta desafios estruturais profundos.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura