Desenvolvimento pessoal

A inteligência dos pequenos avanços profissionais

Como é possível, na prática, manter uma atitude atenta, aberta e direcionada ao aprimoramento profissional
Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

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As mudanças significativas, em qualquer aspecto da vida, são sempre graduais: ocorrem lentamente, uma gota de cada vez. Um rio não é poluído em uma tarde, mas em anos de despejo de substâncias químicas que terminam por contaminá-lo. Uma grande empresa não quebra de uma vez, mas com o acúmulo de decisões erradas que conduzem à bancarrota. 

Claudio Galeazzi, conhecido pelas reestruturações que realizou em grandes empresas brasileiras, destaca que a incapacidade em repensar continuamente o próprio trabalho é causa de inúmeros fracassos profissionais: “quem não se repensa, quebra”. Segundo Galeazzi, a maioria das empresas brasileiras do século passado que não valorizou a revisão de procedimentos quebrou: “Mesbla, Mappin, TV Manchete, Banco Bamerindus, Arapuã, Varig… gigantes que foram consideradas ‘empresas do ano’ e, ironicamente, quebraram no ano seguinte”. Assim, as más mudanças são como goteiras: os pingos de letargia podem se acumular, gerando infiltrações que resultam no desabamento do “teto” profissional. 

Mas a mesma constatação é válida no aspecto positivo: as boas mudanças são como uma poupança: de moeda em moeda, de rendimento em rendimento, é construído um sólido patrimônio para o futuro. James Clear, autor do best-seller do New York Times Atomic Habits (Hábitos atômicos) afirma que o crescimento gradual oferece três vantagens: (1) ensina o valor dos nossos pontos fortes; (2) remove a pressão exercida por outros; (3) revela como as mudanças realmente acontecem em nossas vidas. É uma armadilha supervalorizar momentos únicos em detrimento do conjunto de mudanças graduais que fundamentam as grandes transformações. Portanto, repensar a carreira não deve ser uma atitude isolada para momentos críticos, mas um hábito integrado aos afazeres diários. 

A pergunta que se levanta é clara: como é possível, na prática, manter uma atitude atenta, aberta e direcionada ao aprimoramento? Nossas vidas já são tão corridas, tão atarefadas, tão cansativas. Como manter um crescimento pessoal contínuo? O segredo é discreto: precisamos reconhecer a lógica dos investimentos de médio e longo prazo, e realizar pequenos avanços. Não sucumba ao imediatismo. Não subestime as melhorias graduais. Uma gestão sensata da carreira não cai em extremos: nem se desespera com a necessidade de mudar, nem despreza a importância das pequenas mudanças.

Três estratégias de slow growth
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Baseados nestes princípios, podemos apontar três aspectos da carreira que podem ser gradualmente melhorados, otimizados, gerando horizontes promissores no curso do tempo. São estratégias de “slow growth” (crescimento lento) aplicáveis a qualquer carreira:

### 1) Supere pouco a pouco seu próprio desempenho profissional

A comparação obsessiva e acrítica com a performance dos outros é pura ingenuidade, assim como o comodismo. Não seja escravo da opinião alheia, mas também não se acomode com seus próprios padrões. Uma atitude básica a ser cultivada no longo termo é o aprimoramento gradual da sua própria performance profissional. Estabeleça pequenas metas para você mesmo. Aperfeiçoe ao menos um dos fatores da sua produção. Ainda que o trabalho não exija melhores desempenhos de você, mantenha sua mente atenta. 

Ferdinand Fournies, renomado consultor em vendas, afirma que os profissionais eficientes ampliam suas possibilidades quando param de adular a si próprios – dizendo “você é o máximo” – e passam a ponderar pacientemente – “você pode melhorar”. Neste ano de Olimpíadas em Tóquio vale ressaltar a lógica dos atletas de alto rendimento: não se conquista medalha com algumas semanas de treinamento intensivo.

### 2) Leia e pesquise continuamente sobre sua área de atuação

Pequenas inércias prejudicam gradualmente uma carreira profissional até torná-la obsoleta. Em 2005, Steve Jobs encerrou seu [célebre discurso](https://www.youtube.com/watch?v=UF8uR6Z6KLc) aos formandos da Universidade Stanford, dizendo: “mantenham-se famintos, mantenham-se tolos”. Jamais se considere um sabe-tudo. É necessário usar melhor o tempo livre e atualizar leituras, pesquisar sites nacionais e estrangeiros, assistir a documentários úteis, ouvir podcasts inspiradores, adquirir revistas especializadas de sua área de atuação. 

Vale a pena investir tempo selecionando conteúdos pertinentes, e distribuindo-os pela agenda semestral. Estabeleça um plano de assimilação de conteúdos compatível com sua rotina e realidade. É melhor uma boa reportagem lida, do que um grande livro fechado. Se, por alguma razão, não é possível fazer um curso de especialização no momento, participe de uma boa palestra. O ponto central é: atualize-se um pouco, sempre.

### 3) Assimile gradualmente as macrotendências do mercado

Todo mundo sabe o quanto é difícil acompanhar todas as tendências do mercado financeiro, dos hábitos de consumo e da cultura contemporânea. Contudo, apesar do caráter volátil e instável da sociedade global, existem mudanças que chegam para ficar; são mudanças estruturais. A gestão da carreira deve levar isso em conta. Estar inteirado dos temas de longo prazo é elementar, não existem atalhos, não adianta negar a realidade. 

Por exemplo: Jonathan Portes, professor de economia do King’s College em Londres, afirma que os trabalhadores devem levar a sério o fato de que as grandes empresas empregarão cada vez menos força de trabalho: “a General Motors empregou 600 mil pessoas em 1979, enquanto a equipe total do Google hoje é de apenas 60 mil”. Segundo Portes, as grandes firmas de tecnologia tendem a expandir seu capital com softwares, não com empregos. 

Ao invés de negar o fato de que as mudanças ocorrerão, ou fingir que elas não existem, é mais inteligente assimilar gradualmente as novas regras do jogo. Eric Shinseki, general do exército americano, disse: “Se você não gosta da mudança, vai gostar ainda menos da irrelevância”. Portanto, assimile aos poucos as grandes mudanças do mercado e da sociedade, não deixe para depois.

Melhore um pouco todos os dias e aumente sua competência e assertividade profissional. São as mudanças graduais que geram as mais importantes revoluções individuais e coletivas. Como afirmou Viola Davis, atriz vencedora do Oscar: “Tudo o que você precisa fazer é mover as pessoas só um pouquinho para as mudanças acontecerem. Não precisa ser algo enorme”.

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Augusto é Diretor de Relações Institucionais do Instituto Four, Coordenador da Lifeshape Brasil, Professor convidado da Fundação Dom Cabral, criador da certificação Designer de Carreira e produtor do Documentário Propósito Davi Lago é coordenador de pesquisa no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor de pós-graduação na FAAP e autor best-seller de obras como “Um Dia Sem Reclamar” (Citadel) e “Formigas” (MC). Apresentador do programa Futuro Imediato na Univesp/TV Cultura

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