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Além do conflito: como as gerações podem moldar o futuro do mercado de trabalho de maneira mais sustentável

Geração Beta, conflitos ou sistema defasado? O verdadeiro choque não está entre gerações, mas entre um modelo de trabalho do século XX e profissionais do século XXI que exigem propósito, diversidade e adaptação urgent
Diretor Associado na FESA Group.

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Neste início de 2025, fui inundado nas redes sociais sobre a criação da Geração Beta. Ainda não é consenso se esse novo grupo de indivíduos será composto pelos nascidos a partir de 2020 ou de 2025, mas o debate vem ganhando cada vez mais relevância, tornando-se tema de programas na TV e despertando curiosidade dos telespectadores.

Já acompanhava o debate e sempre me chamou atenção o fato de que, muitas vezes, quando a palavra “geração” é mencionada, ela vem acompanhada do termo “conflito”, de maneira negativa, como uma disputa entre diferentes grupos. Os conflitos geracionais existem desde que mundo é mundo e foram fundamentais para o desenvolvimento de novas tecnologias e a construção da sociedade na qual vivemos hoje.

Desde os anos 40, que marca o início da geração dos Baby Boomers Iniciais – a primeira denominação amplamente difundida – muitas novidades surgiram. O mercado de trabalho passou por mudanças, a economia brasileira enfrentou momentos de expansão e otimismo, assim como períodos de recessão e crise. Em meio a essas transformações, novas gerações foram inseridas, trazendo suas visões de mundo e opiniões ao ambiente corporativo.

Esse é um detalhe importante no debate sobre conflitos geracionais. Por exemplo, na geração dos Baby Boomers Iniciais, nascidos até 1964, os trabalhadores médios eram, em sua maioria, homens brancos, de baixa escolaridade, muitos ainda analfabetos, e a diversidade era um conceito inexistente, com ascensão social quase nula. Pouco mudou na geração seguinte, os “X”, com o cenário começando a ter alterações com a entrada dos Millenials no mercado de trabalho. Esses profissionais viveram em uma época de recessões, hiperinflação e redemocratização, mas também presenciaram avanços reais em direitos trabalhistas e igualdade de gênero com a promulgação da Constituição de 1988.

Logo em seguida, temos o início de um novo milênio, que ocorre junto à chegada de termos como globalização e revolução digital no vocabulário do mercado de trabalho. Com essas mudanças, o começo dos anos 2000 marca a chegada da geração Z, que, a partir de 2010, começou a dar seus primeiros passos no mercado profissional, transformando o trabalhador médio em um perfil mais qualificado e digitalmente conectado, enquanto a diversidade se tornou uma pauta corporativa, com iniciativas para inclusão de mulheres, negros, LGBTQIA+ e PcDs no ambiente profissional.

Dessa forma, temos um panorama sobre o momento do mercado de trabalho nos períodos em que cada geração surgiu e como a entrada delas no cenário profissional impactou diretamente as mudanças corporativas, gerando rupturas ideológicas. Contudo, se definimos diferentes gerações desde a quarta década do último século, por que atualmente a mudança entre elas tem se tornado tão gritante?

A verdade é que o mercado de trabalho brasileiro passou por muitas fases ao longo destes quase 90 anos, vivendo períodos de crescimento industrial e expansão da urbanização, como entre 1940 e 1960; o milagre econômico e a crise da ditadura nos anos de 1960 a 1980; o processo de redemocratização, recessão econômica e hiperinflação entre 1981 e 1996; e a chegada de um novo milênio com o desenvolvimento de tecnologias, expansão da qualificação profissional e a globalização em massa. Mais recentemente, a automação e a implementação de inteligências artificiais moldaram um novo panorama profissional, assim como a pandemia possibilitou o desenvolvimento de novos modelos de trabalho.

Todas essas mudanças criaram diferentes visões de mundo entre os profissionais, com a inclusão e diversidade se tornando cada vez mais importantes, ao mesmo tempo em que o país viveu diferentes ciclos de crescimento econômico. Entretanto, a criação de novas vagas no mercado não acompanhou o mesmo ritmo acelerado da entrada dos novos trabalhadores.

A combinação entre tantas novidades e a chegada de muitos profissionais novos ao mercado de trabalho resultou em altos índices de informalidade, desemprego estrutural e dificuldades para parcelas populacionais historicamente excluídas do cenário profissional, como negros e mulheres.

Dessa forma, a reflexão que enxergo como necessária vai além do “conflito de gerações”. Ela envolve também entendermos se o modelo de trabalho que temos hoje acompanhou as mudanças profissionais no Brasil ou se está estagnado em um sistema defasado, que segue vigente desde o último século.

Será que temos, de fato, um “conflito de gerações” ou um modelo de trabalho que não evoluiu e precisa urgentemente discutir novos temas? Até quando o modelo atual será sustentável, se é que ele ainda é sustentável, uma vez que já apresenta sinais de ruptura, com as gerações mais jovens buscando propósito no trabalho, enquanto as empresas precisam constantemente se adaptar para reter talentos cada vez mais exigentes e dinâmicos?

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