Uncategorized

Amazon, no topo da cadeia alimentar

Entenda a real ambição da maior varejista online do mundo com a compra da Whole Foods Market: mudar o segmento de alimentos

Compartilhar:

Quando, em 2007, a Amazon realizou um evento de teste, só para convidados, de um serviço de entrega de alimentos frescos, ninguém poderia prever que aquele era o início do caminho que a levaria à aquisição, por US$ 13,7 bilhões, da Whole Foods Market, especializada em produtos orgânicos e naturais. 

O acordo de compra foi anunciado pela Amazon em junho e o provável é que seu presidente, Jeff Bezos, o veja como apenas mais um passo na trajetória traçada. Isso porque as ambições da Amazon são exponencialmente mais amplas do que o faturamento anual de US$ 16 bilhões da Whole Foods. 

Daqui a uma década, a Amazon pode vir a ser reconhecida por ter transformado a maneira como as pessoas em várias partes do mundo passaram a comprar produtos alimentícios. Para a empresa, os perecíveis representam muito mais do que a oportunidade de vencer o Walmart. É uma oportunidade de repensar todo o processo de fornecimento e distribuição de alimentos.

“Você não pode inovar se não está disposto a pensar no longo prazo”, já afirmou Bezos em uma entrevista à _Fast Company_. O laboratório de testes da Amazon, no que diz respeito à comercialização de alimentos, é agora global: em praticamente todas as cidades em que a Amazon possui uma central de atendimento, será possível entregar esse tipo de produto também. “Onde há uma central de atendimento existe a possibilidade de expansão”, disse em entrevista Doug Herrington, VP de consumíveis. 

Nos últimos dois anos, a Amazon lançou iniciativas envolvendo alimentos no Reino Unido, na Espanha, na França, na Alemanha e no Japão. Toda essa movimentação busca subverter décadas, talvez séculos, de comportamentos arraigados em relação à alimentação. 

Em Milão, na Itália, por exemplo, a empresa entrega, por meio do aplicativo Prime Now, 30 tipos de frutas e verduras, produtos que tradicionalmente seriam comprados em feiras livres. 

Em junho do ano passado, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, publicou um comunicado de imprensa sobre o lançamento do Prime Now, que prometia entregar alimentos frescos e congelados. Ela questionava não só o impacto que a novidade teria sobre os negócios locais, mas também se a Amazon poderia garantir que seu serviço não aumentaria os problemas de poluição da cidade. 

Em dezembro, a rede francesa Monoprix produziu um anúncio de televisão imitando a campanha da Amazon. Em sua versão, o supermercado local proclamava com orgulho: “Não precisamos de um aplicativo para ir às compras”. 

Mais recentemente, circularam informações de que a cidade indiana de Nova Déli vai garantir que a Amazon opere com o serviço de entrega de gêneros alimentícios. Também na Índia, há notícias de uma possível aquisição pela empresa da BigBasket, a maior “mercearia online” do país. 

Uma das exigências do governo indiano para autorizar companhias estrangeiras a comercializar gêneros alimentícios é que elas ofereçam artigos de produtores locais. E esse é um desafio que a Amazon está mais do que pronta para superar com sua promessa – a transparência. 

**TRANSPARÊNCIA**

“Há um conjunto relativamente grande de consumidores que realmente se importam com a cadeia de fornecimento quando se trata de algo que vão ingerir, colocar sobre o corpo ou dar para seus filhos”, comentou Bezos em entrevista. 

A abordagem da Amazon para tornar essa cadeia de fornecimento mais transparente pode ser comprovada na linha de produtos premium chamada “Elements”, que inclui de suplementos vitamínicos a lenços umedecidos para bebês. Os artigos vêm com um código que permite aos clientes conhecer detalhes das matérias-primas utilizadas, entre os quais o local de origem. 

Desse ponto de vista, a aquisição da Whole Foods, que tem os produtos orgânicos como bandeira, encaixa-se bem na filosofia da Amazon. Mas até onde Bezos está disposto a ir? “Não vamos produzir nada”, garante ele. “Vamos contratar empresas especializadas, mas queremos monitorar, e tornar visível para os consumidores, como os produtos são feitos e de onde vêm as matérias-primas”, acrescenta. 

Agora, imagine a Amazon fazendo isso no mundo inteiro. Assim como desenvolveu um sistema operacional para o e-commerce, a empresa agora está posicionada para fazer o mesmo no que diz respeito à cadeia de fornecimento do segmento de alimentos. 

Isso vai permitir a Bezos oferecer produtos de maior qualidade, mais seguros e mais baratos em qualquer lugar do planeta. Mesmo que a aquisição da Whole Foods se mostre um experimento malsucedido, a maior varejista online do mundo vai aprender muita coisa com ela, reunindo toneladas de dados valiosos e aproximando-se muito mais do objetivo de atender a todos os desejos de seus clientes.

Compartilhar:

Artigos relacionados

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas
Um convite para refletir sobre como empresas e líderes podem se adaptar à nova mentalidade da Geração Z, que valoriza propósito, flexibilidade e experiências diversificadas em detrimento de planos de carreira tradicionais, e como isso impacta a cultura corporativa e a gestão do talento.

Valeria Oliveira

6 min de leitura
Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura