Empreendedorismo
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Cadê a intencionalidade que tava aqui? Ou deveria estar

A intencionalidade não é a solução para tudo, mas é o que transforma escolhas em estratégias e nos permite navegar a vida com mais clareza e propósito.
Empreendedora premiada e apaixonada por educação, Isabela Corrêa é especialista em transformar desafios em inovação. Com mais de 10 anos de experiência em consultoria estratégica e 6 anos dedicados ao empreendedorismo em Educação Corporativa e RH, liderou a edtech B.Nous, reconhecida pelo Startup Awards, e realizou um exit estratégico em 2023. Hoje, à frente da People Strat, conecta aprendizado, propósito e inovação para criar soluções humanas e fora da caixa. É embaixadora de Lifelong Learning no hub Learning Village, onde atua pelo segundo ano consecutivo. Formada em Engenharia de Produção e mestre em Educação e Políticas Públicas pela UFRJ, é referência no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, inovação em educação e uso de novas tecnologias.

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Ideias, organização

Ao longo da minha jornada como empreendedora e facilitadora de soft skills, uma pergunta ressoa na minha mente há anos: Como tomamos melhores decisões a respeito da nossa carreira – e por que não da nossa vida? Essa pergunta me levou a refletir profundamente sobre o papel da intencionalidade no desenvolvimento profissional e pessoal das pessoas.

Começando a reflexão do início, tenho uma grande crítica ao modelo tradicional de educação, no qual não somos ensinados a ser críticos, a nos conhecermos verdadeiramente e a decidir nosso próprio caminho. Muitas vezes, as escolhas são influenciadas por pessoas ao nosso redor, mesmo quando começamos a desenvolver capacidades cognitivas para tomar decisões por conta própria. Esse cenário se torna especialmente desafiador no momento de escolher a faculdade, uma decisão que pesa desproporcionalmente na vida de um adolescente. Muitos jovens acreditam que essa será sua última grande decisão, esquecendo que, na verdade, continuamos a tomar decisões diariamente que moldam nosso futuro.

Então, como fazemos melhores escolhas para o nosso crescimento e desenvolvimento profissional? Continuamos a enfrentar decisões que impactam nossas carreiras, desde a escolha da empresa onde trabalhamos, a forma como nos apresentamos no ambiente profissional, a rotina diária, os projetos que escolhemos ou deixamos de lado, e até mesmo quando decidimos dizer “não” para a liderança ou pedir mudanças para outras áreas. O problema de tomar decisões está sempre presente, e é aí que a intencionalidade se torna crucial. A intencionalidade faz com que uma decisão hoje gere externalidades positivas no futuro; quando tenho uma intenção clara no processo de aprendizagem, minhas ações se tornam muito mais conscientes.

E a consciência, por sua vez, ajuda porque, na hora do desafio, da mudança inesperada ou da incerteza, eu consigo tomar melhores decisões porque estou consciente da intenção inicial, e assim não deixo a vida me levar. Imagine a intencionalidade como o leme de um barco. Sem um leme firme e direcionado, o barco pode ser levado pelas correntes e ventos, sem um destino claro. Da mesma forma, sem intencionalidade, nossas ações e decisões podem se dispersar, resultando em resultados imprevisíveis e, por vezes, desfavoráveis.

A intencionalidade é o que transforma decisões cotidianas em passos estratégicos rumo a um futuro desejado. Seja decisões de trabalho, de aprendizagem ou do dia a dia. Este artigo explora como a intencionalidade pode ser o elemento central no desenvolvimento profissional e pessoal, capacitando líderes e gestores a tomarem decisões mais assertivas e conscientes.

Como é isso de intencionalidade no ambiente corporativo? E na liderança?

Liderar com intencionalidade, para mim, significa moldar a cultura organizacional de forma consciente e deliberada. Eu realmente acredito que a intencionalidade na liderança envolve a criação de espaços onde os colaboradores se sentem valorizados, ouvidos e motivados a contribuir com o melhor de si, promovendo assim um ciclo virtuoso de desenvolvimento e sucesso organizacional. E sabe o que é mais importante para fazer isso acontecer na prática? Abrir espaço para fazer perguntas.

Exemplo Hipotético: Imagine uma empresa que enfrenta o desafio de integrar uma equipe diversificada com diferentes valores e expectativas. Um líder intencional poderia implementar sessões semanais de alinhamento cultural, onde não apenas metas e resultados são discutidos, mas também valores pessoais e como eles se conectam com os objetivos da empresa. Essa abordagem consciente não apenas fortaleceria o senso de pertencimento da equipe, mas também incentivaria uma comunicação mais aberta e colaborativa. Você teria coragem de fazer isso? O que faria?

Aqui deixo uma provocação para vocês: De que maneira você pode, como liderança, alinhar suas ações diárias com os valores que deseja ver no seu time ou na sua organização? Ao direcionar a cultura organizacional com intencionalidade, os líderes não apenas inspiram suas equipes, mas também estabelecem um ambiente propício para inovação, resiliência e crescimento contínuo. A intencionalidade na liderança envolve ações deliberadas que refletem os valores e a missão da organização, garantindo que cada membro da equipe esteja alinhado e comprometido com os objetivos comuns.

E qual o real impacto quando incorporamos a intencionalidade no ambiente de trabalho?

Bom, primeiro é preciso entender que, quando falamos de intencionalidade, falamos de decisão, ou melhor decisões, no plural. E aí, caros leitores, é que o bicho pega – não é mesmo? No mundo corporativo, a capacidade de tomar decisões com intenção é uma habilidade essencial que distingue líderes eficazes daqueles que apenas reagem às circunstâncias. Decisões intencionais são aquelas guiadas por uma clareza de propósito e alinhadas com objetivos estratégicos de longo prazo, em vez de serem impulsionadas por pressões imediatas ou circunstâncias externas.

Compartilho aqui um exemplo pessoal que reflete o que quero dizer. Em 2023, durante o processo de captação de recursos para a minha primeira edtech, iniciei um processo no mercado tradicional de venture capital. Depois de alguns “sim” e alguns “não”, percebi que meus sócios e eu não estávamos exatamente alinhados em termos de intenção no longo prazo. Muitos dos investidores com quem conversei naquele momento não estavam dispostos a assumir o risco necessário para uma edtech e, principalmente, não compartilhavam a intenção de construir algo a longo prazo, o que considero fundamental na educação. Voltei à minha intenção inicial com o processo de captação, que era dar continuidade a um projeto que ainda queria testar hipóteses e explorar caminhos não trilhados. Com isso em mente, entendi que não deveria me prender ao caminho inicialmente escolhido – o venture capital -, mas considerar outras alternativas, como um M&A, que poderiam me levar ao mesmo resultado e ainda além. Assim, decidi pela venda em julho daquele ano, mantendo minha intenção e não me prendendo ao caminho pré-estabelecido. Essa foi a melhor decisão porque me mantive fiel à minha intenção, resultando em uma transação que refletia meus valores e objetivos de longo prazo.

Provocação: Você está sendo fiel às suas intenções ou está preso aos caminhos que escolheu?

E no desenvolvimento pessoal: qual o papel da intencionalidade?

Para finalizar, mas não menos importante, quando falamos de intencionalidade no desenvolvimento pessoal, estamos nos referindo à clareza sobre o porquê queremos nos desenvolver, para que queremos isso e onde queremos chegar com esse desenvolvimento. Essa clareza pressupõe um profundo autoconhecimento, que é a base para qualquer processo de crescimento efetivo. O autoconhecimento permite que você alinhe suas ações com seus valores pessoais, garantindo que suas decisões reflitam quem você realmente é e o que deseja alcançar. Sem essa clareza, as decisões se tornam soltas e desconectadas, levando ao desengajamento e à falta de propósito no processo de aprendizado contínuo. Você já deve ter passado por alguns processos como esse que descrevi de desengajamento, não?

Eu realmente acredito que a intencionalidade nasce desse profundo entendimento de si mesmo, permitindo sermos pessoas e profissionais mais autênticos e resilientes. Não à toa, eu costumo dizer que o primeiro passo para levar o lifelong learning à prática é a autorreflexão sobre si mesmo, seus objetivos e desejos. Essa autorreflexão é essencial para criar um processo de aprendizagem que realmente te ajude a alcançar suas metas pessoais e profissionais. Sem intenção e decisões alinhadas com essa clareza, é fácil perder o foco e se desengajar do desenvolvimento contínuo. A intencionalidade, portanto, não apenas orienta nossas escolhas de aprendizado, mas também mantém nosso engajamento e motivação ao longo da jornada.

Não é a chave para tudo, mas é o começo de tudo!

A intencionalidade emerge como um pilar fundamental no desenvolvimento profissional e pessoal, capacitando líderes, profissionais e gestores a tomarem decisões mais conscientes e alinhadas com seus objetivos de longo prazo. Ao integrar intencionalidade na nossa vida e em nossas tomadas de decisão, transformamos nossas carreiras e criamos culturas organizacionais mais resilientes e inovadoras. Eu diria que cultivar a intencionalidade é, portanto, investir em si e nos outros à nossa volta. É garantir um mínimo de paz de espírito. É o alicerce para retomar o fôlego quando acordamos sem disposição ou quando uma decisão chega atravessada na nossa vida. É necessária para a construção de um futuro sustentável e próspero, tanto para nós mesmos quanto para as nossas organizações.

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Empreendedora premiada e apaixonada por educação, Isabela Corrêa é especialista em transformar desafios em inovação. Com mais de 10 anos de experiência em consultoria estratégica e 6 anos dedicados ao empreendedorismo em Educação Corporativa e RH, liderou a edtech B.Nous, reconhecida pelo Startup Awards, e realizou um exit estratégico em 2023. Hoje, à frente da People Strat, conecta aprendizado, propósito e inovação para criar soluções humanas e fora da caixa. É embaixadora de Lifelong Learning no hub Learning Village, onde atua pelo segundo ano consecutivo. Formada em Engenharia de Produção e mestre em Educação e Políticas Públicas pela UFRJ, é referência no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, inovação em educação e uso de novas tecnologias.

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