Por muitos anos, carregamos a crença de que, para sermos mais produtivos, teríamos que passar cada vez mais tempo nos escritórios e ambientes corporativos. Também acreditamos que, se por um lado, as inovações tecnológicas foram desenvolvidas para diminuir falhas humanas e ganhar escala na produção, por outro, teríamos que ser ainda mais “produtivos e úteis” para não sermos substituídos por elas. Em outras palavras: conforme a tecnologia foi proporcionando mais recursos e agilidade, nós intensificamos a nossa cultura da performance para resultados e, consequentemente, aumentamos as horas dedicadas a atingir essas metas.
Essa fórmula cultural nos trouxe um ciclo vicioso comportamental que temos repetido desde a Primeira Revolução Industrial: como precisamos fazer cada vez mais, nós mesmos estimulamos o consumismo que, por sua vez, nos incentiva novamente a voltar para a produção em série de novos itens, bens de consumo e serviços. Esse movimento é como uma bola de neve – e, como todos sabemos, nada sustentável.
Se somos cada vez mais tecnológicos, mais eficientes, mais ágeis, precisamos nos fazer algumas perguntas essenciais: o que faremos com o tempo que nos “sobra” depois de finalizar as tarefas de um dia de trabalho? O que vamos fazer com toda essa eficiência?
Para sairmos do ciclo vicioso de produtividade-eficiência mais carga de trabalho-consumismo, precisamos entender que a evolução digital – big data, internet das coisas, nuvem e inteligência artificial – está aqui para nos dar um retorno sobre o investimento do nosso tempo, além de dinheiro.
Partindo do princípio de que as empresas têm valores que ressoam com os de seus funcionários, entendemos que ética, bem-estar, equilíbrio e saúde mental precisam ser vivenciados pelas lideranças das empresas para que, então, todos os colaboradores possam também vivenciar uma cultura sustentável de busca de resultados, baseada no bem-estar e não na performance a qualquer custo.
Não se trata de ter um CEO que tira um mês e meio de férias enquanto sua equipe trabalha longas jornadas. Mas, sim, de uma mudança mais ampla de paradigma, que significa que podemos automatizar ainda mais os processos com as tecnologias 4.0 para que tenhamos tempo para nos dedicar a trabalhos criativos e a tantas outras atividades pelas quais temos interesse – e, se possível, para que possamos diminuir nossa pegada ambiental consumindo menos e vivendo com mais consciência.
Em um futuro não muito distante, vejo os horários de trabalho acompanhando os ciclos biológicos, respeitando os períodos de descanso e de folga para que, de fato, possam ser momentos em que cada um recarregue suas energias.
Um pouco mais adiante, criaremos ambientes de trabalho onde realmente não sejam mais necessários fins de semana para recarregar as baterias, haverá um equilíbrio muito maior entre vida profissional e pessoal. Afinal de contas, viver pensando no próximo fim de semana ou nas próximas férias é projetar a felicidade em algo futuro, quando, na verdade, ela precisa ser vivenciada diariamente.
O futuro do trabalho passará pela oferta de jornadas flexíveis que permitam aos funcionários se sentirem motivados e que, em seus tempos livres, eles possam tocar outros projetos que causem satisfação – ao invés de apenas recuperarem a saúde para iniciar outra semana.
Parece utópico? Eu acredito que não. Se olharmos apenas os últimos 300 anos da humanidade, percebemos que passamos de economias colonialistas para economias de trabalho livre.
É claro que ainda há muito a ser feito em um mundo – e um Brasil, em especial, – com condições tão desiguais de trabalho, mas o futuro tende a ser promissor.