Cultura organizacional

CEO não tira férias?

A nova cultura corporativa deve levar em conta a vida pessoal e se flexibilizar ao redor dela
Daniel Scuzzarello é CEO e diretor presidente da Siemens Software na América do Sul.

Compartilhar:

Por muitos anos, carregamos a crença de que, para sermos mais produtivos, teríamos que passar cada vez mais tempo nos escritórios e ambientes corporativos. Também acreditamos que, se por um lado, as inovações tecnológicas foram desenvolvidas para diminuir falhas humanas e ganhar escala na produção, por outro, teríamos que ser ainda mais “produtivos e úteis” para não sermos substituídos por elas. Em outras palavras: conforme a tecnologia foi proporcionando mais recursos e agilidade, nós intensificamos a nossa cultura da performance para resultados e, consequentemente, aumentamos as horas dedicadas a atingir essas metas.

Essa fórmula cultural nos trouxe um ciclo vicioso comportamental que temos repetido desde a Primeira Revolução Industrial: como precisamos fazer cada vez mais, nós mesmos estimulamos o consumismo que, por sua vez, nos incentiva novamente a voltar para a produção em série de novos itens, bens de consumo e serviços. Esse movimento é como uma bola de neve – e, como todos sabemos, nada sustentável.

Se somos cada vez mais tecnológicos, mais eficientes, mais ágeis, precisamos nos fazer algumas perguntas essenciais: o que faremos com o tempo que nos “sobra” depois de finalizar as tarefas de um dia de trabalho? O que vamos fazer com toda essa eficiência?

Para sairmos do ciclo vicioso de produtividade-eficiência mais carga de trabalho-consumismo, precisamos entender que a evolução digital – big data, internet das coisas, nuvem e inteligência artificial – está aqui para nos dar um retorno sobre o investimento do nosso tempo, além de dinheiro.

Partindo do princípio de que as empresas têm valores que ressoam com os de seus funcionários, entendemos que ética, bem-estar, equilíbrio e saúde mental precisam ser vivenciados pelas lideranças das empresas para que, então, todos os colaboradores possam também vivenciar uma cultura sustentável de busca de resultados, baseada no bem-estar e não na performance a qualquer custo.

Não se trata de ter um CEO que tira um mês e meio de férias enquanto sua equipe trabalha longas jornadas. Mas, sim, de uma mudança mais ampla de paradigma, que significa que podemos automatizar ainda mais os processos com as tecnologias 4.0 para que tenhamos tempo para nos dedicar a trabalhos criativos e a tantas outras atividades pelas quais temos interesse – e, se possível, para que possamos diminuir nossa pegada ambiental consumindo menos e vivendo com mais consciência.

Em um futuro não muito distante, vejo os horários de trabalho acompanhando os ciclos biológicos, respeitando os períodos de descanso e de folga para que, de fato, possam ser momentos em que cada um recarregue suas energias.

Um pouco mais adiante, criaremos ambientes de trabalho onde realmente não sejam mais necessários fins de semana para recarregar as baterias, haverá um equilíbrio muito maior entre vida profissional e pessoal. Afinal de contas, viver pensando no próximo fim de semana ou nas próximas férias é projetar a felicidade em algo futuro, quando, na verdade, ela precisa ser vivenciada diariamente.

O futuro do trabalho passará pela oferta de jornadas flexíveis que permitam aos funcionários se sentirem motivados e que, em seus tempos livres, eles possam tocar outros projetos que causem satisfação – ao invés de apenas recuperarem a saúde para iniciar outra semana.

Parece utópico? Eu acredito que não. Se olharmos apenas os últimos 300 anos da humanidade, percebemos que passamos de economias colonialistas para economias de trabalho livre.

É claro que ainda há muito a ser feito em um mundo – e um Brasil, em especial, – com condições tão desiguais de trabalho, mas o futuro tende a ser promissor.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura