Artigo

Coaching: para um novo desafio, um novo desempenho

O coaching chegou ao Brasil de modo confuso, mas, se aplicado corretamente, é poderoso para impulsionar carreiras. Esse processo individualizado ensina a evitar as distrações cotidianas, a refletir até no olho do furacão, a adquirir comportamentos novos para desafios novos
Paula Giannasi trabalha com coaching executivo, especialmente na área do agronegócio. Tem, entre os clientes, Grupo AGP, Sicoob, Agro Amazônia, Ceres, Ubyfol, Cargill, Amaggi, Sicredi, SinAgro, AgroSol, Syngenta, Bom Futuro e Mantiqueira.

Compartilhar:

> – Paula, você queria estudar para valer e fez isso nos Estados Unidos. Você queria ter um negócio próprio e o construiu. Você queria ser reconhecida na área de desenvolvimento profissional e hoje é. Você já realizou todos os seus sonhos?

Fizeram-me essa pergunta em 2019 e não soube responder inteiramente a ela então. Hoje saberia. Hoje sei que, se sonhos se realizaram em alguma medida, isso não se deu só com glamour, como a pergunta talvez insinue; foram muitos os desafios e os esforços para buscar aprimoramento.

E mais: aquela mulher que no início da vida sonhava com uma determinada realização profissional e pessoal ainda não está pronta, nem nunca estará. Hoje eu sei que o desenvolvimento acontece em capítulos. Estou apreciando um capítulo novo e muito feliz dessa história. (Aliás, o uso do adjetivo “feliz” deveria ser a principal métrica de sonhos realizados por adultos, não?)

Hoje eu sei também que ao menos um sonho já realizei por completo – ao conseguir transformar em profissão tudo em que acredito –, minha crença é que desenvolvimento profissional requer instrução, altruísmo, metodologia e sensibilidade. Isso fez minha vida fluir de maneira muito mais leve e me dedico a igualmente fazer fluir a vida profissional das pessoas, para ajudá-las a atingir seu máximo potencial. A cada novo objetivo de carreira que elas têm, faço um programa de coaching para apoiá-las, atendendo sobretudo líderes de agronegócio {veja quadro abaixo}.

As altas expectativas que os líderes do agro enfrentam
A competição global vem acelerando a evolução dos profissionais do setor

Os principais desafios dos líderes do agronegócio brasileiro são impulsionar o crescimento da organização, liderar e gerenciar uma equipe de profissionais, garantir a conformidade regulatória e tomar decisões que tenham um impacto significativo sobre o negócio e o mundo. Isso em um setor que já opera em padrões mundiais e tem todos os holofotes sobre si – por sua importância no mundo, pela concorrência global ou pelos desafios específicos de ESG (ambientais, sociais e de governança). Pode-se dizer que as expectativas do mercado sobre comportamentos e habilidades de líderes de uma companhia do agro – e as próprias – nunca foram tantas e tão elevadas.

Segundo Mauro Lopes, professor e coordenador do curso de MBA em agribusiness da Fundação Getulio Vargas, o líder bem-sucedido no agronegócio brasileiro – seja ele C-level, diretor ou gerente – hoje precisa “dominar a tecnologia da produção, conhecer o mercado, saber realizar análises de risco financeiro, ter conhecimentos de recursos humanos, meio ambiente, comércio interno e internacional, logística, além de dominar um segundo, ou até um terceiro idioma, como o inglês e o espanhol”. (P.G.)

Outro ponto que eu sei, sem margem para dúvidas, é que os desafios que enfrentei me deixaram mais perto dos meus sonhos; desafios são alavancas disfarçadas. Foi por frustrações, geradoras de desconforto, que resolvi em 2013 me aproximar do coaching, uma ferramenta de desenvolvimento profissional então em ascensão. Era um recurso de desenvolvimento personalizado já muito usado nos EUA e em outros países, mas que estava chegando ao Brasil – e em um movimento, desordenado, confuso. Primeiro, fui ao seu encontro como uma busca pessoal; depois tornou-se um negócio para mim.

Que sorte a minha… Como aprendi na própria pele, a mudança que o coaching é capaz de provocar no desempenho é absurda. E conseguir mudar absurdamente se mostra algo cada vez mais necessário em um mundo que nos dá desafios sequenciais e crescentes sem que haja tempo de reflexão.

Comecei pelo começo: preparei uma ampla jornada de leituras para aprofundar meu entendimento da ferramenta. Nos livros, logo percebi que o coaching podia ser um divisor de águas de desempenho profissional para as pessoas, e era isso o que queria proporcionar em minha nova etapa de vida. Meu objetivo passou a ser trabalhar isso com líderes que desejavam progredir na carreira.
Então, escolhi minha primeira formação nessa linha: a metodologia “The inner game”, de Timothy Gallwey. Tem o foco em criar condições de aprendizado e performance gerenciando os obstáculos mentais e emocionais. Gallwey possui uma fórmula:

__P = p – i
PERFORMANCE = POTENCIAL – INTERFERÊNCIA__

Interferências são o que nos dificulta atingir uma alta performance profissional, e todos nós estamos sujeitos a elas.

Fui coachee de Gallwey e com ele me tornei coach, ficando, de maneira divertida e natural, mais consciente dos meus pensamentos, sentimentos e ações. (A diversão é porque essa fórmula nasceu no tênis e eu jogo tênis…)

Em seguida, fiz uma segunda imersão, com um dos coaches executivos mais requisitados pelas empresas mundo afora, Marshall Goldsmith, autor de livros importantes como *Triggers, What Got You Here Won’t Get You There*. Ele implementa mudanças comportamentais nos líderes com a participação de seus stakeholders para aumentar a eficácia de sua liderança.

Estou convicta: gerenciar as interferências que nos sabotam no dia a dia e mudar comportamentos percebidos em prol de uma liderança mais eficaz são os movimentos que formam a tempestade perfeita do melhor desempenho.

Dominei as metodologias de coaching de Gallwey e Goldsmith, combinei-as com adaptações para o Brasil e hoje as aplico sempre em dez sessões ao longo de seis a oito meses. Ah, continuo a estudar – agora mesmo estou novamente nos EUA para uma nova temporada de estudos e trabalhando em meu livro, que deve ser lançado até o final deste ano. No Arizona, continuo meu processo de mentoria com May Busch, inclusive – ela é a dona do insight das nove capacidades que, se aceleradas, mudam o jogo e alcançam maior sucesso na carreira. Está sendo um novo capítulo muito feliz.

Artigo publicado na HSM Management nº 159.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura