A maior parte das pessoas concordaria que a China é, hoje, inovadora. Contudo, variam as visões sobre quão boa é a inovação chinesa, bem como há um questionamento sobre a sustentabilidade dela.
Alguns especialistas acreditavam que a China nunca poderia ser inovadora, inclusive por razões como falta de liberdade política, economia controlada pelo Estado, aprendizado rotineiro (por “decoreba”) e proteção de propriedade intelectual inadequada. Nenhum desses argumentos é necessariamente incorreto se considerado isoladamente.
Mas o fato é que a China resultou em um caso de exceção.
O setor de tecnologia e internet na China cresceu duas vezes mais rápido do que o PIB ao longo da última década, de acordo com o site Xinhua. O país também se tornou o segundo maior produtor de unicórnios, que são companhias de capital fechado avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Uma análise apropriada da China exige, portanto, ver o país em sua totalidade e múltiplas dimensões, considerando suas várias rupturas ao longo de períodos de tempo diferentes, com o reconhecimento e a aceitação de que a China ainda está em evolução.
Vários fatores contribuem para a rápida ascensão da China como epicentro inovador. Recordando o que discutimos na coluna anterior, eles são: o mercado de massa da China, com seus muitos problemas a resolver – que permitiram às companhias rapidamente adquirir escala e acelerar ciclos de inovação –; a prevalência da tecnologia, a abundância de capital; a mentalidade “por que não eu?” dos nossos empreendedores; e o modelo de desenvolvimento “dualidade em três camadas” (formado pelo governo central no topo, por governos locais no meio e por empreendedores privados na base), que veio melhorando nas quatro últimas décadas.
Quero agora destacar dois aspectos particulares contidos nesses fatores:
• Um dos principais traços definidores de nossa economia é a simbiose entre empresas estatais e privadas. Um exemplo disso foi o plano de ação de três anos lançado pelo Ministério da Indústria e da Tecnologia da Informação da China, com foco nas competências centrais de produtos de IA. Seguindo a orientação dada pelo governo central, Baidu, Alibaba, Tencent e iFlytek formaram o “esquadrão nacional da IA” para desenvolver veículos autônomos, smart cities baseadas na nuvem, imagens médicas e reconhecimento de voz.
• Os erros vão sendo compensados e a inovação de negócios vai se aprimorando por meio de testes e feedbacks do mercado. Os empreendedores chineses não temem usar o mercado como campo de testes para novas ideias.