Sem internet, seria muito provável que teríamos entrado em colapso mental, emocional, físico e financeiro. Passamos a viver no mundo virtual, e ele está nos oferecendo ferramentas para facilitar a comunicação, diminuir a distância das pessoas, mesmo que separadas por uma tela de um computador.
O impacto para as empresas também foi enorme. Com esse cenário, as organizações tiveram que aprender a lidar com o trabalho home office, trocar os encontros presenciais com colaboradores, fornecedores e, principalmente, com os clientes por videoconferências, que por sinal, tem dado certo.
Enfim, um mundo novo, uma nova realidade, novas ressignificações e novos desafios para o compliance.
Desafio para desenvolver formatos dinâmicos de treinamento online e à distância, competindo com diversos estímulos e entretenimento que ganharam espaço ao longo da pandemia. Não há mais como garantir, com uma reunião mandatória, que os colaboradores estejam em um auditório presencial para ouvir sobre os temas muitas vezes ácidos e desconfortáveis do compliance, como assédio, discriminação, corrupção, vazamento de informações, entre outros.
Desafio para conduzir um processo de apuração de denúncia de fraude ou de assédio, uma vez que os envolvidos não estão mais no mesmo ambiente físico e, talvez, utilizando outra rede de computadores, dificultando o monitoramento. As entrevistas investigativas exigem maior capacidade técnica e experiência dos entrevistadores, uma vez que precisam superar a barreira da distância para o “olho no olho”, já que o “olho na webcam” não é a mesma coisa.
Desafio na condução do [processo seletivo](https://revistahsm.com.br/post/o-que-processos-seletivos-diversos-e-algoritmos-tem-em-comum) com a dimensão ética, uma vez que precisam utilizar ferramentas como teste de integridade adaptadas ao novo normal, superando a tentativa do candidato em apresentar respostas politicamente corretas aos dilemas éticos apresentados, e ter habilidade e meio para identificar a real visão daquele profissional.
Mas, talvez o maior desafio de todos é a capacidade de predizer os novos riscos comportamentais. Identificar, compreender e mitigar possíveis novos comportamentos que ferem a cultura ética organizacional, considerando as suas novas formas no mundo digital.
## Assédio sexual digital
A Pesquisa Índice PIR 2020 – Assédio, realizada pelo IPRC Brasil com mais de 2.400 profissionais brasileiros, apontou que 16% praticariam [assédio sexual em seu ambiente de trabalho](https://revistahsm.com.br/post/assedio-moral-e-sexual-no-trabalho-como-evita-los-na-sua-empresa). Porém, como o levantamento se deu antes da pandemia, a dúvida é se esse número se alterou no home office. Como ainda não temos essa estatística, o IPRC Brasil disponibilizou gratuitamente no Youtube a sua primeira websérie, com o mesmo título deste artigo, com o objetivo de alertar sobre os riscos comportamentais na nova forma de trabalho.
## Discriminação online
Outro desafio que toda organização precisa encarar é desenvolver a [inclusão e diversidade](https://revistahsm.com.br/post/por-uma-diversidade-racial-real-nas-empresas) em seus quadros. Infelizmente, alguns processos seletivos são conduzidos de maneira atropelada e não profissional, ensejando ações discriminatórias, mesmo em um programa de diversidade, um verdadeiro paradoxo.
## Vazamento de informações confidenciais
Troca de informações da organização entre colegas que culminam em vazamento nas mídias digitais está cada vez mais frequente no novo normal. Provavelmente porque a fluidez dessas trocas “inocentes” está gerando uma banalização do que é confidencial e, por sua vez, a sensação de que não há prejuízo para a organização.
## Conflitos de interesses
Os profissionais abriram as portas de suas casas em suas relações de trabalho, seja apresentando sua sala ao fundo da videoconferência, seus filhos que invadem a reunião online, seus cães e gatos que surgem inesperadamente em frente a webcam e, até mesmo, o envio do endereço pessoal para receber documentos a serem assinados que, por vezes, podem vir acompanhados de presentes e agrados de fornecedores. A relação intimista é o primeiro passo para o desenvolvimento de uma relação conflituosa na organização.
## Do limão à limonada
Todos esses novos desafios levam o compliance ao aprendizado. Aprendizado de que por trás de cada webcam está um ser humano com suas fragilidades e inseguranças, vivendo novos dilemas éticos “dentro” da organização. Daí, cabe à organização criar formas para controlar esses riscos e desenvolver a conscientização de que a cultura ética organizacional deve ser reforçada mesmo em um home office.