Cultura organizacional

Compliance no home office

A pandemia que tomou conta de 2020 nos mostrou claramente que a evolução tecnológica está sendo fundamental para suportarmos a perda do direito de ir e vir e conviver com o confinamento durante esses meses intermináveis.
Sócio da S2 Consultoria - empresa especializada em prevenir e tratar atos de fraude e de assédio nas organizações - e diretor acadêmico do IPRC - Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental

Compartilhar:

Sem internet, seria muito provável que teríamos entrado em colapso mental, emocional, físico e financeiro. Passamos a viver no mundo virtual, e ele está nos oferecendo ferramentas para facilitar a comunicação, diminuir a distância das pessoas, mesmo que separadas por uma tela de um computador. 

O impacto para as empresas também foi enorme. Com esse cenário, as organizações tiveram que aprender a lidar com o trabalho home office, trocar os encontros presenciais com colaboradores, fornecedores e, principalmente, com os clientes por videoconferências, que por sinal, tem dado certo.

Enfim, um mundo novo, uma nova realidade, novas ressignificações e novos desafios para o compliance.

Desafio para desenvolver formatos dinâmicos de treinamento online e à distância, competindo com diversos estímulos e entretenimento que ganharam espaço ao longo da pandemia. Não há mais como garantir, com uma reunião mandatória, que os colaboradores estejam em um auditório presencial para ouvir sobre os temas muitas vezes ácidos e desconfortáveis do compliance, como assédio, discriminação, corrupção, vazamento de informações, entre outros.

Desafio para conduzir um processo de apuração de denúncia de fraude ou de assédio, uma vez que os envolvidos não estão mais no mesmo ambiente físico e, talvez, utilizando outra rede de computadores, dificultando o monitoramento. As entrevistas investigativas exigem maior capacidade técnica e experiência dos entrevistadores, uma vez que precisam superar a barreira da distância para o “olho no olho”, já que o “olho na webcam” não é a mesma coisa.

Desafio na condução do [processo seletivo](https://revistahsm.com.br/post/o-que-processos-seletivos-diversos-e-algoritmos-tem-em-comum) com a dimensão ética, uma vez que precisam utilizar ferramentas como teste de integridade adaptadas ao novo normal, superando a tentativa do candidato em apresentar respostas politicamente corretas aos dilemas éticos apresentados, e ter habilidade e meio para identificar a real visão daquele profissional.

Mas, talvez o maior desafio de todos é a capacidade de predizer os novos riscos comportamentais. Identificar, compreender e mitigar possíveis novos comportamentos que ferem a cultura ética organizacional, considerando as suas novas formas no mundo digital.

## Assédio sexual digital

A Pesquisa Índice PIR 2020 – Assédio, realizada pelo IPRC Brasil com mais de 2.400 profissionais brasileiros, apontou que 16% praticariam [assédio sexual em seu ambiente de trabalho](https://revistahsm.com.br/post/assedio-moral-e-sexual-no-trabalho-como-evita-los-na-sua-empresa). Porém, como o levantamento se deu antes da pandemia, a dúvida é se esse número se alterou no home office. Como ainda não temos essa estatística, o IPRC Brasil disponibilizou gratuitamente no Youtube a sua primeira websérie, com o mesmo título deste artigo, com o objetivo de alertar sobre os riscos comportamentais na nova forma de trabalho.

## Discriminação online

Outro desafio que toda organização precisa encarar é desenvolver a [inclusão e diversidade](https://revistahsm.com.br/post/por-uma-diversidade-racial-real-nas-empresas) em seus quadros. Infelizmente, alguns processos seletivos são conduzidos de maneira atropelada e não profissional, ensejando ações discriminatórias, mesmo em um programa de diversidade, um verdadeiro paradoxo.

## Vazamento de informações confidenciais

Troca de informações da organização entre colegas que culminam em vazamento nas mídias digitais está cada vez mais frequente no novo normal. Provavelmente porque a fluidez dessas trocas “inocentes” está gerando uma banalização do que é confidencial e, por sua vez, a sensação de que não há prejuízo para a organização.

## Conflitos de interesses

Os profissionais abriram as portas de suas casas em suas relações de trabalho, seja apresentando sua sala ao fundo da videoconferência, seus filhos que invadem a reunião online, seus cães e gatos que surgem inesperadamente em frente a webcam e, até mesmo, o envio do endereço pessoal para receber documentos a serem assinados que, por vezes, podem vir acompanhados de presentes e agrados de fornecedores. A relação intimista é o primeiro passo para o desenvolvimento de uma relação conflituosa na organização.

## Do limão à limonada

Todos esses novos desafios levam o compliance ao aprendizado. Aprendizado de que por trás de cada webcam está um ser humano com suas fragilidades e inseguranças, vivendo novos dilemas éticos “dentro” da organização. Daí, cabe à organização criar formas para controlar esses riscos e desenvolver a conscientização de que a cultura ética organizacional deve ser reforçada mesmo em um home office.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral

ESG
Investimentos significativos em tecnologia, infraestrutura e políticas governamentais favoráveis podem tornar o país líder global do setor de combustíveis sustentáveis

Deloitte

Estratégia, Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
À medida que o mercado de benefícios corporativos cresce as empresas que investem em benefícios personalizados e flexíveis não apenas aumentam a satisfação e a produtividade dos colaboradores, mas também se destacam no mercado ao reduzir a rotatividade e atrair talentos.

Rodrigo Caiado

Empreendedorismo, Liderança
Entendimento e valorização das características existentes no sistema, ou affordances, podem acelerar a inovação e otimizar processos, demonstrando a importância de respeitar e utilizar os recursos e capacidades já presentes no ambiente para promover mudanças eficazes.

Manoel Pimentel

ESG, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça e entenda como transformar o etarismo em uma oportunidade de negócio com Marcelo Murilo, VP de inovação e tecnologia da Benner e conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente.

Marcelo Murilo