Liderança, Times e Cultura

Consolidar o aprendizado corporativo

Quando se fala em aprendizado no mundo das empresas, em geral se prioriza a etapa inicial, de aquisição de informações em detrimento do todo, que é a incorporação das ideias como conhecimento proprietário. Um modo de garantir o todo, como propõe um grupo educacional do Sul do Brasil, é “tramar” – fazer com que os aprendizes em rede teçam sua jornada de aprendizado de novos hábitos, posturas e práticas e, então, amplificar isso com seus respectivos gestores. Este artigo explora a técnica de tramar.
__Dante Sasso__ é gestor de educação e aprendizagem e especialista em design de programas de desenvolvimento para líderes de todos os níveis organizacionais. É coordenador pedagógico do CNEX, empresa do Grupo Atitus sediada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Compartilhar:

O que vem a sua mente quando lê o verbo “tramar”? Pode ser o sentido primeiro do dicionário, etimológico – “tramar” é entrelaçar os fios da trama, tecer – ou o sentido figurado – “tramar” é maquinar, intrigar, enredar, armar.

Pois agora talvez seu repertório ativo inclua uma terceira interpretação, que junta um pouco dessas duas e vale especificamente para a área do aprendizado corporativo comportamental: “tramar” significa criar uma rede com vários pontos de sustentação que desenha e conduz a jornada de aprendizado de modo heterogêneo em suas individualidades e estruturado em seu conjunto. Adquirem-se informações sobre novos hábitos, posturas e práticas de maneira distribuída e guiada e, depois, , amplifica-se o que foi adquirido para que vire conhecimento proprietário.

Se estamos falando de uma rede, por que dizemos que é algo guiado? Porque a amplificação ocorre segundo um plano acordado entre uma grande quantidade de agentes – geralmente a média gerência de uma organização. Isso porque gestores médios unidos criam um impacto maior sobre as pessoas de uma organização do que criaria uma pequena quantidade de grandes líderes, por exemplo.

No CNEX, havia o desafio, dado pelos clientes, de criar um aprendizado consistente, conjunto e permanente em relação a qualquer tema. E surgiu a percepção de que, para isso, seria necessário atuar sobre os comportamentos inter-relacionais dos participantes do grupo que deveria aprender. Do mesmo modo que a transformação organizacional não acontece de maneira ordenada, “top-down”, o aprendizado individual e coletivo dos funcionários de uma organização também não acontece assim.

É preciso haver subversão para o aprendizado acontecer de verdade. Explicando melhor: quase 100% dos programas educacionais contratados pelas empresas hoje têm a ver com inovação e mudança, certo? Seja desenvolver uma mentalidade digital, a visão sistêmica, a alta performance etc. Pois inovação se desenvolve muito mais a partir de impulsos caórdicos (caos e ordem simultaneamente, na medida certa), requerendo subversão caótica, não apenas ordem.

Pois a ideia de “tramar” carrega – etimológica e figurativamente, como vimos – tal caráter subversivo, fazendo emergir os temas inter-relacionais mais íntimos, como colaboração, comunicação ativa, segurança etc. Maquina-se a estratégia para que as pessoas aprendam algo novo, tece-se o aprendizado mantendo-se a consistência do tecido com o entrelaçamento dessas pessoas.

## O CONTEXTO DA TRAMA

Todos os programas do CNEX, sejam presenciais ou híbridos, têm cinco fios condutores, apresentados no kick-off, e a ação de tramar é um deles:

__Ampliação:____text in bold__ apresentação da estrutura da jornada (conteúdos, horários, facilitadores, plataforma etc.) e dos principais pontos metodológicos, e criação de um board para alinhar as expectativas do grupo.

__Comprometimento:__ definição das expectativas. Aqui o grupo cria a confiança e a abertura necessárias para o seu comprometimento ao oferecer suas habilidades individuais e autoconhecimento para o atingimento do que esperam da jornada.

__Imaginação:__ stímulo à visão sistêmica para a criação de um manifesto da liderança do futuro, em que o grupo define aonde quer chegar e quais são seus objetivos concretos e impactos.

__4. Trama:__ os participantes, em rede, tangibilizam o que é necessário armar como plano para que cheguem aos objetivos estabelecidos nas expectativas dos contratantes.

__Decolagem:__ é o momento que marca o início da jornada com comprometimento, diversão e leveza, essenciais para a consistência e interesse do aprendizado de adultos.

Dessa forma, partindo-se das expectativas definidas pelo grupo (1), vão sendo acessados os comportamentos individuais necessários para o seu atingimento (2), os objetivos e impactos pretendidos (3) e a trama que cria o percurso específico a ser realizado pelo grupo para chegar lá (4). Além de ser consequência, a celebração (5) funciona como mecanismo de retroalimentação para uma nova jornada. Ações de inclusão e acolhimento ajudam a sustentar a trama; deve haver um ambiente de segurança psicológica e confiança para a trama do aprendizado funcionar.

A SUSTENTABILIDADE DOS RESULTADOS do desenvolvimento comportamental é o objetivo do CNEX desde sua fundação, nos anos 1980, por empresários visionários. Para levar adiante os desafios e oportunidades de negócios, não percebemos até hoje um caminho mais construtivo e positivo do que esse desenvolvimento, no qual a trama tem papel protagonista.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura