__5. O que representa São Paulo como sede regional da divisão farmacêutica? E qual sua missão como head LatAm?__
Há alguns sinais claros aí: a empresa confia no Brasil, em termos do poder das instituições em solidez e estabilidade, da governança, do potencial de crescimento, e é um reconhecimento pelo País ser um celeiro de talentos locais, além de ser atrativo para talentos de fora, que possam ocupar posições regionais. Vale lembrar que o Brasil é o motor de crescimento da região, representa cerca de metade de toda a América Latina em aspectos como o financeiro e o de potencial científico. Minha missão, junto com meu time, é destravar as grandes oportunidades que a Bayer tem na região, com uma dinâmica de crescimento contínuo de dois dígitos para o Brasil – já foi assim no ano passado e em 2020, apesar da Covid-19, devemos atingir dois dígitos também – e na LatAm. Entre 2019 e 2022, temos o lançamento de dez medicamentos, o que é incomum no setor. Tenho 30 anos na indústria e nunca vi isso acontecer. Esses novos produtos trazem muita inovação e atendem necessidades médicas não assistidas, em áreas críticas como oncologia, hemofilia, ginecologia/saúde da mulher e cardiologia.
__4. Não falta um centro de pesquisa?__
Em um centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D), a fase mais precoce, o “P”, extremamente sofisticada, ainda não fazemos no Brasil porque é difícil descentralizar, precisa não só de know-how, mas também muita infraestrutura de laboratório. Igualmente importante é o “D”. A partir do momento que um medicamento é desenvolvido em laboratório, começam os testes que certificam se ele funciona. São feitos estudos in vitro, em animais pequenos, em animais grandes e em humanos nas fases 1, 2 e 3. Em desenvolvimento em humanos, o Brasil e países como Chile, Argentina, México e Colômbia já têm um papel relevante. Não é incomum o Brasil aparecer como o país que mais recrutou pacientes para um teste, por exemplo. Existem estudos que chegam a envolver 20 hospitais brasileiros ou até mais. Por aqui, no momento, estamos com estudos de medicamentos para que pacientes de Covid-19 convivam melhor com a doença.
__3. Como tem sido a experiência da Bayer durante a pandemia?__
O mercado farmacêutico brasileiro está bastante resiliente ao grande impacto macroeconômico da Covid-19. Espera-se crescimento do mercado na casa de 7% este ano. Até junho, o crescimento foi por volta de 10%. Claro que tem sido um ano desafiador, estaríamos, sim, com uma performance diferente se não fosse a pandemia, porém estamos com uma dinâmica positiva de crescer dois dígitos. Poderíamos ter congelado os lançamentos, para navegar de maneira morna nesse período. Fomos pelo oposto e lançamos os produtos que estavam planejados. Eu arrisco dizer, sem querer faltar com a humildade, que a empresa está trabalhando de maneira inovadora e diferenciada, mesmo após a mudança para o home office. Estamos próximos de 1 milhão de contatos virtuais desde março com o nosso time de campo, usando Teams, Zoom, WhatsApp. Fizemos por volta de 1,2 mil eventos virtuais. Lançamos os medicamentos em plataforma virtual, sendo que um deles totalizou 5 mil médicos conectados, o que seria inviável num evento presencial; e outro reuniu 700 oncologistas, dos 2,5 mil existentes no Brasil. Ou seja, fizemos do limão uma limonada.
__2. E como vê o pós-pandemia, tanto na perspectiva do mercado quanto em relação ao time?__
Olhando para o futuro, a vacinação em massa da população brasileira vai ser o divisor de águas. Não que eu creia que, após a vacinação, a gente volte como sociedade e economia ao paradigma pré-Covid. Até a vacinação em massa ocorrer, o que não creio que seja tão no curto prazo como falam, haverá a preocupação ainda com o distanciamento social. No setor de saúde, os pacientes começaram em julho a retornar aos consultórios, e a situação deve voltar à quase normalidade antes mesmo da vacina. Nesse período, houve muito mais mortes em casa do que nos hospitais. O receio de ver o médico é perigoso, porque pode haver uma patologia que esteja se agravando. Em relação ao time, já anunciamos que até o fim do ano o retorno para o escritório em São Paulo será muito pequeno, mais para aqueles que precisam de internet ou que têm muita distração em casa. No pós-vacina, mesmo com a retomada econômica, alguns aprendizados serão permanentes, a meu ver. Acredito que teremos muitos contextos híbridos. Os escritórios não devem mais voltar a ficar apinhados de segunda a sexta. Certamente não na Bayer, e arrisco dizer que não no setor administrativo no geral. Aprendemos que dá para trabalhar em casa, que se deve confiar no trabalhador. É mais produtivo, permite à pessoa compor melhor sua vida pessoal. E funciona, foi um paradigma quebrado. Isso também reforça a sustentabilidade. São menos litros de combustíveis queimados, além do custo.
__1. Há um esforço na equidade de gênero na Bayer?__
A Bayer acredita que inclusão e diversidade são fundamentais para a resolução de problemas e para a inovação. Soluções criativas dependem de diferentes perspectivas e visões. Esses dois pilares são estratégias que impulsionam o jeito de a companhia estar no mundo e fazer negócios. Aqui no Brasil, essa estratégia é desenvolvida por cinco grupos de afinidades, nos quais se faz o uso de diversas análises para entender e endereçar nossos esforços. Para dar um exemplo, recebemos recentemente duas mulheres no board da Bayer – Malu Nachreiner e Malu Weber. Agora temos quatro mulheres e quatro homens no Country Leadership Team. Já na Pharma Brasil, acabamos de criar um grupo específico de mulheres para a nossa divisão, que tem o objetivo de conscientizar nossos colaboradores sobre o tema de equidade de gênero, desenvolver cada vez mais a liderança feminina e comunicar para toda a empresa o que vem sendo feito nessa frente. A primeira ação do grupo foi fazer um retrato da equidade de gêneros em nossa divisão, e os dados consolidados são bem interessantes: hoje há 2% mais mulheres do que homens, em 2010 eram 8% mais homens; em posições de liderança, são 53% homens e 47% mulheres, antes eram 66% e 34%. Essa evolução demonstra a preocupação e a resposta da companhia ao tema.