Contagem regressiva

Contagem regressiva com Adib Jacob

Depois de apenas dois anos como presidente da divisão farmacêutica da Bayer, Adib Jacob passou a acumular o cargo de presidente da América Latina. Isso aconteceu em janeiro de 2020, quando a sede da regional mudou de Nova Jersey para São Paulo. “É um pouco incomum acumular os dois cargos, especialmente no ramo farmacêutico. Claro que tenho um limite para gerenciar toda essa região. Então, culturalmente, é um grande sinal de empowerment, de confiança e de accountability que dou para o time”, diz ele. Sobre a pandemia, Jacob conta que era cético quanto ao home office, mas o resultado o surpreendeu e agora acredita no modelo híbrido no futuro.
Sandra Regina da Silva é colaboradora de HSM Management.

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__5. O que representa São Paulo como sede regional da divisão farmacêutica? E qual sua missão como head LatAm?__
Há alguns sinais claros aí: a empresa confia no Brasil, em termos do poder das instituições em solidez e estabilidade, da governança, do potencial de crescimento, e é um reconhecimento pelo País ser um celeiro de talentos locais, além de ser atrativo para talentos de fora, que possam ocupar posições regionais. Vale lembrar que o Brasil é o motor de crescimento da região, representa cerca de metade de toda a América Latina em aspectos como o financeiro e o de potencial científico. Minha missão, junto com meu time, é destravar as grandes oportunidades que a Bayer tem na região, com uma dinâmica de crescimento contínuo de dois dígitos para o Brasil – já foi assim no ano passado e em 2020, apesar da Covid-19, devemos atingir dois dígitos também – e na LatAm. Entre 2019 e 2022, temos o lançamento de dez medicamentos, o que é incomum no setor. Tenho 30 anos na indústria e nunca vi isso acontecer. Esses novos produtos trazem muita inovação e atendem necessidades médicas não assistidas, em áreas críticas como oncologia, hemofilia, ginecologia/saúde da mulher e cardiologia.

__4. Não falta um centro de pesquisa?__
Em um centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D), a fase mais precoce, o “P”, extremamente sofisticada, ainda não fazemos no Brasil porque é difícil descentralizar, precisa não só de know-how, mas também muita infraestrutura de laboratório. Igualmente importante é o “D”. A partir do momento que um medicamento é desenvolvido em laboratório, começam os testes que certificam se ele funciona. São feitos estudos in vitro, em animais pequenos, em animais grandes e em humanos nas fases 1, 2 e 3. Em desenvolvimento em humanos, o Brasil e países como Chile, Argentina, México e Colômbia já têm um papel relevante. Não é incomum o Brasil aparecer como o país que mais recrutou pacientes para um teste, por exemplo. Existem estudos que chegam a envolver 20 hospitais brasileiros ou até mais. Por aqui, no momento, estamos com estudos de medicamentos para que pacientes de Covid-19 convivam melhor com a doença.

__3. Como tem sido a experiência da Bayer durante a pandemia?__
O mercado farmacêutico brasileiro está bastante resiliente ao grande impacto macroeconômico da Covid-19. Espera-se crescimento do mercado na casa de 7% este ano. Até junho, o crescimento foi por volta de 10%. Claro que tem sido um ano desafiador, estaríamos, sim, com uma performance diferente se não fosse a pandemia, porém estamos com uma dinâmica positiva de crescer dois dígitos. Poderíamos ter congelado os lançamentos, para navegar de maneira morna nesse período. Fomos pelo oposto e lançamos os produtos que estavam planejados. Eu arrisco dizer, sem querer faltar com a humildade, que a empresa está trabalhando de maneira inovadora e diferenciada, mesmo após a mudança para o home office. Estamos próximos de 1 milhão de contatos virtuais desde março com o nosso time de campo, usando Teams, Zoom, WhatsApp. Fizemos por volta de 1,2 mil eventos virtuais. Lançamos os medicamentos em plataforma virtual, sendo que um deles totalizou 5 mil médicos conectados, o que seria inviável num evento presencial; e outro reuniu 700 oncologistas, dos 2,5 mil existentes no Brasil. Ou seja, fizemos do limão uma limonada.

__2. E como vê o pós-pandemia, tanto na perspectiva do mercado quanto em relação ao time?__
Olhando para o futuro, a vacinação em massa da população brasileira vai ser o divisor de águas. Não que eu creia que, após a vacinação, a gente volte como sociedade e economia ao paradigma pré-Covid. Até a vacinação em massa ocorrer, o que não creio que seja tão no curto prazo como falam, haverá a preocupação ainda com o distanciamento social. No setor de saúde, os pacientes começaram em julho a retornar aos consultórios, e a situação deve voltar à quase normalidade antes mesmo da vacina. Nesse período, houve muito mais mortes em casa do que nos hospitais. O receio de ver o médico é perigoso, porque pode haver uma patologia que esteja se agravando. Em relação ao time, já anunciamos que até o fim do ano o retorno para o escritório em São Paulo será muito pequeno, mais para aqueles que precisam de internet ou que têm muita distração em casa. No pós-vacina, mesmo com a retomada econômica, alguns aprendizados serão permanentes, a meu ver. Acredito que teremos muitos contextos híbridos. Os escritórios não devem mais voltar a ficar apinhados de segunda a sexta. Certamente não na Bayer, e arrisco dizer que não no setor administrativo no geral. Aprendemos que dá para trabalhar em casa, que se deve confiar no trabalhador. É mais produtivo, permite à pessoa compor melhor sua vida pessoal. E funciona, foi um paradigma quebrado. Isso também reforça a sustentabilidade. São menos litros de combustíveis queimados, além do custo.

__1. Há um esforço na equidade de gênero na Bayer?__
A Bayer acredita que inclusão e diversidade são fundamentais para a resolução de problemas e para a inovação. Soluções criativas dependem de diferentes perspectivas e visões. Esses dois pilares são estratégias que impulsionam o jeito de a companhia estar no mundo e fazer negócios. Aqui no Brasil, essa estratégia é desenvolvida por cinco grupos de afinidades, nos quais se faz o uso de diversas análises para entender e endereçar nossos esforços. Para dar um exemplo, recebemos recentemente duas mulheres no board da Bayer – Malu Nachreiner e Malu Weber. Agora temos quatro mulheres e quatro homens no Country Leadership Team. Já na Pharma Brasil, acabamos de criar um grupo específico de mulheres para a nossa divisão, que tem o objetivo de conscientizar nossos colaboradores sobre o tema de equidade de gênero, desenvolver cada vez mais a liderança feminina e comunicar para toda a empresa o que vem sendo feito nessa frente. A primeira ação do grupo foi fazer um retrato da equidade de gêneros em nossa divisão, e os dados consolidados são bem interessantes: hoje há 2% mais mulheres do que homens, em 2010 eram 8% mais homens; em posições de liderança, são 53% homens e 47% mulheres, antes eram 66% e 34%. Essa evolução demonstra a preocupação e a resposta da companhia ao tema.

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