Empreendedorismo

Cooperativismo e SGCs: uma parceria de sucesso

Entenda como as SGCs garantem linhas de crédito às micro e pequenas empresas, fortalecendo um ecossistema sustentável e integral de capital financeiro
Dirigente da Sicoob Credisul no Norte do Brasil, conselheiro fiscal do Sescoop/RO e presidente estadual da JARO - Junior Achievment/RO. Engenheiro de produção, com MBA em gestão empresarial e gestão do agronegócio, mais de 20 anos de experiência profissional, sendo 16 em grandes instituições financeiras nacionais e internacionais, atuando no estado de São Paulo.

Compartilhar:

Muito se fala de sua relevância para a economia do país. Muitos as utilizam como plataformas políticas. Além disso, muitos projetos são apresentados para se melhorar a situação delas. No entanto, o que de efetivo tem sido feito pelos governos, associações representativas e outras entidades para mudar o cenário atual de fragilidade e penúria das micros e pequenas empresas?

Segundo dados apresentados pelo Sebrae em outubro de 2020, temos hoje no Brasil cerca de 17 milhões de pequenos negócios, sendo 7 milhões de MPEs e 10 milhões de MEIs, representando 99% de todas as empresas do país. Essas empresas são responsáveis pela geração de 75% dos empregos formais do setor privado e carregam 30% do PIB.

Esses números impressionam. Entretanto, de forma negativa, também causa espanto o fato de apenas 40% das empresas sobrevirem após seu quinto ano de fundação. Este fenômeno decorre de diversos fatores, que vão desde sua concepção sem o devido estudo do mercado, falta de planejamento estratégico e equipes sem a capacitação adequada. Todavia, na minha opinião, os dois principais fatores são a falta de comunicação aberta com os stakeholders e a má gestão financeira.

Por se tratar de um mercado que representa mais de 2 trilhões do PIB, temos que voltar nossas atenções para ele a fim de abrirmos novas possibilidades para evitar as cinco causas de fracasso citadas anteriormente. Para isso, é fundamental o investimento em capacitação técnica, inclusão financeira e, não menos importante, em educação financeira.

Sobre esses dois últimos pontos, as [cooperativas vêm dando um grande suporte](https://www.revistahsm.com.br/post/do-cooperativismo-de-credito-brasileiro-para-o-mundo) aos seus cooperados desse seguimento. Não posso deixar de citar também o apoio importantíssimo, no intuito de promover a profissionalização dessas empresas, realizado pelo Sebrae.

## Acesso ao crédito

Aprofundando um pouco mais na maior causa de insucesso das MPEs – a dificuldade em obter linhas de crédito –, o que as cooperativas têm buscado fazer é algo intrínseco em seu DNA: estar muito próximo ao associado, entendendo suas dores e necessidades, conhecendo seu negócio a fundo e, assim, não atuando somente como seu agente financeiro, mas como um consultor.

Entretanto, muitas vezes isso não é suficiente para o auxílio financeiro através da concessão de linhas adequadas de crédito, devido à assimetria de informações (diferenças entre informações contábeis e gerenciais), tão comum nos pequenos negócios.

Essa assimetria informacional dificulta o processo de análise de crédito e, principalmente, a falta de garantias para respaldarem as operações. Isso não está relacionado somente com segurança financeira. Um importante item na análise de classificação de risco, dependendo da nota, pode levar a linhas com menores taxas e maiores prazos, ou o inverso dessa equação.

## O espaço das SGCs

Nessa jornada em busca de proporcionar apoio aos negócios, entrou em cena para contribuir muito com esse ecossistema as SGCs, sociedades garantidoras de crédito. Em linhas gerais, as SGCs são sociedades de caráter privado com a finalidade de complementar as garantias exigidas aos associados nas operações de crédito junto ao sistema financeiro.

As SGCs surgiram no Brasil em 2003, devido a estudos que demonstraram que a falta de garantias reais superava a existência de restritivos (SPC, Cadin, Serasa), ou até mesmo a inviabilidade do projeto, segundo alegações das instituições financeiras na negativa de crédito às MPES.

Naquela época, já existiam no Brasil algumas iniciativas como fundos de avais, tais como o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), administrado pelo Sebrae, o Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade (FGPC), pelo BNDES e o Fundo de Aval para a Geração de Emprego e Renda (Funproger), pelo Banco do Brasil. Vale destacar, que as SGCs, além de prestarem complementos de garantias, ainda proporcionam assessoria financeira aos associados. No mais, em todo o Brasil, o Sebrae também tem sido um grande apoiador dessas sociedades em diversas frentes, desde o auxílio da implementação, gestão e financeiro.

### Ecossistema de capital

Segundo a ABASE em artigo publicado em setembro de 2020, atualmente no Brasil existem 12 SGCs em operação. Em conjunto, essas sociedades já concederam garantias de crédito há quase 15 mil pequenos negócios, representando o volume de R$ 561 milhões em garantias e R$ 800 milhões em crédito concedido para instituições financeiras conveniadas, segundo a [SGC Central](https://sgccentral.com/).

Os recursos aportados para a constituição de uma SGC advêm da integralização de capital de seus associados, bem como instituições financeiras, apoiadores que não necessariamente serão beneficiários das garantias, Sebrae, entidades de classe, poder público e organismos nacionais e internacionais. Esse corpo de parcerias garante as operações junto às instituições financeiras e, consequentemente, proporciona uma probabilidade estatística de redução de inadimplência e de perdas, mecanismo que permite [alavancar a concessão do crédito localmente](https://www.revistahsm.com.br/post/minha-agencia-bancaria-fechou-e-agora).

No entanto, a importância e papel das SGCs não se restringe a essa alavancagem do crédito, pois elas cumprem um papel estruturante. Segundo Oberdan Pandolfi Ermita, presidente do conselho de administração da recém-criada SGC Rondon Garante, as SGCs “permitem inverter a lógica do crédito”

Segundo Ermita, “o acesso à carta de garantia ofertado pela sociedade garantidora qualifica o empreendedor a ir buscar a melhor solução do crédito, já que agora as portas das instituições financeiras, antes fechadas pela ausência de garantias, se abrirão, permitindo uma concorrência entre as instituições para atender este empreendedor. Muda a lógica, pois ocorre uma alteração estrutural, capaz de reduzir juros, dar condições de acesso de forma estruturada ao crédito, majorando a probabilidade de sobrevivência desses negócios, garantindo ainda a criação de riqueza e a geração de empregos.”

## SUSTENTABILIDADE

Podemos afirmar que é extremamente importante que a parceria entre as cooperativas financeiras e as SGCs se intensifiquem rapidamente para que possamos, cada vez, ver um número maior de pequenos negócios fazendo parte desse ecossistema de desenvolvimento estruturado e sustentável.

*Gostou do artigo do Renato Zugaibe Doretto? Saiba mais sobre cooperativismo e SGCs assinando gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Inovação
De 'fofoca positiva' à batom inteligente: SXSW 2025 revela tendências globais que esbarram na realidade brasileira - enquanto 59% rejeitam fofocas no trabalho, 70% seguem creators e 37% exigem flexibilidade para permanecer em empregos. Inovar será traduzir, não copiar

Ligia Mello

6 min de leitura
Inovação
O impacto de seu trabalho vai além da pesquisa fundamental. Oliveira já fundou duas startups de biotecnologia que utilizam a tecnologia de organoides para desenvolvimento de medicamentos, colocando o Brasil no mapa da inovação neurotecnológica global.

Marcel Nobre

5 min de leitura
Empreendedorismo
SXSW 2025 começou sem IA, mas com uma mensagem poderosa: no futuro, a conexão humana será tão essencial quanto a tecnologia

Marcone Siqueira

4 min de leitura
ESG
Precisamos, quando se celebra o Dia Internacional das Mulheres, falar sobre organizações e lideranças feministas

Marcelo Santos

4 min de leitura
Inovação
O evento de inovação mais esperado do ano já empolga os arredores com tendências que moldarão o futuro dos negócios e da sociedade. Confira as apostas de Camilo Barros, CRO da B.Partners, para as principais movimentações do evento.

Camilo Barros

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial não está substituindo líderes – está redefinindo o que os torna indispensáveis. Habilidades técnicas já não bastam; o futuro pertence a quem sabe integrar estratégia, inovação e humanização. Você está preparado para essa revolução?

Marcelo Murilo

8 min de leitura
ESG
Eficiência, inovação e equilíbrio regulatório serão determinantes para a sustentabilidade e expansão da saúde suplementar no Brasil em 2025.

Paulo Bittencourt

5 min de leitura
Empreendedorismo
Alinhando estratégia, cultura organizacional e gestão da demanda, a indústria farmacêutica pode superar desafios macroeconômicos e garantir crescimento sustentável.

Ricardo Borgatti

5 min de leitura
Empreendedorismo
A Geração Z não está apenas entrando no mercado de trabalho — está reescrevendo suas regras. Entre o choque de valores com lideranças tradicionais, a crise da saúde mental e a busca por propósito, as empresas enfrentam um desafio inédito: adaptar-se ou tornar-se irrelevantes.

Átila Persici

8 min de leitura