Todo bom professor teme a mesma coisa: a expressão de um aluno entediado. E, por conta da pandemia, esse profissional anda mais preocupado do que nunca. Os desafios do ensino a distância para crianças do Ensino Fundamental e Médio são muito maiores do que parecem. Como os professores devem montar programas de aula utilizando tecnologias que ainda não dominam? Como manter os alunos interessados por longos períodos de tempo? Como engajar por meio de uma tela? Iniciativas interessantes têm surgido aqui no Vale Ocidental.
Em função das incertezas em relação ao ensino na pandemia, durante o verão norte-americano os distritos escolares da Califórnia investiram em capacitar os professores a usarem serviços como Zoom, Google Classroom ou Canvas para gerenciar suas videochamadas, apresentar slides e diversificar as tarefas online – territórios desconhecidos para muitos.
Como mãe de dois alunos, na middle e high school em Palo Alto, posso afirmar que a qualidade das aulas melhorou muito em relação ao que era realizado no início da pandemia. Os professores dos meus filhos têm utilizado diversos recursos tecnológicos, como o site Kahoot, para questionar o conteúdo aos alunos em formato de competição, e vídeos produzidos na linguagem de YouTube para estimular o engajamento dos alunos. Até as aulas de educação física estão acontecendo online, com parte dos exercícios coletivos em frente à câmera e parte de forma independente, ao ar livre, como caminhadas no quarteirão.
Alguns outros professores na Califórnia têm conduzido discussões em grupo usando Flipgrid, um site em que os alunos enviam respostas curtas em vídeo para tarefas e avisos como um Snapchat acadêmico. Outros utilizam o Nearpod, que permite monitorar o progresso do aluno. Uma professora da oitava série em San Jose constrói suas aulas no Nearpod, o que lhe permite combinar slides com enquetes, questionários e minijogos. Para uma aula de história dos Estados Unidos, por exemplo, ela organizou uma viagem virtual, em que os alunos puderam visitar ruas e pontos históricos sem sair de casa. E se antes ela premiava em classe os alunos de melhor comportamento, este ano ela passou a enviar o almoço para a casa deles via DoorDash, serviço similar ao iFood no Brasil. Usando criatividade e o apoio da tecnologia, os professores estão transformando o ensino a distância em uma atividade empolgante e esperada por crianças e jovens.
Outra mudança aconteceu entre a escola e os pais. O “back to the school night”, evento para apresentar professores e programas de aula, também aconteceu online, por meio de videochamadas no Zoom, com direito a dinâmicas utilizando o Kahoot para que os pais vivenciassem a experiência dos alunos. Preciso dizer que funcionou muito bem. Quase melhor que o presencial.
Ensinar é uma habilidade interpessoal e demanda interação e presença. Quando mudamos para um ambiente online, além de inovar, é preciso também que os alunos confiem no professor para que ele se sinta seguro em propor coisas novas. Um desafio e tanto para quem nunca havia sido ensinado a ensinar virtualmente.