Gestão de Pessoas
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DNA corporativo: impacto do sistema familiar nos negócios

A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.
Vanda Lohn é Mentora e Consultora Sistêmica de Negócios. Especialista em administração, desenvolvimento de pessoas e liderança sistêmica. Doutora em Engenharia de Produção com a temática em Ética e Sustentabilidade e Mestre em Gestão do Conhecimento pela UFSC. Tem a formação em Responsabilidade Socioambiental e Gestão do Terceiro Setor. Atuou no Hospital Universitário da UFSC e na UNIVALI, onde, por 17 anos, liderou projetos em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e o PNUD. Autora de ‘A felicidade não procura por vítima – Do eu soterrado ao arqueólogo do ser’, criou o Mapa do Comportamento Sistêmico, metodologia voltada ao autoconhecimento e transformação de padrões. Através do Instituto Vanda Lohn, compartilha conteúdos sobre desenvolvimento de liderança; Mentoria de Alta Performance

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Por mais racional e estratégico que um líder se considere, sempre há um fator invisível influenciando suas decisões: sua história familiar. As crenças, padrões e comportamentos herdados influenciam silenciosamente na forma como os líderes conduzem negócios, constroem relações e encaram desafios.

Essa dinâmica pode tanto impulsionar como limitar a inovação no crescimento dentro das organizações, especialmente em empresas familiares ou ambientes com fortes vínculos pessoais.

Ignorar essa influência sistêmica é um risco. Comportamentos repetitivos podem se transformar em barreiras para decisões racionais, perpetuando ciclos disfuncionais que atravancam mudanças necessárias. Por outro lado, reconhecer esses padrões abre caminho para um líder mais consciente, capaz de tomar decisões mais assertivas e criar ambientes organizacionais mais saudáveis.

Como identificar a herança familiar nas decisões corporativas

Uma revisão de literatura conduzida por pesquisadores da Universidade do Minho (Portugal), publicada em 2020 pela Revista Brasileira de Orientação Profissional, analisou estudos de 14 anos e constatou que aproximadamente 20% das variações nos processos decisórios corporativos são explicadas por padrões aprendidos no sistema familiar.

Essa herança se manifesta de diversas formas: no estilo de comunicação, na maneira como conflitos são resolvidos (ou evitados) e até mesmo na disposição para correr riscos. Em outras palavras, muitas das atitudes que tomamos em um ambiente de trabalho são um espelho das relações e experiências vividas em família.

Um estudo da Harvard Business Review (2022), que avaliou mais de 100.000 líderes, revelou que apenas 2% conseguem equilibrar comportamentos diretivos e inspiradores de forma eficaz. Esse dado se torna ainda mais relevante quando entendemos que os modelos de liderança que adotamos têm forte influência do sistema familiar de origem. A primeira experiência de autoridade e relacionamento interpessoal acontece em casa – e suas marcas permanecem.

Mapeamento sistêmico

Para entender como a dinâmica familiar influencia a gestão de um negócio, é essencial um olhar sistêmico. Nenhuma parte de um sistema – seja a família ou a empresa – pode ser analisada isoladamente. O que acontece em casa ecoa na forma como nos relacionamos no ambiente profissional.

Ferramentas, como o ‘Mapa do Comportamento Sistêmico’, ajudam a identificar padrões herdados e sua manifestação no dia a dia corporativo. Por exemplo: um líder que tem dificuldade em delegar pode ter crescido em um ambiente familiar de controle e centralização. Já a resistência a mudanças pode estar enraizada em experiências de insegurança e superproteção na infância.

A grande questão é que, antes de ser um CNPJ, todo negócio é conduzido por um CPF. E esse CPF carrega histórias, crenças e padrões. Ao identificar comportamentos sabotadores e suas origens, torna-se possível ressignificá-los e adotar uma postura mais flexível, inovadora e humanizada.

Da dinâmica familiar à liderança estratégica

Imagine um fundador de empresa que, por medo de perder o controle, microgerencia todas as decisões. Esse padrão pode ter origem em experiências de instabilidade na infância, criando um reflexo de hiperresponsabilidade. Se ele não percebe essa dinâmica, o negócio pode sofrer com falta de autonomia, colaboradores desmotivados e baixa capacidade de inovação.

Agora pense em famílias que evitam conflitos a qualquer custo. Esse comportamento pode se traduzir em uma cultura empresarial que varre problemas para debaixo do tapete, adiando decisões importantes e enfraquecendo a organização.

Tomar consciência desses padrões é o primeiro passo para mudá-los. Líderes que investem no autoconhecimento criam ambientes corporativos mais saudáveis, onde a confiança e a colaboração impulsionam resultados consistentes e duradouros.

Crescimento pessoal e empresarial caminham juntos

Negócios são feitos por pessoas — e pessoas carregam histórias. Compreender a influência do sistema familiar, mapear padrões comportamentais e investir no desenvolvimento pessoal são estratégias essenciais para o crescimento e evolução da organização. 

Afinal, liderar vai muito além de gerir empresas. Líderes moldam culturas, influenciam trajetórias e transformam realidades. E essa mudança começa no lugar mais sutil e poderoso de todos: dentro de si mesmo.

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