Vale oriental

Dupla circulação e as empresas estrangeiras

A política chinesa coloca o país no centro de seu mercado consumidor – o que favorece empresas de todo o mundo
Edward Tse é fundador e CEO da Gao Feng Advisory Company, uma empresa de consultoria de estratégia e gestão com raízes na China.

Compartilhar:

A “política de dupla circulação” chinesa, anunciada em 14 de maio de 2020 durante a reunião do Politburo Standing Committee, foi incorporada em outubro seguinte ao 14º Plano Quinquenal (2021-2025). De forma simples, essa estratégia visa alavancar os mercados local e externo, com um complementando o outro. A expansão da produção, da distribuição e do consumo domésticos se tornou chave para o crescimento econômico, impulsionando a inovação tecnológica e o avanço de cadeias de fornecimento internas ao país, o que alavancaria a China também nas cadeias globais.

A política de dupla circulação foi criada no rastro de duas questões-chave. A primeira foi o atrito no comércio internacional entre China e Estados Unidos e, em seguida, o impacto da pandemia de covid-19. As relações comerciais provavelmente permanecerão enviesadas de agora em diante. A segunda é o crescimento contínuo do consumo doméstico. Acredita-se que a classe média chinesa tenha chegado a cerca de 400 milhões de pessoas, de acordo com o Bureau Nacional de Estatísticas da China. E não apenas deve continuar a crescer, como também a cesta de produtos deve aumentar de valor, exigindo itens novos e mais sofisticados.

Do lado da produção, o governo chinês continuará a incentivar a consolidação de capacidades ociosas nos setores em que isso couber. A crescente prevalência da tecnologia e da inovação entre setores está puxando a evolução das cadeias produtivas como um todo, o que fortalece a posição do país como um grande hub das cadeias globais.

Uma nova era de globalização está surgindo. Se chamarmos a etapa anterior de 1.0, esta deve ser a 2.0. A diferença essencial é que, enquanto na 1.0 a origem da demanda estava nos EUA e demais países ocidentais desenvolvidos, com a China e outros países em desenvolvimento como fornecedores, na Globalização 2.0 a própria China será um grande consumidor e fornecedor.

Contudo, algum grau de regionalização das cadeias de fornecimento inevitavelmente se mantém, em parte por razões econômicas e técnicas, em parte por razões geopolíticas. Não obstante, o papel da China no mundo se tornará ainda mais importante. Para muitos setores, o peso da China como mercado consumidor e fornecedor global ou regional continuará a crescer. Porém, a evolução do contexto chinês indica que não há lugar para complacência por parte das empresas. O que deu certo ontem pode não funcionar amanhã.

Para empresas estrangeiras, o fundamental é a adaptação ágil tanto da estratégia como da organização de suas operações no país e o ajuste estratégico, tendo a China como centro. A habilidade de lidar com mudança contínua proporcionalmente à demanda do contexto será crítica. A economia chinesa se tornará mais aberta, inclusive às empresas de fora, pois é fundamental para o governo chinês fortalecer sua posição no mercado global e no multilateralismo. As organizações precisarão adaptar suas estratégias segundo essas mudanças.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Transformação Digital, Estratégia
Este texto é uma aula de Alan Souza, afinal, é preciso construir espaços saudáveis e que sejam possíveis para que a transformação ocorra. Aproveite a leitura!

Alan Souza

4 min de leitura
Liderança
como as virtudes de criatividade e eficiência, adaptabilidade e determinação, além da autorresponsabilidade, sensibilidade, generosidade e vulnerabilidade podem coexistir em um líder?

Lilian Cruz

4 min de leitura
Gestão de Pessoas, Liderança
As novas gerações estão redefinindo o conceito de sucesso no trabalho, priorizando propósito, bem-estar e flexibilidade, enquanto muitas empresas ainda lutam para se adaptar a essa mudança cultural profunda.

Daniel Campos Neto

4 min de leitura
ESG, Empreendedorismo
31/07/2024
O que as empresas podem fazer pelo meio ambiente e para colocar a sustentabilidade no centro da estratégia

Paula Nigro

3 min de leitura
ESG
Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.
3 min de leitura
Empreendedorismo, ESG
01/01/2001
A maior parte do empreendedorismo brasileiro é feito por mulheres pretas e, mesmo assim, o crédito é majoritariamente dado às empresárias brancas. A que se deve essa diferença?
0 min de leitura
ESG, ESG, Diversidade
09/10/2050
Essa semana assistimos (atônitos!) a um CEO de uma empresa de educação postar, publicamente, sua visão sobre as mulheres.

Ana Flavia Martins

2 min de leitura
ESG
Em um mundo onde o lucro não pode mais ser o único objetivo, o Capitalismo Consciente surge como alternativa essencial para equilibrar pessoas, planeta e resultados financeiros.

Anna Luísa Beserra

3 min de leitura