Medo de ficar doente, medo de perder o emprego, medo de perder dinheiro, medo de morrer, medo de perder alguém querido, medo de sentir medo. Ainda estamos para descobrir qual será o efeito de meses de escolhas orientadas pelo medo. Todos nós, em diferentes graus e condições de pressão e temperatura, passamos algumas noites em claro enquanto tentávamos encontrar um caminho seguro em meio à incerteza e ao distanciamento social. Agora que conseguimos enxergar alguma luz no fim do túnel, mesmo que fosca e oscilante, podemos nos dar ao luxo de perguntar: qual sentimento guiará nossas decisões daqui em diante?
Vou tentar evitar o clichê e a autoajuda da relação entre medo, coragem e superação. Porém, acho que não podemos desperdiçar a oportunidade de reflexão que bateu à nossa porta. Tivemos a chance de encarar alguns de nossos piores demônios. Entre eles, nossa própria finitude. E isso não é pouca coisa em um mundo cada vez mais sufocado pelo excesso de positivismo e pela tal ditadura da felicidade.
Foi na marra, da pior maneira possível. Mas aprendemos novamente a dialogar com nossos medos e a aceitar a sua existência. Acima de tudo, reajustamos nossas expectativas e fizemos um novo pacto de aceitação com nossas angústias e outros aspectos mais incontroláveis da vida. Olhar para o abismo não tem sido fácil. Mas nunca foi tão importante para lidar com o nosso caos interno e externo.
A pergunta que ainda não sabemos responder é: como estaremos quando chegarmos ao outro lado? Mais cautelosos? Mais ousados? Mais criativos? Agora é o momento certo de imaginar cenários de futuros possíveis e tomar decisões que nos levem a futuros desejáveis. Mas, pensando em uma coluna sobre lifelong learning (e a Gabi Teco, a sempre atenta editora-executiva da HSM Management, não me deixa fugir do tema), gosto de sonhar com a formação de uma mentalidade de aprendizado menos utilitarista. Mais conectada aos nossos medos, anseios e inseguranças – e, portanto, aos nossos desejos mais verdadeiros.