Liderança

Employer branding é igual a branding. Só que não

Apesar de ser um tema recente, quando falamos de marca empregadora essas duas diferenças ficam evidentes
Atua como consultora em projetos de comunicação, employer branding e gestão da mudança pela Smart Comms, empresa que fundou em 2016. Pós-graduada em marketing (FGV), graduada em comunicação (Cásper Líbero) e mestranda em psicologia organizacional (University of London), atuou por 13 anos nas áreas de comunicação e marca em empresas como Johnson&Johnson, Unilever, Touch Branding e Votorantim Cimentos. É professora do curso livre de employer branding da Faculdade Cásper Líbero, um dos primeiros do Brasil, autora de artigos sobre o tema em publicações brasileiras e internacionais e co-autora do livro Employer Branding: conceitos, modelos e prática.

Compartilhar:

Se o termo employer branding não soa familiar, não estranhe: ele ganhou destaque no Brasil há pouco tempo – mais especificamente, de 2017 para cá. Foi citado pela primeira vez em 1996 num artigo acadêmico de dois profissionais e professores de branding britânicos, Simon Barrow e Tim Ambler, que propunham que as teorias e táticas de branding utilizadas para construir marcas comerciais fortes também poderiam ser aplicadas para tornar as organizações mais atrativas como lugares para se trabalhar. Nascia ali o conceito de marca empregadora. 

Durante um bom tempo, o termo ficou associado a atividades de atração de talentos – o que se chama hoje de marketing de recrutamento e faz parte da uma estratégia de employer branding, mas não a define. Olhar a gestão da marca empregadora como algo cujo principal objetivo é atrair interessados para vagas de emprego é como gerir uma marca de produto ou serviço investindo somente no ponto de venda, sem preocupação com o que acontece depois da compra ou da assinatura do contrato. 

Ao passo que o tema vem amadurecendo, tem ficado mais claro para o mercado que simplesmente adotar técnicas de branding e marketing originalmente desenhadas para vender produtos e serviços não funciona no longo prazo quando se fala em marca empregadora. Destaco duas razões:

1. ## Externo X Interno 

A lógica de construção de uma marca empregadora segue um racional diferente. Se para produtos e serviços o foco é majoritariamente externo, com pesquisas, análises e estudos mirando o mercado, os concorrentes, os consumidores e outras fontes externas de informação que indicarão que espaço uma nova marca pode ocupar, em marca empregadora o foco deve ser majoritariamente interno. 

Marca empregadora se constrói de dentro para fora, a partir do olhar de quem mais conhece a organização como lugar para se trabalhar – o próprio empregado. O processo envolve, sim, olhar para fora e entender como os talentos que se quer atrair e o mercado de trabalho em geral se comportam e o que desejam, mas nada disso conseguirá alterar, no curto ou médio prazo, a identidade da organização que será encontrada da porta para dentro. E é por isso que marcas empregadoras fortes conhecem a si mesmas profundamente e abraçam essa identidade para atrair e manter por perto pessoas identificadas. 

2. ## Todo mundo X pessoas certas

Como diz James Ellis, diretor de employer branding da Universum e autor de três livros sobre o tema, o marketing tradicional se apoia na ideia de gerar desejo no maior número possível de pessoas, a quem, teoricamente, as organizações podem oferecer uma quantidade infinita de produtos ou serviços. Mesmo aquelas que oferecem produtos de nicho, que poucos podem ter, trabalham com a geração de desejo em massa, até para fazer arder mais forte o desejo de exclusividade. Por essa lógica, quanto mais, melhor. 

Em marca empregadora, o desafio é gerar esse desejo nas pessoas certas, para que queiram entrar e ficar nas organizações. A oferta é finita e os recursos para filtrar os desejosos também. Ele diz – e eu concordo totalmente – que essa é a parte mais encantadora de se trabalhar com marca empregadora, porque nós ainda não sabemos exatamente como trabalhar marcas para gerar desejo nas pessoas certas, não em todo mundo. Esse repertório está sendo construído exatamente agora e é isso que torna o trabalho com marca empregadora tão fascinante. 

Se até pouco tempo atrás a maior parte da (escassa) literatura acadêmica trabalhava com a ideia de que uma organização deve ter uma proposta de valor ao empregado única, válida para todos os seus públicos de talento, hoje surgem metodologias e literaturas que que sugerem várias propostas de valor ao empregado dentro de uma mesma organização. 

O tema é jovem e ainda vai passar por muito amadurecimento em seus fundamentos. Temos um longo caminho para estudar, testar, errar, aprender e construir employer branding. 

Vai ser um prazer compartilhar um pouco dessa jornada por aqui.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Liderança
A liderança eficaz exige a superação de modelos ultrapassados e a adoção de um estilo que valorize autonomia, diversidade e tomada de decisão compartilhada. Adaptar-se a essa nova realidade é essencial para impulsionar resultados e construir equipes de alta performance.

Rubens Pimentel

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O DeepSeek, modelo de inteligência artificial desenvolvido na China, emerge como força disruptiva que desafia o domínio das big techs ocidentais, propondo uma abordagem tecnológica mais acessível, descentralizada e eficiente. Desenvolvido com uma estratégia de baixo custo e alto desempenho, o modelo representa uma revolução que transcende aspectos meramente tecnológicos, impactando dinâmicas geopolíticas e econômicas globais.

Leandro Mattos

0 min de leitura
Empreendedorismo
País do sudeste asiático lidera o ranking educacional PISA, ao passo que o Brasil despencou da 51ª para a 65ª posição entre o início deste milênio e a segunda década, apostando em currículos focados em resolução de problemas, habilidades críticas e pensamento analítico, entre outros; resultado, desde então, tem sido um brutal impacto na produtividade das empresas

Marina Proença

5 min de leitura
Empreendedorismo
A proficiência amplia oportunidades, fortalece a liderança e impulsiona carreiras, como demonstram casos reais de ascensão corporativa. Empresas visionárias que investem no desenvolvimento linguístico de seus talentos garantem vantagem competitiva, pois comunicação eficaz e domínio do inglês são fatores decisivos para inovação, negociação e liderança no cenário global.

Gilberto de Paiva Dias

9 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Com o avanço da inteligência artificial, a produção de vídeos se tornou mais acessível e personalizada, permitindo locuções humanizadas, avatares realistas e edições automatizadas. No entanto, o uso dessas tecnologias exige responsabilidade ética para evitar abusos. Equilibrando inovação e transparência, empresas podem transformar a comunicação e o aprendizado, criando experiências imersivas que inspiram e engajam.

Luiz Alexandre Castanha

4 min de leitura
Empreendedorismo
A inteligência cultural é um diferencial estratégico para líderes globais, permitindo integrar narrativas históricas e práticas locais para impulsionar inovação, colaboração e impacto sustentável.

Angelina Bejgrowicz

7 min de leitura
Empreendedorismo
A intencionalidade não é a solução para tudo, mas é o que transforma escolhas em estratégias e nos permite navegar a vida com mais clareza e propósito.

Isabela Corrêa

6 min de leitura
Liderança
Construir e consolidar um posicionamento executivo é essencial para liderar com clareza, alinhar valores e princípios à gestão e impulsionar o desenvolvimento de carreira. Um posicionamento bem definido orienta decisões, fortalece relações profissionais e contribui para um ambiente de trabalho mais ético, produtivo e sustentável.

Rubens Pimentel

4 min de leitura
Empreendedorismo
Impacto social e sustentabilidade financeira não são opostos – são aliados essenciais para transformar vidas de forma duradoura. Entender essa relação foi o que permitiu ao Aqualuz crescer e beneficiar milhares de pessoas.

Anna Luísa Beserra

5 min de leitura
ESG
Infelizmente a inclusão tem sofrido ataques nas últimas semanas. Por isso, é necessário entender que não é uma tendência, mas uma necessidade estratégica e econômica. Resistir aos retrocessos é garantir um futuro mais justo e sustentável.

Carolina Ignarra

0 min de leitura