Quando me formei, meus colegas e eu preferíamos entrar numa empresa gigante, como IBM, Coca-Cola ou Nike, em vez de uma startup qualquer. Os jovens da geração Z que trabalham comigo têm dificuldade de acreditar nisso.
Tenho 46 anos. No início dos anos 2000, eu tinha meus vinte e tantos anos. Na época, o peso de construir uma carreira dentro de uma grande empresa (e a remuneração que vinha junto) era maior do que assuntos como ambiente físico e emocional, algo mais valorizado por essa geração.
Agora, passamos para uma nova fase, em que a capacidade de desenvolvimento dentro de uma empresa passa a ser o grande motivo de escolha e de retenção de um jovem. Esse profissional precisa se preocupar com o engajamento nos processos de desenvolvimento da empresa. Porque se a aprendizagem não for real nem agradável, ele vai embora.
O profissional de RH passa a ser um designer do ecossistema de aprendizagem. Quanto melhor o design, maiores as chances de atração e retenção da empresa.
Além disso, as mudanças tecnológicas do mundo acontecem de forma tão rápida que a ferramenta que se aprendeu na faculdade pode não mais existir. Esse cenário aumenta a responsabilidade das empresas no desenvolvimento das pessoas em hard skills. Mas não só isso.
Em 2000, ouvíamos frases como: “Contrate por competência, demita por comportamento”. Isso não pode estar mais desatualizado. No desenho dos ecossistemas de aprendizagem, o desenvolvimento de comportamentos e soft skills é central.
Para criar ecossistemas de aprendizagem, não podemos esquecer do seguinte: somos uma sociedade de distraídos e os métodos tradicionais de aprendizagem não funcionam mais como antes. As mesmas interações que fizeram com que a nossa sociedade ficasse distraída precisam se transformar num antídoto de distração no processo de aprendizagem.
Dentro de um ecossistema, palestras, filmes e outros produtos que consumimos passivamente serão componentes de processos que demandam interatividade, como um jogo ou uma conversa com um robô. Aliás, uma boa prática é usar o microlearning, pequenas doses de conteúdo, para gerar sensibilização sobre um assunto. As pessoas ficam mais interessadas em assistir a um filme ou a uma palestra quando já possuem alguma conexão.
Engana-se quem pensa que games, chatbots, microlearning, IA e outras ferramentas são apenas modismos no processo de aprendizagem. Grandes pensadores da educação já falavam dos benefícios da conexão emocional que vinham com a interatividade do conteúdo. Vygotsky sempre defendeu que os diferentes formatos de interação tinham papel fundamental em nosso desenvolvimento.
A pirâmide de aprendizagem de Glasser nos mostra que quanto mais interagimos com algo, maior nosso potencial de aprender. Por isso ensinar algo e praticar são as formas mais efetivas de fixação de conteúdo.
Freire sempre foi contra a transferência de conhecimento e a favor da busca de criação de um ambiente que cria possibilidades de aprendizagem. Montessori defendeu que a imaginação só se torna grande quando a gente a usa para criar coisas novas. Piaget falava que a educação era formar pessoas capazes de fazer coisas diferentes do que repetir o passado.
Essas ideias estão presentes na hora de pensarmos em criar ecossistemas de aprendizagem nas empresas. Combinar esses conceitos com ferramentas de tecnologia nos permite criar ecossistemas incríveis.