Vale oriental

Empresas privadas e o sucesso econômico chinês

A relação entre o governo central de Pequim e as empresas privadas da China ficaram estremecidas nos últimos tempos. Mas elas ainda são as grandes responsáveis pelo sucesso do país
Edward Tse é fundador e CEO da Gao Feng Advisory Company, uma empresa de consultoria de estratégia e gestão com raízes na China.

Compartilhar:

Em julho, o governo chinês anunciou novas medidas para impulsionar o crescimento do setor privado, o que gerou reações mistas de empresas. Algumas estão desconfiadas, outras estão otimistas e há as que adotaram o tom de esperar para ver. Esse desconforto é fruto de ações anteriores do governo que impediram o crescimento de algumas empresas privadas, levando a uma percepção de que Pequim é contrária ao setor.

Nos últimos três anos, o governo tomou medidas que afetaram negativamente as empresas privadas. O tão aguardado IPO do Ant Group foi frustrante, e gigantes digitais como Alibaba (dona do Ant), Tencent e Meituan enfrentaram acusações de violação de regulamentos antimonopólio. Preocupações com segurança cibernética fizeram com que a Didi Chuxing fosse deslistada da bolsa e o setor privado de educação recebeu ordens de encerrar as operações para reduzir o aprendizado baseado em repetição e memorização. Essas ações têm contribuído para a percepção de que o governo é hostil à iniciativa privada.

Mas devemos considerar o contexto histórico e o papel geral das empresas privadas na economia da China. Por mais de uma década, elas foram fundamentais no crescimento do país, introduzindo modelos de negócio inovadores e gerando lucros substanciais. Enquanto alguns acham que o governo mostra preferência por empresas estatais, o presidente Xi Jinping elogiou os empresários privados e enfatizou seu papel de liderança na economia. Em uma conferência de trabalho, ele prometeu criar um ambiente mais favorável para o crescimento e a competitividade.

A abordagem do governo chinês com as empresas privadas nem sempre foi negativa. Embora algumas ações tenham gerado preocupação, Pequim reconheceu o valor de suas contribuições para a economia. As parcerias entre estatais e privadas têm se tornado mais comuns e são cruciais para a autossuficiência tecnológica da China e a ascensão de corporações globais chinesas.

Embora o ceticismo permaneça, devido às mudanças em curso no cenário econômico da China, empresários como Pony Ma, da Tencent, e Lei Jun, da Xiaomi, expressaram apoio às últimas iniciativas do governo. As ações em relação ao setor privado de educação podem parecer severas, mas medidas a favor do antimonopólio e da segurança de dados foram necessárias.

Conforme novas medidas de estímulo econômico entrarem em vigor, o sentimento no setor privado deve melhorar. A interação entre empresas estatais e privadas, juntamente com o compromisso do governo de criar um ambiente de negócios favorável, continuará a moldar o cenário econômico do país e a promover o crescimento sustentável, independentemente de sua estrutura de propriedade.

Artigo publicado na HSM Management nº 159.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Tecnologias exponenciais
As redes sociais prometeram revolucionar a forma como nos conectamos, mas, décadas depois, é justo perguntar: elas realmente nos aproximaram ou nos afastaram?

Marcel Nobre

7 min de leitura
ESG
Quanto menos entenderem que DEI não é cota e oportunidades de enriquecer a complexidade das demandas atuais, melhor seu negócio se sustentará nos desenhos de futuros que estão aparencendo.

Rafael Ferrari

0 min de leitura
Inovação
De 'fofoca positiva' à batom inteligente: SXSW 2025 revela tendências globais que esbarram na realidade brasileira - enquanto 59% rejeitam fofocas no trabalho, 70% seguem creators e 37% exigem flexibilidade para permanecer em empregos. Inovar será traduzir, não copiar

Ligia Mello

6 min de leitura
Inovação
O impacto de seu trabalho vai além da pesquisa fundamental. Oliveira já fundou duas startups de biotecnologia que utilizam a tecnologia de organoides para desenvolvimento de medicamentos, colocando o Brasil no mapa da inovação neurotecnológica global.

Marcel Nobre

5 min de leitura
Empreendedorismo
SXSW 2025 começou sem IA, mas com uma mensagem poderosa: no futuro, a conexão humana será tão essencial quanto a tecnologia

Marcone Siqueira

4 min de leitura
ESG
Precisamos, quando se celebra o Dia Internacional das Mulheres, falar sobre organizações e lideranças feministas

Marcelo Santos

4 min de leitura
Inovação
O evento de inovação mais esperado do ano já empolga os arredores com tendências que moldarão o futuro dos negócios e da sociedade. Confira as apostas de Camilo Barros, CRO da B.Partners, para as principais movimentações do evento.

Camilo Barros

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial não está substituindo líderes – está redefinindo o que os torna indispensáveis. Habilidades técnicas já não bastam; o futuro pertence a quem sabe integrar estratégia, inovação e humanização. Você está preparado para essa revolução?

Marcelo Murilo

8 min de leitura
ESG
Eficiência, inovação e equilíbrio regulatório serão determinantes para a sustentabilidade e expansão da saúde suplementar no Brasil em 2025.

Paulo Bittencourt

5 min de leitura