Liderança, Times e Cultura

Entender a tarefa que produtos ou serviços fazem

Muitos consumidores hoje se contentam com soluções imperfeitas para seus desejos e necessidades. Gostariam que os produtos e serviços lhes fizessem um trabalho, mas recebem outro. As empresas com clareza desse trabalho, o “job to be done”, têm um booster.
__José Salibi Neto__ é cofundador da empresa de educação executiva HSM, palestrante, mentor de líderes e coautor dos livros Gestão do Amanhã, Código da Cultura, Estratégia Adaptativa e O Algoritmo da Vitória, entre outros. Lançará em maio pela editora Gente, em parceria com Sandro Magaldi, um livro sobre o motor do crescimento, que tem o JTBD como espinha dorsal.

Compartilhar:

Ao comprar um livro, seja de ficção ou não ficção, você sabe o que quer dele? Muitas pessoas com quem convivo diriam que sim. O livro pode: (1) educar a pessoa sobre determinado assunto para aplicação no dia a dia; (2) destacar quem o domina em relação à superficialidade da web; (3) conferir-lhe status entre os pares se mostrado em cima da mesa, na estante ou em uma foto de Instagram; (4) oferecer ideias de soluções para problemas específicos que a pessoa esteja enfrentando; (5) ajudá-la a conhecer outros mercados, se abordar diferentes geografias e faixas etárias; (6) ajudá-la a pensar em futuros possíveis, como uma ficção científica; (7) fornecer subsídios para apresentações, posts em mídias sociais ou até um livro próprio; (8) servir para razão para networking com determinado grupo; (9) divertir com suas histórias; (10) embalar o sono à noite; (11) substituir vícios indesejáveis, como o do excesso de telas – televisão e celular –; (12) fazer a pessoa servir de exemplo para os filhos inspirando-os a ler; (13) ser um treino de disciplina e, ao mesmo tempo, de relaxamento; (14) ampliar repertório e vocabulário para conversas sociais; (15) facilitar convencer outras pessoas daquilo que o leitor já está convencido (frequentemente gestores contam que compram meus livros para presentar seus líderes e sensibilizá-los para a era digital e a inovação, por exemplo).

A lista de tarefas acima é virtualmente infindável, mas seu resumo é que sempre sabemos o que queremos com o produto “livro”. Os consumidores em geral querem que os produtos ou serviços lhes forneçam um trabalho que os faça progredir de algum modo – seja um livro, uma roupa, um carro, uma viagem, um personal trainer etc. No entanto, os fornecedores ou produtores desses produtos e serviços raramente têm a mesma consciência.

Tais trabalhos são os chamados “jobs to be done”, ou JTBD, um conceito tão importante que foi pedra fundamental do pensamento e da ação de pelo menos quatro grandes personagens da gestão mundial: Peter Drucker, Theodore Levitt, Clayton Christensen e Steve Jobs.

## JTBD: origens e aplicações

Em 1964, o pai da administração moderna Peter Drucker, escreveu em Managing for Results que “o que um cliente compra raramente é o que uma empresa pensar estar vendendo”. Theodore Levitt, autor de Miopia de Marketing, complementou Drucker dando clareza ao que um cliente compra: “As pessoas não querem uma broca de 5 milímetros de diâmetro (que a empresa lhes quer vender) mas o buraco de 5 milímetros na parede”.

Nos anos 1980 e 1990, Christensen chamou tarefas como o buraco de 5 milímetros de job to be done (tarefa a realizar) e a pesquisa que fez com o JTBD dos milk shakes para uma rede de restaurantes fast-food dos EUA catapultou o conceito. Ele e seu time compreenderam que os JTBD mudavam nos dias úteis e no fim de semana. De segunda a sexta, adultos compravam a bebida pela manhã a caminho do trabalho e precisavam de uma bebida que pudessem tomar dirigindo, que durasse todo o trajeto, os distraísse e os tirasse a fome pela manhã toda. Nos sábados e domingos, o consumo principal era à tarde e por crianças, mas sempre havia sobras nos copos e muitos pais não autorizavam o consumo porque a hora do jantar estava próxima. A descoberta desses trabalhos prestados pelo milk shake possibilitou duas inovações que atenderiam melhor o JTBD:

– Colocaram uma vending machine do lado de fora do restaurante, para poupar o tempo dos viajantes.

– Diminuíram os copos infantis.

O caso do milk shake é bastante conhecido, mas não supera o uso que Steve Jobs, o quarto personagem que citei, fez do instrumento para salvar a Apple. Surgiu o Napster, que permitia o JTBD de compartilhar músicas pelo computador sem precisar comprar um CD inteiro. Mas seus fundadores esqueceram de um detalhe importante: pagar direitos autorais para artistas e gravadoras. Então Jobs entendeu o novo JTBD da indústria da música e criou uma plataforma chamada iTunes e o tocador iPod, corrigindo o erro do Napster.

E como descobrir JTBDs não resolvidos? Você deve ser detetive e documentarista, coletando dados e montando histórias que deem sentido a esses dados. Isso porque esses jobs to be done são complexos e multifacetados; para ter êxito, você tem de defini-los realmente com precisão. Como pontos de partida, você pode olhar para as pessoas que quer alcançar, o progresso que estas desejam fazer, as circunstâncias em que se encontram e os obstáculos que necessitam superar.

Quando adota o framework JTBD para inovar, a empresa toma o melhor caminho possível para inovar, porque se inverte o sentido da inovação – ela parte do cliente e não mais de ideias–, cria-se a cultura customer-centric e enxergam-se os reais rivais.

Não esqueça os JTBDs negativos

Segundo José Salibi Neto, é preciso entender tanto os jobs to be done – as tarefas que o cliente quer que sejam feitas – como os JTBDs negativos, que representam aquilo que desejam evitar. Foi o que fez o Nubank, lembra Salibi, ao partir da premissa que os clientes queriam evitar ir a agências bancárias e enfrentar portas giratórias.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação e comunidades na presença digital

A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Bem-estar & saúde, Liderança
5 de dezembro de 2025
Em um mundo exausto, emoção deixa de ser fragilidade e se torna vantagem competitiva: até 2027, lideranças que integram sensibilidade, análise e coragem serão as que sustentam confiança, inovação e resultados.

Lisia Prado - Consultora e sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Finanças
4 de dezembro de 2025

Antonio de Pádua Parente Filho - Diretor Jurídico, Compliance, Risco e Operações no Braza Bank S.A.

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
3 de dezembro de 2025
A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Gabriel Andrade - Aluno da Anhembi Morumbi e integrante do LAB Jornalismo e Fernanda Iarossi - Professora da Universidade Anhembi Morumbi e Mestre em Comunicação Midiática pela Unesp

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial
2 de dezembro de 2025
Modelos generativos são eficazes apenas quando aplicados a demandas claramente estruturadas.

Diego Nogare - Executive Consultant in AI & ML

4 minutos min de leitura
Estratégia
1º de dezembro de 2025
Em ambientes complexos, planos lineares não bastam. O Estuarine Mapping propõe uma abordagem adaptativa para avaliar a viabilidade de mudanças, substituindo o “wishful thinking” por estratégias ancoradas em energia, tempo e contexto.

Manoel Pimentel - Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil

10 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Liderança
29 de novembro de 2025
Por trás das negociações brilhantes e decisões estratégicas, Suits revela algo essencial: liderança é feita de pessoas - com virtudes, vulnerabilidades e escolhas que moldam não só organizações, mas relações de confiança.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

3 minutos min de leitura
Estratégia, Marketing & growth
28 de novembro de 2025
De um caos no trânsito na Filadélfia à consolidação como código cultural no Brasil, a Black Friday evoluiu de liquidação para estratégia, transformando descontos em inteligência de precificação e redefinindo a relação entre consumo, margem e reputação

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de novembro de 2025
A pergunta “O que você vai ser quando crescer?” parece ingênua, mas carrega uma armadilha: a ilusão de que há um único futuro esperando por nós. Essa mesma armadilha ronda o setor automotivo. Afinal, que futuros essa indústria, uma das mais maduras do mundo, está disposta a imaginar para si?

Marcello Bressan, PhD, futurista, professor e pesquisador do NIX - Laboratório de Design de Narrativas, Imaginação e Experiências do CESAR

4 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Liderança
26 de novembro de 2025
Parar para refletir e agir são forças complementares, não conflitantes

Jose Augusto Moura - CEO da brsa

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
25 de novembro de 2025

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom Tecnologia

4 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança