Tecnologias exponenciais
7 min de leitura

Hora de dar um passo atrás e recriar redes sociais

As redes sociais prometeram revolucionar a forma como nos conectamos, mas, décadas depois, é justo perguntar: elas realmente nos aproximaram ou nos afastaram?
Marcel Nobre é empreendedor, pesquisador, palestrante, TEDx Speaker e professor de inovação, tecnologias, IA, liderança e educação. Graduado em Administração de Empresas pela FEI, possui MBA em Gestão Empresarial pela FIA/USP, além de especializações em Letramento em Futuros, Neurociência e Metaverso. É fundador e CEO da BetaLab, uma edtech inovadora, e atua como professor na HSM/Singularity, FIA Business School, Startse e Belas Artes, além de ser mentor de Startups pela Ace Startups.

Compartilhar:

Rede social

As redes sociais mudaram o mundo, mas talvez tenhamos perdido algo essencial no caminho: a capacidade de nos conectarmos de verdade. Já percebeu como levantamos mais assuntos sobre como as redes sociais são maléficas para nossa mente e saúde? Onde foi parar a ideia de comunidade e alimentação mútua? Praticidade nas relações e criações de vínculos?

Em um painel recente no SXSW 2025, Evan Williams (fundador do Twitter, Medium e Blogger), Molly Wilson (cofundadora da Mozi) e Baratunde Thurston debateram como as redes sociais passaram de espaços de conexão para máquinas de engajamento e consumo. A conclusão? Talvez seja hora de repensarmos o que significa ser “social” na era digital.

Se medirmos o sucesso das redes sociais pelo tempo que passamos rolando feeds, elas foram um triunfo. Mas se a métrica for a profundidade dos nossos relacionamentos, estamos em crise. Como destacou Baratunde Thurston, “seu desejo de se conectar foi sequestrado por um sistema que te ensina a consumir”.

O modelo de negócio das redes sociais, baseado em anúncios e engajamento, transformou a interação humana em um produto. Em vez de fortalecer laços, as plataformas priorizam o que mantém os usuários online por mais tempo. O resultado é um ciclo vicioso: a vontade de se conectar é substituída pelo impulso de consumir conteúdo, muitas vezes superficial e desconectado da realidade.

Evan Williams apontou que a própria estrutura das redes sociais incentiva a superficialidade. O modelo de “seguir” alguém cria um viés de consumo, não de troca. Quando o algoritmo decide o que você vê, a conexão genuína fica em segundo plano. “O maior erro das redes sociais foi transformar todo mundo em um criador de conteúdo”, afirmou Williams.

Essa dinâmica não apenas esvazia as interações, mas também gera ansiedade e comparação. Como Molly Wilson destacou, “se você sai de uma rede social se sentindo pior do que entrou, talvez ela não seja tão social assim”.

Diante desse cenário, Molly Wilson e Evan Williams criaram a Mozi, uma rede privada focada em conexões reais. Diferente das redes tradicionais, a Mozi não usa algoritmos para empurrar conteúdo ou pressionar os usuários a performar online. A ideia é simples: saber onde seus amigos estão e facilitar encontros no mundo real.

“Conexão de verdade não acontece no feed, acontece na vida real”, disse Molly. A Mozi representa uma espécie de “anti-rede social”, onde o objetivo não é viralizar, mas reconectar pessoas sem transformar a interação em espetáculo.

Mas como fazer essa oportunidade funcionar?

Um dos grandes desafios da Mozi é monetizar sem cair nas mesmas armadilhas das redes tradicionais. O plano é um modelo “freemium”, sem anúncios ou venda de dados, inspirado em apps como Strava ou plataformas de meditação. A questão é: as pessoas estão dispostas a pagar por algo que sempre foi gratuito?

Para Evan Williams, a resposta pode estar na oferta de valor real. “O problema das redes não é só o algoritmo, mas o fato de que ele substituiu nossas decisões”. Ao devolver o controle aos usuários, a Mozi busca criar uma experiência mais autêntica e significativa.

O painel deixou claro que as redes sociais, como as conhecemos hoje, estão em um impasse. Se, por um lado, elas democratizaram a comunicação, por outro, transformaram a interação humana em um produto. A Mozi e iniciativas semelhantes sugerem que há espaço para um novo modelo, onde a conexão real seja prioridade.

Mas o maior desafio ainda é a escala. Como criar uma rede social que não se transforme em mídia de massa? Como garantir que a tecnologia sirva para aproximar, e não para afastar? Essas são perguntas que todos nós, como usuários e criadores, precisamos responder.

Compartilhar:

Marcel Nobre é empreendedor, pesquisador, palestrante, TEDx Speaker e professor de inovação, tecnologias, IA, liderança e educação. Graduado em Administração de Empresas pela FEI, possui MBA em Gestão Empresarial pela FIA/USP, além de especializações em Letramento em Futuros, Neurociência e Metaverso. É fundador e CEO da BetaLab, uma edtech inovadora, e atua como professor na HSM/Singularity, FIA Business School, Startse e Belas Artes, além de ser mentor de Startups pela Ace Startups.

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Empreendedorismo
Alinhando estratégia, cultura organizacional e gestão da demanda, a indústria farmacêutica pode superar desafios macroeconômicos e garantir crescimento sustentável.

Ricardo Borgatti

5 min de leitura
Empreendedorismo
A Geração Z não está apenas entrando no mercado de trabalho — está reescrevendo suas regras. Entre o choque de valores com lideranças tradicionais, a crise da saúde mental e a busca por propósito, as empresas enfrentam um desafio inédito: adaptar-se ou tornar-se irrelevantes.

Átila Persici

8 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A matemática, a gramática e a lógica sempre foram fundamentais para o desenvolvimento humano. Agora, diante da ascensão da IA, elas se tornam ainda mais cruciais—não apenas para criar a tecnologia, mas para compreendê-la, usá-la e garantir que ela impulsione a sociedade de forma equitativa.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG
Compreenda como a parceria entre Livelo e Specialisterne está transformando o ambiente corporativo pela inovação e inclusão

Marcelo Vitoriano

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O anúncio do Majorana 1, chip da Microsoft que promete resolver um dos maiores desafios do setor – a estabilidade dos qubits –, pode marcar o início de uma nova era. Se bem-sucedido, esse avanço pode destravar aplicações transformadoras em segurança digital, descoberta de medicamentos e otimização industrial. Mas será que estamos realmente próximos da disrupção ou a computação quântica seguirá sendo uma promessa distante?

Leandro Mattos

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Entenda como a ReRe, ao investigar dados sobre resíduos sólidos e circularidade, enfrenta obstáculos diários no uso sustentável de IA, por isso está apostando em abordagens contraintuitivas e na validação rigorosa de hipóteses. A Inteligência Artificial promete transformar setores inteiros, mas sua aplicação em países em desenvolvimento enfrenta desafios estruturais profundos.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura