**Vale a leitura porque…**
… a ansiedade no trabalho onera as empresas e a economia por conta do absenteísmo que gera – as ausências de quem sofre esse distúrbio são, em média, quatro vezes mais longas do que as derivadas de outras doenças ou lesões.
… as empresas não são prejudicadas apenas pelas faltas dos funcionários. Por causa da ansiedade, os que comparecem podem ter afetados seu comportamento ético e sua motivação, entre outros aspectos.
… essa pesquisa, com a Polícia Montada do Canadá, sugere que a ansiedade prejudica mais pela exaustão emocional que provoca no indivíduo do que pela interferência cognitiva, como se acreditava.
… prevenir a ansiedade deve entrar na lista das obrigações organizacionais
A ansiedade é um problema generalizado no ambiente de negócios acelerado de hoje: em pesquisas recentes, 41% das pessoas que trabalham declararam “níveis elevados” de tensão na empresa, e estudos mostram que até 80% se sentem “estressadas”. A má notícia para os empregadores? Ausências relacionadas com a ansiedade são, em média, quatro vezes mais longas do que por outras doenças ou lesões. Estima-se que o flagelo da ansiedade onere a economia norte-americana em mais de US$ 40 bilhões por ano.
Outra má notícia é que altos níveis de ansiedade não têm apenas efeitos econômicos para as organizações; descobriu-se que seu impacto é negativo sobre o comportamento ético, a eficácia organizacional e os resultados financeiros. A ansiedade também é problemática na motivação dos funcionários, já que contribui para a insatisfação no trabalho e prejudica seu desempenho.
**PROBLEMA COGNITIVO OU PESSOAL?**
Por que a ansiedade dos colaboradores é ruim para o desempenho profissional e, consequentemente, para os negócios? Nossa pesquisa encontrou as respostas com base nas teorias da interferência cognitiva, o que é comum, e também na ideia de exaustão emocional (burnout), o que é novidade.
As teorias de interferência cognitiva analisam os pensamentos indesejados e frequentemente perturbadores que às vezes invadem a mente de um indivíduo e que, em seguida, interferem em seu comportamento. Trata-se de um aspecto-chave da dinâmica ansiedade-desempenho, sem dúvida.
Porém não é o único, em nossa visão. Como o conceito de desempenho no trabalho diz respeito à exigência da execução de múltiplas tarefas em um período determinado, ele depende do acesso a recursos cognitivos, é claro, mas também a recursos pessoais. É aí que entra outro fator-chave na relação entre ansiedade e desempenho: a exaustão emocional.
Esta pode ser definida como um estado crônico de sobrecarga física e emocional resultante do excesso de trabalho e/ou de exigências pessoais e estresse contínuo.
Entre os poucos estudos que já analisaram a ansiedade no local de trabalho, a maioria focou a interferência cognitiva como fator primário. Eles confirmaram a associação negativa entre ansiedade e desempenho – conforme a ansiedade se eleva, o desempenho cai –, mas postularam que isso ocorre porque a ansiedade interfere na capacidade da pessoa de processar fatos imediatos, o que, por sua vez, resulta em um desempenho pior
Em nossa pesquisa, provamos que a exaustão emocional é ainda mais poderosa do que essa “incapacidade” cognitiva quando se trata de piorar o desempenho. Isso ocorre porque, como dissemos, o desempenho profissional exige a execução de múltiplas tarefas por longos períodos, o que faz com que seja bastante dependente dos recursos pessoais. Altos níveis de ansiedade no local de trabalho drenam tais recursos, resultando em níveis reduzidos de desempenho.
A teoria da conservação de recursos de Steven Hobfoll detalha as causas e consequências da exaustão emocional. Ela afirma que os indivíduos naturalmente se esforçam para proteger e conquistar recursos como tempo e energia e que fazer isso é importante porque a “drenagem de recursos” leva à exaustão emocional. As pessoas também enfatizam o “longo prazo” por isso; elas preveem o esgotamento de recursos com o decorrer do tempo.
Uma premissa-chave da teoria de Hobfoll é que o esgotamento contínuo de recursos pessoais resulta em sintomas de burnout.
**O APOIO SOCIAL É O MAIS IMPORTANTE**
Além do estudo de campo com a Polícia Montada do Canadá, pesquisas teóricas têm oferecido insights sobre fatores que podem amortecer a relação negativa entre ansiedade e desempenho. Em geral, elas mostram que, para mitigar os efeitos dessa relação, as pessoas costumam recorrer a recursos disponíveis no ambiente.
O apoio social é especialmente crítico entre tais recursos, conforme os pesquisadores Julie McCarthy e John Trougakos, porque consegue neutralizar a drenagem de recursos pessoais e suas consequências. Segundo eles, essas “funções de apoio social” podem servir para reabastecer o pool de recursos de uma pessoa, resultando em “espirais de ganho positivas” que contrabalançam os efeitos da exaustão emocional e promovem melhor desempenho.
McCarthy e Trougakos acreditam que o apoio social é especialmente importante no contexto do trabalho, porque em locais em que os colaboradores interagem regularmente surgem recursos materiais e socioemocionais que os ajudam em suas atividades cotidianas.
Tanto colegas como supervisores estão em condições de fornecer recursos socioemocionais e materiais a um indivíduo que necessite, conforme os autores, evitando a exaustão emocional e prevenindo a queda de desempenho.
**A POLÍCIA MONTADA CANADENSE**
Conduzimos um estudo de campo com a Polícia Montada do Canadá para testar nossas hipóteses sobre a ansiedade, o desempenho no trabalho, a exaustão emocional e a interferência cognitiva, ao lado de nosso coautor Bonnie Cheg, da Hong Kong Polytechnic University.
Devido às interações regulares com criminosos violentos, cenas de crimes, vítimas de acidentes e situações afins, o ambiente policial é particularmente caracterizado por altos níveis de estresse.
Os funcionários desses locais correm riscos significativamente maiores de problemas de saúde física e mental do que a população em geral, e não surpreende que a ansiedade no local de trabalho seja um fenômeno comum em organizações policiais.
Entre os participantes de nosso estudo estavam policiais e seus supervisores. No momento 1, os policiais passaram por uma avaliação da ansiedade no local de trabalho. No momento 2 (três meses depois), foram medidos os níveis de exaustão emocional e de interferência cognitiva. No momento 3 (seis semanas depois do momento 2), os supervisores foram avaliados quanto às trocas com seus subordinados e quanto ao desempenho no trabalho. Para todas as etapas houve comparação com grupos de pares.
A ansiedade no local de trabalho foi medida segundo a escala de ansiedade de desempenho desenvolvida por uma das autoras, Julie McCarthy, e por Richard Goffin. Para que se tenha uma ideia da escala, um de seus itens é: “Não paro de pensar que estou fazendo mal meu trabalho”.
A exaustão emocional nós avaliamos com a subescala de cinco itens do Maslach Burnout Inventory General Survey. Um item dessa pesquisa, por exemplo, é: “Sinto-me imprestável no fim de um dia de trabalho”.
A interferência cognitiva foi estimada por meio de seis itens adaptados do Cognitive Interference Questionnaire. Um deles é: “Quando estou no trabalho, penso em atividades extraprofissionais”.
Como previsto, demonstrou-se uma relação positiva significativa entre a ansiedade no local de trabalho e a exaustão emocional, o que, por sua vez, revelou ter um efeito negativo significativo sobre o desempenho profissional.
Descobrimos também que as relações entre colegas moderam de forma significativa a relação entre ansiedade no local de trabalho e exaustão emocional, enquanto as relações entre chefia e colaboradores modera de maneira significativa a ligação entre exaustão emocional e desempenho no trabalho.
Nossa pesquisa fez dois achados importantes:
**1.** A exaustão emocional é, sim, um mecanismo importante da relação entre ansiedade e desempenho.
**2.** As trocas sociais podem mitigar os efeitos nocivos da ansiedade no local de trabalho, seja entre colegas, seja entre subordinados e líderes.
**MUDANDO AS COISAS**
Tais descobertas têm implicações notáveis para pessoas que sofrem de altos níveis de ansiedade em geral, assim como para aquelas que atuam em ambientes muito exigentes e que trabalham com atividades sujeitas a fortes pressões.
Em primeiro lugar, o estudo demonstra com clareza que a ansiedade no local de trabalho tem um custo mais alto do que pode parecer, já que indivíduos ansiosos têm mais tendência a vivenciar exaustão emocional e, portanto, a registrar níveis de desempenho mais baixos.
Em segundo lugar, mostra quão crucial é para esses profissionais ter acesso a outros recursos que lhes permitam se recuperar da drenagem de recursos pessoais que a ansiedade no local de trabalho pode induzir.
Em terceiro lugar, nossos achados destacam o relevante papel da troca social para combater essa ansiedade, já que os colaboradores que conseguem se apoiar em líderes e colegas têm menor tendência a vivenciar os efeitos nocivos da ansiedade e da exaustão emocional.
Qual a mensagem para as organizações? Elas devem trabalhar continuamente para melhorar as relações entre colegas e entre funcionários e supervisores. Isso é fundamental. Algumas pesquisas já sugerem o caminho: a chave para desenvolver essas relações fortes seria a comunicação aberta. É muito simples. O que você está esperando?
**Você aplica quando…**
… amortece a relação negativa entre ansiedade e desempenho, disponibilizando os recursos no ambiente, sobretudo o apoio social.
… estimula que colegas deem apoio social aos mais ansiosos, porque em locais em que os colaboradores interagem regularmente surgem outros recursos que os ajudam em suas atividades cotidianas – tanto materiais como socioemocionais – e a exaustão emocional é contida.
… incentiva outros líderes a também oferecer esse apoio a seus subordinados, porque é esse tipo de relacionamento que consegue evitar de maneira significativa a ligação entre exaustão emocional e queda de desempenho.