Comunidades: CEOs do Amanhã, Sociedade

Liderança jovem e empresas B para um futuro desejável

Acreditar no potencial da ação coletiva é diferencial para novos líderes e para organizações que desejam ressignificar o que é sucesso para os negócios

Lara Cavalcanti Martins

Mulher negra brasileira protagonista na construção de um futuro sustentável para todas e todos. Delegada...

Compartilhar:

Você deve se lembrar que, [em minha primeira coluna](https://www.revistahsm.com.br/post/a-agenda-2030-e-a-construcao-de-um-futuro-desejavel), criei duas situações hipotéticas que ajudam a pintar o cenário de um futuro desejável. Vou recuperá-las aqui:

> 1º de janeiro de 2030. Uma jovem marroquina acorda para mais um dia de trabalho. Vai até a sua geladeira e se serve de um copo d’água potável em sua casa própria. Após se preparar, pega os equipamentos para a sua bicicleta e se despede dos filhos: “Até a noite. Bom dia na escola, queridos!”. Seu andar é abastecido por energia motora e ainda reduz a emissão de gases poluentes e nocivos ao planeta.
>
> Em 2020, eu me levanto para mais um dia de trabalho. Vou até a geladeira da casa da minha mãe, pego o meu café da manhã. Com pressa, me arrumo, pego as chaves de casa e me despeço: “Estou indo, não posso me atrasar. Dia longo hoje, não me espere para o jantar”.

Nessa sequência, vamos falar sobre o papel dos jovens líderes na construção dessa nova agenda e dar exemplos práticos de empresas que têm demonstrado acreditar em um mundo melhor.

## “O que é seu, é seu. O que é céu, é nosso!”
Ouvi essa frase durante uma apresentação circense de uma artista de rua chamada K. Além de falar de céu, que tem a minha cor preferida, ela ressoa em mim porque fala do todo. Quando olho para o alto, vejo esse cobertor azul que nos envolve. Quando a mulher marroquina de 2030 olhar para o céu do futuro, ela também verá esse mesmo azul.

O céu ultrapassa o tempo e o espaço. E espero que assim continue. Ele conecta todos nós, independentemente de gênero, cor de pele, condição social ou qualquer outra distinção. Conforme afirmou o ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, “vocês são a primeira geração que pode acabar com a pobreza e a última que pode salvar o meio ambiente”.

Em dez anos, nós, jovens, seremos os líderes no comando das empresas e dos governos. A [contagem regressiva da “década de ação”](https://www.revistahsm.com.br/post/intraempreendedorismo-de-impacto-no-brasil) da Agenda 2030 já terá chegado ao fim. A questão que fica no ar é: será preciso a construção de uma nova agenda e o adiamento da vida em um mundo no qual a agenda foi construída e sonhada?

Clarice Lispector disse que “quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza, vai mais longe” – e já comentei em meu texto anterior que embora o poder individual tenha grande potencial de transformação, o coletivo possui poder muito maior de mudança. Ao refletirmos sobre a força da ação coletiva, qual o papel dos líderes e das empresas na construção do futuro que queremos?

## Nasce o movimento B
A participação de multinacionais é imprescindível para o sucesso de uma campanha que [deseja reformar o capitalismo](https://www.revistahsm.com.br/post/esg-tambem-e-para-pequenas-e-medias-empresas), ou seja, para que organizações saibam entregar valor não somente para seus acionistas, mas para todas as partes interessadas. Nesse sentido, o movimento B, comunidade na qual lidero no Rio de Janeiro, e empresas como Danone, Laureate Education e Natura estão dando exemplo de como isso pode ser feito.

Em 2006, três amigos criaram o movimento B nos Estados Unidos, com o objetivo de [equilibrar o propósito e o lucro das corporações](https://www.mitsloanreview.com.br/post/o-capitalismo-pode-salvar-o-mundo). Afinal, conforme diz o manifesto do movimento, “qual é o sentido de uma economia que cresce financeiramente e que, por sua própria natureza, gera uma desigualdade cada vez maior, acaba com a água e com outros recursos da Terra, aprofunda o individualismo e a exclusão de milhares de pessoas?”.

Desde então, empresas como Natura, Movida, Mãe Terra, Meu Copo Eco, Reserva, Ben & Jerry’s e Danone, a fim de serem certificadas nacional e internacionalmente, se comprometeram a mensurar seu impacto nos seus trabalhadores, clientes, fornecedores, comunidade e ambiente. A missão é simples: ser um movimento de pessoas usando empresas como uma força para o bem, ressignificando o conceito de sucesso nos negócios.

## “Não é ser a melhor empresa do mundo, e sim a melhor empresa para o mundo”
As empresas B fazem parte de um grupo internacional que visa acelerar uma mudança cultural global e construir uma economia mais inclusiva e sustentável. Tornar-se uma organização certificada significa que apresentar um alto desempenho social e ambiental, ser transparente em suas ações e responsável legalmente para entregar uma [combinação perfeita entre lucro e propósito](https://www.revistahsm.com.br/post/e-preciso-ir-alem-da-estrategia).

De acordo com o B Lab, os problemas mais desafiadores da sociedade não podem ser resolvidos apenas pelo governo e organizações sem fins lucrativos. Assim, a comunidade do B Lab trabalha constantemente para reduzir a desigualdade, alcançar níveis mais baixos de pobreza, promover ambientes mais saudáveis e comunidades mais fortes, e criar mais empregos de alta qualidade, com dignidade e propósito.

Desde a sua fundação, a B Lab já certificou mais de 3.500 empresas em cerca de 70 países. No Brasil, existem mais de 165 empresas certificadas. A empresa B do Rio de Janeiro, Baluarte Cultura, é uma delas. Finalista do Prêmio ODS 2019 do Pacto Global, a Baluarte tem como principal ODS o objetivo 8 (trabalho decente e crescimento econômico), além de estar alinhada também ao ODS 4 (educação de qualidade). Um dos cases de sucesso citado pelo Pacto Global é o Estúdio Escola de Animação da Baluarte, que oferece capacitação profissional gratuita em animação audiovisual para crianças.

Em 2020, uma parceria entre Pacto Global e B Lab resultou na ferramenta [SDG Action Manager](https://app.bimpactassessment.net/get-started/partner/ungc), online e gratuita, para medir como as empresas influenciam e impactam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A Danone SA, que busca impactar diretamente a erradicação da fome (ODS 2), garantir saúde e bem-estar (ODS 3) e acesso à água potável e saneamento (ODS 6), reconheceu a importância do SDG Action Manager para seu planejamento e o utilizou para tangibilizar e entender o real impacto de suas ações.

Diante dos dados trazidos aqui, o que você pode fazer para o futuro seja aquele que desejamos, menos desigual, mais justo e sustentável? Qual é o seu papel na sociedade, especialmente se [você é jovem e deve liderar](https://www.revistahsm.com.br/post/jovem-demais-para-ser-team-leader) empresas em breve? Como construir coletivamente o futuro que queremos?

Compartilhar:

Artigos relacionados

O novo sucesso que os RHs não estão percebendo

As novas gerações estão redefinindo o conceito de sucesso no trabalho, priorizando propósito, bem-estar e flexibilidade, enquanto muitas empresas ainda lutam para se adaptar a essa mudança cultural profunda.

Quem pode mais: o que as eleições têm a nos dizer? 

Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.