Uncategorized

Liderança para compartilhar valor na cadeia

Desenvolver uma relação saudável com fornecedores é prática comum dos líderes da nova economia
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

Compartilhar:

Muitas vezes a relação cliente-fornecedor é transacional. Há poucos vínculos que não se limitam a uma relação estritamente comercial entre as partes. No modo mais convencional de fazer negócio, cada um busca o seu melhor interesse, o que, em geral – e ao contrário do que se pensa –, não gera o melhor resultado para ambos no longo prazo.

A relação entre as partes numa cadeia de valor é assimétrica. O acesso à informação é limitado e há um desequilíbrio de poderes. Healing leaders podem mostrar que é possível fazer diferente. Os fornecedores são agentes econômicos fundamentais para a organização cumprir sua função e, entre as boas práticas que podem ser aplicadas, destacamos: 

**1.   Transparência:**

Reduz o custo de transação e a assimetria de informação para as partes operarem, resultando em maior confiança e, no limite, um consumidor mais consciente e responsável por sua decisão de compra. A C&A[1], uma das empresas líderes da indústria da moda, foi pioneira em tornar pública a lista de fornecedores diretos.

**2.   Ciclo de pagamento:**

Mais de 70% da economia do país é formada por pequenas empresas. Naturalmente, serão fornecedores de grandes empresas em diversas etapas da cadeia de valor. No entanto, entre as práticas mais comuns vistas nos departamentos de compras está o prazo de pagamento que varia entre 90 e 180 dias, o que impacta drasticamente o fluxo de caixa dos fornecedores. Em uma cadeia de valor mais inclusiva e sustentável, é importante que isso seja revisto. Uma prática referência é o Banco Cooperativo do Brasil S.A. (Bancoob), um banco múltiplo privado especializado no atendimento a cooperativas de crédito. Entre suas políticas de fornecedores, está o pagamento dentro do ciclo mensal.

**3.   Rastreabilidade:**

Saber a origem do que você compra é uma prática cada vez mais demandada. Com o avanço de tecnologias como o blockchain, diversos protocolos já estão sendo redesenhados para que, combinada com a transparência, a rastreabilidade na cadeia amplie a eficiência e a confiança, e mitigue riscos de assimetria de poderes e informação. A empresa B Patagonia, por exemplo, tem sido uma grande referência na indústria da moda ao rastrear 100% do tier 1; 50% do tier 2; 25% do tier 3, e 10% do tier 4. Em um campo tão controverso como a indústria têxtil, a busca por melhoria contínua da empresa inspira a todos na direção dessa nova economia.

**4.   Desenvolvimento territorial:**

Muitas empresas se propõem a compensar as externalidades negativas de sua atuação por meio de ações de responsabilidade corporativa empresarial em seu território. Segundo o Grupo de Institutos e Fundações Empresariais (GIFE), combinado com os recursos de educação, chega a 80% dos orçamentos de investimento social privado. A evolução disso passa por atuar em parceria com seus fornecedores para desenvolvimento e fortalecimento de comunidades. Comece mapeando e selecionando fornecedores em seu entorno. A Reserva, empresa de moda masculina referência no país e alinhada aos princípios do Capitalismo Consciente, privilegia fornecedores nacionais apesar do custo, segundo informações que divulgam. A empresa B Vivenda, pioneira na reforma de casas para população de baixa renda, deixa em média 60% de sua receita na própria comunidade onde atua, por conta da contratação de mão de obra e materiais de construção da própria região. São exemplos de uma atuação de maneira sustentável na cadeia e alinhada com o negócio.

**5.   Compliance adequado:**

Encontrar um caminho que permita uma cadeia de valor inclusiva, mas que se corresponsabilize pelo impacto e pela conduta, não é tarefa fácil. Por isso, muitos dos grandes compradores elaboram programas de desenvolvimento da cadeia de valor para levar seus fornecedores a níveis de excelência de compliance e de inclusão. Um exemplo de referência é o programa QLICAR[2] da Natura, cujo objetivo é alavancar o desempenho da cadeia de fornecimento por meio da gestão de performance e de ações para desenvolvimento conjunto de processos.

Além dessas práticas, vale a pena um duplo clique nessa dimensão e avaliar também como sua organização pode atingir a agenda 2030 – Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) por meio dessa rede de fornecimento. Valor compartilhado na cadeia, considerando os fornecedores, já é realidade, e as boas práticas estão aí para provar isso. Lembre-se: o seu fornecedor pode ser seu maior cliente.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas, Liderança
As novas gerações estão redefinindo o conceito de sucesso no trabalho, priorizando propósito, bem-estar e flexibilidade, enquanto muitas empresas ainda lutam para se adaptar a essa mudança cultural profunda.

Daniel Campos Neto

4 min de leitura
ESG, Empreendedorismo
31/07/2024
O que as empresas podem fazer pelo meio ambiente e para colocar a sustentabilidade no centro da estratégia

Paula Nigro

3 min de leitura
ESG
Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.
3 min de leitura
Empreendedorismo, ESG
01/01/2001
A maior parte do empreendedorismo brasileiro é feito por mulheres pretas e, mesmo assim, o crédito é majoritariamente dado às empresárias brancas. A que se deve essa diferença?
0 min de leitura
ESG, ESG, Diversidade
09/10/2050
Essa semana assistimos (atônitos!) a um CEO de uma empresa de educação postar, publicamente, sua visão sobre as mulheres.

Ana Flavia Martins

2 min de leitura
ESG
Em um mundo onde o lucro não pode mais ser o único objetivo, o Capitalismo Consciente surge como alternativa essencial para equilibrar pessoas, planeta e resultados financeiros.

Anna Luísa Beserra

3 min de leitura
Inteligência Artificial
Marcelo Murilo
Com a saturação de dados na internet e o risco de treinar IAs com informações recicladas, o verdadeiro potencial da inteligência artificial está nos dados internos das empresas. Ao explorar seus próprios registros, as organizações podem gerar insights exclusivos, otimizar operações e criar uma vantagem competitiva sólida.
13 min de leitura
Estratégia e Execução, Gestão de Pessoas
As pesquisas mostram que o capital humano deve ser priorizado para fomentar a criatividade e a inovação – mas por que ainda não incentivamos isso no dia a dia das empresas?
3 min de leitura