Gestão de Pessoas

Não menosprezem as hard skills

Com a valorização cada vez mais das soft skills, comete-se o perigoso equívoco de não investir na parte técnica, isto é, no ponto estratégico do negócio. Consequentemente, há um aumento na vala da qualificação
Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou na Editora Abril por 15 anos, nas revistas Exame, Você S/A e Você RH. Ingressou no Great Place to Work em 2016 e, desde Janeiro de 2023 faz parte do Ecossistema Great People, parceiro do GPTW no Brasil, como diretora de Conteúdo e Relações Institucionais. Faz palestras em todo o País, traçando análises históricas e tendências sobre a evolução nas relações de trabalho e seu impacto na gestão de pessoas. Autora dos livros: *Grandes líderes de lessoas*, *25 anos de história da gestão de pessoas* e *Negócios nas melhores empresas para trabalhar*, já visitou mais de 200 empresas analisando ambientes de trabalho.

Compartilhar:

Nos últimos anos, relatórios e pesquisas de consultorias e fóruns do mundo inteiro despejaram suas tendências sobre a importância das soft skills ou competências comportamentais no trabalho. Talvez a lista mais famosa seja a divulgada pelo Fórum Econômico Mundial sobre as [15 habilidades mais importantes para os profissionais até 2025](https://www.infomoney.com.br/carreira/as-15-habilidades-que-estarao-em-alta-no-mercado-de-trabalho-ate-2025-segundo-o-forum-economico-mundial/).

Embora haja no seu ranking competências consideradas mais “hard”, como programação, uso de tecnologia e análise de sistemas, foram as habilidades “soft” que propagaram pelos debates, palestras e rodas de conversas mundo corporativo afora. Elas traziam uma perspectiva de que no mundo atual valem mais o comportamento do que o conhecimento mais profundo do negócio.

## Falar de soft skills ficou na moda. E isso pode ser perigoso
Estamos vivendo em um período severo de falta de qualificação. Até um nível de conhecimento superficial sobre diversos assuntos está em falta. Isso não se limita aos cargos ligados à tecnologia. Em todas as áreas sentimos escassez de profissionais preparados. Muitos têm visão de mundo rasa e pouco pensamento crítico (uma competência, aliás, que apareceu na lista do Fórum Econômico Mundial).

A demanda aumenta e os bancos escolares não entregam esses profissionais na mesma proporção que o mercado hoje cobra. Aí, a conta não fecha e, mais uma vez, vai sobrar para a empresa desenvolver esse profissional.

Por muito tempo, as melhores empresas para trabalhar vêm pagando essa conta extra no aprimoramento de seus funcionários. Em 2021, por exemplo, a média de horas de treinamento por colaborador entre as [150 Melhores Empresas para Trabalhar](https://conteudo.gptw.com.br/150-melhores-2020), segundo o ranking Great Place to Work, foi de 3,8 mil, um aumento de 33% em relação ao ano anterior.

O que nos preocupa é o conteúdo desses treinamentos. Ao valorizar cada vez mais as soft skills, cometemos o perigoso equívoco de deixar de investir na parte técnica, no ponto estratégico do negócio. A consequência é um aumento na vala da qualificação.

Durante um workshop para uma plateia de CHROs realizado por uma das empresas mais famosas do mundo, o presidente resumiu em uma frase o grau de expectativa em relação aos seus profissionais: “entre valores e resultados, ficamos com os dois”. Gostamos tanto desse conceito que decidimos incluí-lo na cultura do Great Place to Work Brasil.

## O melhor dos dois mundos
Sozinhas, as soft skills não sustentam o desempenho – nem do profissional, muito menos da empresa. Isso também vale, é claro, para as hard skills. É impossível fazer uma gestão de pessoas sustentável baseada apenas em resultados e metas. Portanto, que fique claro: este artigo não pretende transferir o peso que se dá hoje às soft skills para as hard skills, mas, sim, fazer um alerta e propor um ajuste nesse pêndulo.

Passamos anos valorizando apenas a parte técnica, o conhecimento e a experiência do profissional. Quanto mais sólido seu currículo, melhor era sua reputação. O comportamento, a empatia, a flexibilidade, a inteligência emocional e a resiliência foram características acopladas só mais recentemente no conjunto da obra.

O resultado foi um celeiro de líderes técnicos e batedores de metas que são péssimos gestores de pessoas. Não podemos agora fazer o mesmo com as soft skills. Ao valorizar apenas a parte mais emocional e humana da relação, fechando os olhos para aspectos importantes da formação profissional, corremos o risco de criar outro tipo de líder: aquele que é gente boa, mas é superficial, inseguro e incapaz de tomar decisões.

Sabemos que o líder de hoje precisa fazer mais perguntas do que dar respostas. Mas para fazer as perguntas adequadas, além de conhecer as pessoas e o time, é preciso conhecer o negócio. Ter visão de mundo, pensamento crítico e analítico, uma boa formação, algumas horas de voo e entender bem do seu mercado.

Se não entende, tudo bem, mas é preciso ter a disposição de aprender. Aprender muito e sempre.

A essas competências devemos somar as soft skills. Saber ouvir, agregar, engajar, comunicar, envolver e ser, sobretudo, humano. Unir todas essas competências talvez seja o maior desafio da gestão de pessoas atualmente. E para isso é preciso enfatizar menos e dosar mais. Precisamos de habilidades sociais e também das técnicas. É a união delas que fará a diferença na vida das pessoas e dos negócios.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Liderança
E se o verdadeiro poder da sua equipe só aparecer quando o líder estiver fora do jogo?

Lilian Cruz

3 min de leitura
ESG
Cada vez mais palavras de ordem, imperativos e até descontrole tomam contam do dia-dia. Nesse costume, poucos silêncios são entendidos como necessários e são até mal vistos. Mas, se todos falam, no fim, quem é que está escutando?

Renata Schiavone

4 min de leitura
Finanças
O primeiro semestre de 2024 trouxe uma retomada no crédito imobiliário, impulsionando o consumo e apontando um aumento no apetite das empresas por crédito. A educação empreendedora surge como um catalisador para o desenvolvimento de startups, com foco em inovação e apoio de mentorias.

João Boos

6 min de leitura
Cultura organizacional, Empreendedorismo
A ilusão da disponibilidade: como a pressão por respostas imediatas e a sensação de conexão contínua prejudicam a produtividade e o bem-estar nas equipes, além de minar a inovação nas organizações modernas.

Dorly

6 min de leitura
ESG
No texto deste mês do colunista Djalma Scartezini, o COO da Egalite escreve sobre os desafios profundos, tanto à saúde mental quanto à produtividade no trabalho, que a dor crônica proporciona. Destacando que empresas e gestores precisam adotar políticas de inclusão que levem em conta as limitações físicas e os altos custos associados ao tratamento, garantindo uma verdadeira equidade no ambiente corporativo.

Djalma Scartezini

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A adoção de políticas de compliance que integram diretrizes claras de inclusão e equidade racial é fundamental para garantir práticas empresariais que vão além do discurso, criando um ambiente corporativo verdadeiramente inclusivo, transparente e em conformidade com a legislação vigente.

Beatriz da Silveira

4 min de leitura
Inovação, Empreendedorismo
Linhas de financiamento para inovação podem ser uma ferramenta essencial para impulsionar o crescimento das empresas sem comprometer sua saúde financeira, especialmente quando associadas a projetos que trazem eficiência, competitividade e pioneirismo ao setor

Eline Casasola

4 min de leitura
Transformação Digital, Estratégia
Este texto é uma aula de Alan Souza, afinal, é preciso construir espaços saudáveis e que sejam possíveis para que a transformação ocorra. Aproveite a leitura!

Alan Souza

4 min de leitura
Liderança
como as virtudes de criatividade e eficiência, adaptabilidade e determinação, além da autorresponsabilidade, sensibilidade, generosidade e vulnerabilidade podem coexistir em um líder?

Lilian Cruz

4 min de leitura