Liderança

Não mude as mulheres, mude a sua empresa

Precisamos de representatividade feminina em cargos de liderança dentro e fora das organizações; não podemos limitar o alcance das mulheres, enquadrando-as em sub-representações profissionais
Elisa Rosenthal é a diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker, produz e apresenta o podcast Vieses Femininos. Autora de Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário.

Compartilhar:

“É hora de parar de tentar mudar as mulheres, e começar a mudar os sistemas que as impedem de atingir seu potencial”, disse Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU.

O novo relatório “Fechando a lacuna da liderança: a equidade de gênero e liderança na força de trabalho global de saúde e cuidados” aborda a [situação de liderança feminina](https://www.revistahsm.com.br/post/da-equidade-de-genero-a-lideranca-feminina) no setor de saúde e cuidados, setor que emprega milhões de mulheres em todo o mundo. O relatório foi publicado em 8 de junho de 2021 pelo Centro de Equidade de Gênero da Rede da Força de Trabalho Global (GHWM) da OMS e Mulheres na Saúde Global (WGM).

As mulheres são quase 70% da força de trabalho global nas áreas ligadas à saúde e assistência social, mas elas representam apenas 25% dos cargos seniores.

O mundo entrou na pandemia com uma grave escassez de profissionais de saúde, com as trabalhadoras que aceitaram os desafios impostos pelo coronavírus lidando com um aumento no número de pacientes, falta de pessoal e arriscando suas próprias vidas, especialmente porque o equipamento de proteção individual (EPI) tem sido escasso, inexistente ou não projetado para se adequar aos corpos das mulheres.

Por representarem a maioria dentre os profissionais de saúde e cuidados, as mulheres que atuam nessa área geralmente têm sido maioria entre os profissionais infectados.

## Impactos que extrapolam a área da saúde

Existe uma grande preocupação, que extrapola a área da saúde, acerca dos impactos pela pandemia e a reversão do progresso histórico que as mulheres fizeram pela sua representatividade em cargos de liderança.

Um estudo brasileiro realizado entre maio e junho de 2020 com homens e mulheres de várias regiões do País (26 Estados brasileiros e do Distrito Federal) mostrou que um número grande de pessoas apresentou, durante a pandemia, sintomas de depressão, ansiedade e estresse.

As mais afetadas emocionalmente foram as mulheres, respondendo por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. A pesquisa ouviu três mil voluntários e foi conduzida pela equipe do neuropsicólogo Antônio de Pádua Serafim, do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP).

Este impacto pode ter relação com o fato de que a representatividade de mulheres em cargos de liderança no país caiu e de que mulheres dedicam quase o dobro do tempo do que homens às tarefas do lar.

Em um evento oferecido pela ONG Na’amat SP realizado em 10 de junho, Tal Ben-Shahar, PhD em comportamento e professor de Felicidade pela Harvard University foi categórico ao afirmar: “concentre-se em uma coisa de cada vez e reduza a multitarefa” e ainda usou como exemplo a infelicidade que, sobretudo, as mães passam ao terem que cuidar dos filhos, ao mesmo tempo que resolvem questões profissionais ao telefone e coordenam as tarefas de casa.
Esse exemplo reitera o alerta do relatório da OMS sobre a saúde global e a assistência social serem prestadas por mulheres e lideradas por homens: não podemos enfrentar essa desigualdade mudando as mulheres, precisamos da representatividade nas lideranças.

## Diversidade como cura

As empresas da América Latina que adotam a diversidade tendem a superar outras empresas em práticas-chave de negócios como inovação e colaboração, e costumam ter ambientes de trabalho mais felizes e uma melhor retenção de talentos, refletindo em uma saúde organizacional mais sólida quanto aos resultados, segundo o relatório *[Diversity Matters](https://www.mckinsey.com/br/our-insights/diversity-matters-america-latina)* de junho de 2020 da consultoria internacional Mckinsey & Company.

O estudo foi o primeiro dessa natureza na região e demonstra com clareza a relação entre a existência de diversidade na gerência sênior e a saúde e performance das empresas. Além disso, a pesquisa mostra um forte vínculo entre diversidade e sucesso corporativo: mulheres e grupos minoritários continuam consideravelmente sub-representados nas posições de liderança das empresas latino-americanas.

Isso aponta para a urgência de tomar medidas para promover a diversidade no trabalho, incentivando acima de tudo, a prática da empatia.

A liderança define o ritmo e inspira mudanças, para isso, agir com transparência é fundamental. Além da equidade de gênero em cargos de decisões, todos os líderes devem ser catalisadores da mudança.

## PROCESSO DE CURA

Por fim, já é sabido que organizações lideradas por grupos diversos e com equidade apresentam melhores resultados financeiros. Agora é preciso reforçar que a diversidade pode curar ambientes corporativos adoecidos. Um remédio que está ao alcance de todos nós.

*Gostou do artigo da Elisa Tawil? Saiba mais sobre liderança feminina dentro e fora das organizações assinando gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e ouvindo [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) na sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Tecnologias exponenciais
A matemática, a gramática e a lógica sempre foram fundamentais para o desenvolvimento humano. Agora, diante da ascensão da IA, elas se tornam ainda mais cruciais—não apenas para criar a tecnologia, mas para compreendê-la, usá-la e garantir que ela impulsione a sociedade de forma equitativa.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG
Compreenda como a parceria entre Livelo e Specialisterne está transformando o ambiente corporativo pela inovação e inclusão

Marcelo Vitoriano

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O anúncio do Majorana 1, chip da Microsoft que promete resolver um dos maiores desafios do setor – a estabilidade dos qubits –, pode marcar o início de uma nova era. Se bem-sucedido, esse avanço pode destravar aplicações transformadoras em segurança digital, descoberta de medicamentos e otimização industrial. Mas será que estamos realmente próximos da disrupção ou a computação quântica seguirá sendo uma promessa distante?

Leandro Mattos

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Entenda como a ReRe, ao investigar dados sobre resíduos sólidos e circularidade, enfrenta obstáculos diários no uso sustentável de IA, por isso está apostando em abordagens contraintuitivas e na validação rigorosa de hipóteses. A Inteligência Artificial promete transformar setores inteiros, mas sua aplicação em países em desenvolvimento enfrenta desafios estruturais profundos.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura
ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura