Classificada por décadas como um “país imitador”, a China agora ressurge como epicentro global de inovação em negócios e tecnologia. Nosso setor de tecnologia associada à internet – que abarca dos apps de transporte a e-commerce, robótica e inteligência artificial – cresceu 20% em 2018, atingindo um valor total de US$ 142 bilhões. Duas empresas chinesas, Tencent e Alibaba, estão agora entre as dez companhias mais valiosas do mundo. A China também se tornou o segundo maior berço de unicórnios (companhias de capital fechado avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais), e registrou o maior número de patentes domésticas relativas a inteligência artificial, ultrapassando o Vale do Silício em mais de sete vezes, segundo a publicação norte-americana CB Insights.
Para quem não entendeu nossa virada, aponto os fatores que contribuíram para ela. Primeiro, uma mentalidade de “por que não eu?” orienta os empreendedores chineses que, percebendo o enorme gap entre a China e o resto do mundo, especialmente nos anos iniciais da reforma e abertura do país, quiseram mostrar que eles também poderiam ter sucesso. Segundo, conforme a economia se transformou, os pontos sociais de dor antes escondidos foram expostos; associados à prevalência da tecnologia (especialmente a internet sem fio e os smartphones), esses pontos ofereceram terreno fértil para inovações. Terceiro, enquanto os órgãos governamentais foram lentos como de praxe, empreendedores privados assumiram o desafio para si e aproveitaram as oportunidades. O gigante mercado de consumo chinês permitiu às empresas escalarem rápido, e a hiperconcorrência forçou-as a inovar continuamente. E houve abundantes fontes de capital de risco e investidores-anjo, locais e estrangeiros.
O ecossistema de inovação surgiu do singular modelo de desenvolvimento chinês de “Dualidade em Três Camadas”. Na camada do topo, a mão orientadora do governo central estabeleceu uma direção para o país, dando a todos metas claras a seguir. Na camada inferior, empreendedores do setor privado, que vêm emergindo desde o fim da Revolução Cultural Chinesa, são uma força importante no crescimento da economia. E, no meio, os governos locais canalizam seus recursos para prioridades nacionais e locais, com frequência colaborando de perto com empreendedores que trazem ideias inovadoras para a mesa. Governos locais em geral concorrem entre si, mas também cooperam em clusters regionais. Apesar de o modelo às vezes sofrer com os gargalos, em geral a coexistência de players privados e públicos lhe garante uma resiliência tremenda.
O caminho da China no sentido de uma economia inovadora não será uma linha reta; terá altos e baixos. Apesar disso, com a escala do mercado chinês e seu índice de crescimento relativamente rápido, o avanço cada vez maior de várias formas de tecnologia (da inteligência artificial ao 5G) e a “Dualidade em Três Camadas”, prevemos que a China continuará a produzir inovações significativas.