Uncategorized

O BEISEBOL, AS DECISÕES E O “VIÉS DO BEM”

Distorções são inerentes a qualquer processo decisório; as escolhas feitas pelos árbitros do beisebol podem contribuir para que os executivos tomem melhores decisões, como diz o professor Etan Green, da Wharton School

Compartilhar:

**SAIBA MAIS SOBRE ETAN GREEN

Quem é:** professor e pesquisador da Wharton School of Business, da University of Pennsylvania.
**Trajetória:** formado em Stanford, foi pesquisador patrocinado pela Microsoft.
**Pesquisa:** “What Does it Take to Call a Strike? Three Biases in Umpire Decision Making”, paper escrito conjuntamente com David P. Daniels, professor de Stanford. 

**5 Por que você foi estudar o beisebol?**

Quis estudar a tomada de decisões em uma situação em que fosse possível prever o resultado por meio de modelos que rodam em máquinas e de algoritmos. Escolhemos o beisebol porque utilizamos as imagens captadas pelas câmeras do estádio que ficam perto da posição do árbitro para analisar os parâmetros das decisões tomadas por ele em cada lance. Queríamos saber o que ele levava em conta, consciente ou inconscientemente, para decidir. 

**4 Qual foi a principal descoberta?**

O que mais chamou a atenção foi um desvio sistemático nas decisões. No embate mais tradicional do beisebol, entre o arremessador e o rebatedor, há uma contagem que define quem leva a melhor. Quando a contagem chega a quatro arremessos errados, a vantagem é do rebatedor. Mas, se a contagem marca três “strikes”, ou seja, três arremessos certos não rebatidos, o rebatedor é eliminado. 

O que observamos é que a contagem acaba influenciando o modo como o árbitro vê os lances, em especial os mais difíceis ou duvidosos, ou se a disputa está bem equilibrada. Quando a contagem favorece o rebatedor, o juiz tende a beneficiar o arremessador, e vice-versa. 

**3 Por que isso acontece?**

Dessa maneira, o juiz não acaba tomando decisões erradas? Na prática, o que o árbitro faz é utilizar o viés para ter mais precisão. Ele é propositalmente parcial, consciente ou inconscientemente, e isso, na verdade, o ajuda a tomar decisões mais corretas 

Com arremessos a mais de 100 quilômetros por hora, decidir um lance pode ser incrivelmente difícil para que se dependa exclusivamente da observação. Felizmente, o árbitro tem à disposição outras informações, baseadas em expectativas construídas ao longo de anos de atuação profissional. 

Por exemplo: é razoável ele imaginar que, com a contagem indicando três arremessos errados e nenhum “strike”, o arremessador vá procurar acertar de qualquer jeito. 

Na situação inversa, com 2 a 0 contra ele, o rebatedor vai tentar rebater de qualquer maneira, pois o lance pode significar sua eliminação do jogo. Assim, se o rebatedor prefere não ir à bola, o árbitro pode pensar que o jogador, de seu ponto de vista privilegiado, viu algo que ele não conseguiu ver, indicando que o arremesso iria para fora. 

Esse modo de processar informações que vão além da situação em si cria uma relação positiva entre viés e precisão. Ajuda o árbitro a tomar a decisão certa, mesmo que para isso ele tenha de levar em conta não apenas as regras ou lance em questão.

**2 O que alguém do mundo dos negócios pode aprender com essa pesquisa?**

Acho que o árbitro consegue, na prática, decidir como se pudesse recorrer a estatísticas. Ele possui diretrizes claras sobre como decidir, com base somente nas regras e no lance, mas nem sempre isso é possível; é muito difícil observar sempre o exato curso da bola. Assim, ele pensa: “Tenho outras informações relativas a essa situação que podem, na média, me ajudar a tomar uma decisão mais precisa”. 

Cenários como esse estão em todo lugar. No ambiente de trabalho, isso acontece, por exemplo, no processo de contratação de funcionários. Quando você vai contratar alguém, também parte de diretrizes, como o árbitro. Quer contratar o profissional mais talentoso e que se encaixe melhor nos requisitos da posição. No entanto, geralmente é difícil conseguir isso com os elementos-base do processo, como o currículo e a entrevista. 

É possível que você acabe dependendo de outros fatores que não deveria usar, ligados a suas experiências anteriores; são fatores que podem lhe dar informações sobre quão adequado para o emprego é o candidato. E você tende a estar certo ao fazer isso, como no caso do árbitro do beisebol. Mesmo que seja por meio de um viés, você obterá um pouco mais de precisão em sua decisão. 

**1 Você também vai estudar as decisões dos pesquisadores de intenções de voto?**

Esse campo anda complexo… Sim. Há basicamente dois modelos, que partem de pressupostos diferentes. Em um, observam-se só os resultados das pesquisas, ou seja, o que as pessoas estão dizendo em dado momento. No outro, são analisados diversos indicadores, como os econômicos, que, historicamente, ajudam a prever o resultado eleitoral. Aparentemente, a decisão sobre o que priorizar ou como equilibrar esses dois tipos de informação está relacionada com o decisor fazer, ou não, uma relação com pleitos passados.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Empreendedorismo
Contratar um Chief of Staff pode ser a solução que sua empresa precisa para ganhar agilidade e melhorar a governança

Carolina Santos Laboissiere

7 min de leitura
ESG
Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Carolina Ignarra

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 2º no ranking mundial de burnout e 472 mil licenças em 2024 revelam a epidemia silenciosa que também atinge gestores.
5 min de leitura
Inovação
7 anos depois da reforma trabalhista, empresas ainda não entenderam: flexibilidade legal não basta quando a gestão continua presa ao relógio do século XIX. O resultado? Quiet quitting, burnout e talentos 45+ migrando para o modelo Talent as a Service

Juliana Ramalho

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura