A importância econômica e social do agronegócio brasileiro é inquestionável. Há décadas o setor tem sido protagonista da expansão do Produto Interno Bruto (PIB), gerando renda e milhões de empregos país afora. Graças ao agronegócio, o saldo comercial brasileiro tem sido positivo nos últimos anos e o mundo reconhece no Brasil um grande player.
Em 2020, a participação do setor na fatia do PIB nacional aumentou para 26,6% (24,31% em 2019), segundo dados da [Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)](https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx), considerando toda a cadeia – produção dentro das fazendas, insumos, agroindústria e serviços.
Pois por trás desse mercado pujante estão empresas familiares. Estima-se que cerca de 90% da produção agrícola e pecuária são provenientes de empresas familiares, o que não significa, claro, que sejam famílias empresárias. De acordo com a lista de bilionários brasileiros publicada em 2021 pela [revista *Forbes*](https://forbes.com.br/forbes-money/2021/09/40-bilionarios-das-cadeias-produtivas-do-agronegocio-brasileiro/), dos 315 integrantes, 40 estão ligados ao agronegócio, o que dá uma ideia da representatividade do family business no agronegócio.
A despeito dos desafios vencidos no front tecnológico e da produtividade – em 30 anos, a produção aumentou 346% enquanto a área plantada com grãos cresceu 74% –, o agronegócio brasileiro ainda precisa vencer outro desafio: o da governança. Ou não vai garantir a perpetuidade dessa competitividade global.
## O segundo maior gargalo
Para o país continuar sendo considerado uma ilha de prosperidade no agronegócio e contribuir para a produção mundial de alimentos, atendendo às necessidades de segurança alimentar, a governança das empresas familiares precisa ser aprimorada. Esse é o caminho para que o family business do agronegócio escape das cruéis estatísticas, que mostram que apenas 3% das empresas familiares vão além da quarta geração.
Governança, o “G” na agenda ESG (sigla em inglês de ambiental, social e governança), é o segundo maior gargalo do agro brasileiro, ficando atrás apenas da infraestrutura. Essas informa vêm do levantamento de 2020 da [Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)](https://abag.com.br/).
(Isso não significa que os aspectos relacionados ao meio ambiente e ao social já estejam resolvidos, que fique claro. Há ainda muito o que se avançar nas pautas contempladas pelas duas primeiras letrinhas da pauta ESG. As exigências de boas práticas sustentáveis e sociais, vindas de investidores, parceiros e consumidores, tendem a se intensificar, e as empresas precisam estar organizadas e preparadas para se manterem competitivas também nesse cenário. Mas aqui me concentro em governança.)
## Só 7% têm conselho de família formal
Um [estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)](https://www.embrapa.br/documents/10180/9543845/Vis%C3%A3o+2030+-+o+futuro+da+agricultura+brasileira/2a9a0f27-0ead-991a-8cbf-af8e89d62829?version=1.1), revela que 40% dos produtores rurais deixarão suas atividades até 2030, corroborando a existência do gargalo apontada pela Abag e reforçando a importância de trabalhar o quanto antes o processo de sucessão familiar. Uma transição sucessória bem sucedida, devidamente estruturada e conduzida com transparência, não se faz de uma hora para outra. Demanda tempo – pode demorar de cinco a dez anos –, dedicação e empenho de todas as partes envolvidas no processo.
A pesquisa [“Governança e gestão do patrimônio das famílias do agronegócio”](https://jvalerio.com.br/passagem-de-bastao-no-campo-como-esta-a-sucessao-familiar-no-agronegocio/), da Fundação Dom Cabral e da JValério Gestão e Desenvolvimento, faz recortes importantes sobre isso, que ajudam a entender a importância de se trabalhar a sucessão familiar no agronegócio. Dos 207 gestores de todo o país ouvidos no ano passado, 26% citaram a sucessão familiar como um dos principais desafios para as famílias empresárias do setor.
A pesquisa mostra ainda que mais de 70% das empresas não têm um conselho de família estruturado – apenas 7% o possuem. É um índice baixo, bem menor que o de outras empresas familiares de outros setores da nossa economia.
A prática tem mostrado que postergar o processo de sucessão familiar, tratando do tema apenas na penúltima hora, pode ser mais complexo e traumático. A perenidade dos negócios familiares depende de uma visão proativa de longo prazo que contemple não apenas a governança, mas todos os aspectos ambientais e sociais.
Sem uma gestão com boas práticas nas tomadas de decisão, as empresas familiares, sejam elas do agronegócio ou de qualquer outro ramo de negócio, tendem a sofrer impactos negativos. Para continuar colhendo safras e cifras recordes, esse tão importante setor da economia brasileira precisa de empresas com governança e que incorporem princípios e propósitos de toda a agenda ESG.