Vale oriental

O futuro das relações comerciais entre China e Ocidente

Fatores geopolíticos mexem nos cenários das relações comerciais, incluindo até mesmo uma dissociação radical em dois sistemas independentes
Edward Tse é fundador e CEO da Gao Feng Advisory Company, uma empresa de consultoria de estratégia e gestão com raízes na China.

Compartilhar:

Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, junto com o mais recente surto de covid-19 em Xangai, muitas empresas de capital estrangeiro e local e investidores têm feito as mesmas perguntas: como as relações comerciais e os negócios entre China e Ocidente mudarão no futuro? E como essas mudanças afetarão ambos? Eis algumas possibilidades.

Passados 30 anos de globalização, China e Ocidente estão muito integrados em vários aspectos. Mas as relações de negócios entre eles sofreram mudanças fundamentais desde o início da disputa comercial entre Estados Unidos e China. Mesmo tão integrados, há quem defenda uma “dissociação”, a separação completa em dois sistemas, um liderado pelo Ocidente e outro pela China. Separação que abrange supply chains, tecnologias e telecomunicação. Até a internet seria separada em duas.

Entre os fatores negativos que podem levar à separação, a geopolítica desempenha um papel importante, e a razão é óbvia. A citada guerra alimentou as suspeitas do Ocidente quanto aos países não aliados, e as sanções impostas à Rússia impactaram a China.

Desde o início da pandemia, as supply chains globais, inclusive as centradas na China, foram severamente interrompidas, afetando o fornecimento de muitas matérias-primas e produtos. A geopolítica já provocou algum grau de dissociação em algumas indústrias, como a automotiva e a de chips semicondutores avançados.

Do lado positivo, a China é líder mundial em muitas indústrias, e várias empresas estrangeiras estão se saindo bem no país – algumas, muito bem. Temos aqui também o centro de várias supply chains globais, principalmente as que dependem de grandes clusters de fornecedores e da alocação eficiente de recursos humanos.

A China lidera a inovação em vários setores: economia digital, nova energia, inteligência artificial e 5G, que têm objetivos fortes e ecossistemas se integrando gradualmente. Há áreas em que o país deixa de seguir padrões e passa a criar os novos padrões. E cada vez mais multinacionais percebem que, ao estar aqui, podem aprender e absorver a essência dessas inovações

No nível macro, antes do impacto da geopolítica, a globalização e seus benefícios eram plenamente aceitos pela maioria das pessoas. Tendo a tecnologia como principal impulsionadora, elas querem um mundo mais conectado, com interações mais frequentes entre indivíduos, construindo uma “rede que fará bem à humanidade”. Com a situação atual, porém, tal visão pode não se concretizar no curto prazo.

Vejo a liderança chinesa comprometida com mais abertura e com reformas, na forma de novas políticas e medidas que garantam sua economia e ajudem a enfrentar os desafios atuais

Executivos e estrategistas devem ter prudência ao analisar o potencial positivo e os riscos em meio a tantas incertezas. Fazer avaliações racionais e objetivas sobre o futuro é a entrada mais básica para formular estratégias daqui para frente.

Compartilhar:

Artigos relacionados

ESG
Inclua uma nova métrica no seu dashboard: bem-estar. Porque nenhum KPI de entrega importa se o motorista (você) está com o tanque vazio

Lilian Cruz

4 min de leitura
ESG
Flexibilidade não é benefício. É a base de uma cultura que transformou nossa startup em um caso real de inclusão sem imposições, onde mulheres prosperam naturalmente.

Gisele Schafhauser

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O futuro da liderança em tempos de IA vai além da tecnologia. Exige preservar o que nos torna humanos em um mundo cada vez mais automatizado.

Manoel Pimentel

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Setores que investiram em treinamento interno sobre IA tiveram 57% mais ganhos de produtividade. O segredo está na transição inteligente.

Vitor Maciel

6 min de leitura
Empreendedorismo
Autoconhecimento, mentoria e feedback constante: a nova tríade para formar líderes preparados para os desafios do trabalho moderno

Marcus Vaccari

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Se seu atendimento não é 24/7, personalizado e instantâneo, você já está perdendo cliente para quem investiu em automação. O tempo de resposta agora é o novo preço da fidelização

Edson Alves

4 min de leitura
Inovação
Enquanto você lê mais um relatório de tendências, seus concorrentes estão errando rápido, abolindo burocracias e contratando por habilidades. Não é só questão de currículos. Essa é a nova guerra pela inovação.

Alexandre Waclawovsky

8 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A aplicação da inteligência artificial e um novo posicionamento da liderança tornam-se primordiais para uma gestão lean de portfólio

Renata Moreno

4 min de leitura
Finanças
Taxas de juros altas, inovação subfinanciada: o mapa para captar recursos em melhorias que já fazem parte do seu DNA operacional, mas nunca foram formalizadas como inovação.

Eline Casasola

5 min de leitura
Empreendedorismo
Contratar um Chief of Staff pode ser a solução que sua empresa precisa para ganhar agilidade e melhorar a governança

Carolina Santos Laboissiere

7 min de leitura