Gestão de Pessoas

O futuro sob lentes multifocais

Ao se deparar com um dilema inédito, adote novos olhares e diferentes atitudes
Marcelo Nóbrega é especialista em Inovação e Tecnologia em Gestão de Pessoas. Após 30 anos no mundo corporativo, hoje atua como investidor-anjo, conselheiro e mentor de HR TechsÉ professor do Mestrado Profissional da FGV-SP e ministra cursos de pós-graduação nesta e em outras instituições sobre liderança, planejamento estratégico de RH, People Analytics e AI em Gestão de Pessoas. Foi eleito o profissional de RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn em 2018. É autor do livro “Você está Contratado!” e host do webcast do mesmo nome. É Mestre em Ciência da Computação pela Columbia University e PhD pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Compartilhar:

Para fazer um exercício de futurologia sobre o mundo pós-covid-19, ajusto os meus óculos multifocais. Porque o amanhã me parece tão próximo e, paradoxalmente, tão longínquo. E, entre esses dois tempos, existe um estágio intermediário que requer toda atenção.

As lentes para perto me ajudam na leitura do que nos espera logo ali na frente, quando sairmos da clausura e retomarmos o poder de fazer escolhas. Escolhas pessoais e coletivas – quero crer – muito melhores.

As lentes para longe me mostram um futuro distante porque é como se muito tempo tivesse passado. As grandes transformações em curso imprimem essa sensação de que vivemos dez anos em um.

Uma imagem me vem à cabeça: a do empuxo de um foguete decolando de Cabo Canaveral, sabe? O foguete despende um esforço enorme para se desvencilhar da força gravitacional da Terra, mas ao quebrar essa barreira parece flutuar.

Com os pés fincados no chão, seguimos nos exercitando por aqui para romper nossas barreiras. As lentes intermediárias nos alertam que é preciso estar preparado para esse momento. Um cenário de não-vínculo, de relacionamentos efêmeros, de livre arbítrio, de empreendedorismo e com alta demanda para habilidades como [agilidade de aprendizagem](https://www.revistahsm.com.br/post/aprendizado-constante-a-habilidade-mais-importante-de-um-profissional), versatilidade e adaptação.

O script mudou. Como ajustar nossa estrutura mental para atender ao protagonismo que o novo mundo exige?

Esse é o desafio. Não do futuro, mas do agora. E para todos nós. O novo conceito de aprendizagem é o *learning agility*, saber reconhecer que se está diante de um dilema inédito e, portanto, assumir que a “fórmula de sucesso” até então usada não vai funcionar. Vide a covid-19!

## O que fazer num momento como esse?
Parar, racionalizar e agir. Rapidamente. E pivotar, se necessário. Essa habilidade é prima-irmã da versatilidade e da adaptabilidade. A primeira, versatilidade, é o jogo de cintura construído pelas experiências de se navegar em ambientes diferentes. A segunda, a [adaptabilidade](https://www.revistahsm.com.br/post/oito-virtudes-para-o-cmo-ambidestro), vem da disposição de estar preparado para jogar o jogo que as peças do tabuleiro lhe apresentam.

*Learning agility*, curiosidade, apetite a risco, adaptabilidade e versatilidade. Essas têm sido as minhas recomendações quando tenho conversas de mentoria com profissionais de todas as idades e setores de atividade. Até agora…

Só que as mudanças e seus efeitos são rápidos, incertos, complexos, ambíguos. E paradoxais como nunca. Tentando resumir, A (em maiúsculo mesmo) habilidade do futuro será: resolver situações complexas.

Esse grande movimento da chamada Era Digital não significa a mera “[digitalização do trabalho](https://www.revistahsm.com.br/post/liderando-na-industria-4-0)”. É muito mais do que isso: representa toda a conectividade, transparência e colaboração que as ferramentas de design e tecnologia possibilitam.

## Invista em você e no seu aprendizado
E antes que seja mal interpretado: não estimulo o egocentrismo e nem a lógica do profissional herói e autossuficiente, do Super-Homem ou da Mulher-Maravilha. Não sabemos tudo e nunca teremos as repostas para tudo, por mais que estudemos e vivenciemos experiências distintas. Que tal trazer mais gente com perspectivas diferentes para a discussão dos problemas? Dividir para conquistar, tática utilizada por César e Napoleão.

Compartilhe seus dilemas e obtenha o benefício de acesso a perspectivas diferentes. E não falo de complementariedade, mas de diversidade radical. Conecte-se com gente bem diferente de você e que tenha bagagem e experiências também bastante distintas. Assim, você terá visões de ângulos diferenciados sobre uma mesma questão. É como o VAR do futebol.

No trabalho ou na vida pessoal, mantenha uma rede de relacionamento vasta, atuante e rica em perfis e personalidades. [Contribua para o desenvolvimento](https://www.revistahsm.com.br/post/para-ser-o-profissional-do-futuro-hoje) dessas pessoas e do coletivo. Junte-se a grupos profissionais da sua expertise ou setor de atividade. Não existe? Inicie um. Convide gente boa, interessada, bem-intencionada, que executa, altruísta, com visão e valores.

O aprendizado é trabalhar em rede, coletivamente, com vistas ao bem comum. Quem sabe assim teremos menos situações complexas no futuro ou ao menos mais preparo para matá-las no peito.

*Confira outras [colunas do Marcelo Nóbrega](https://www.revistahsm.com.br/colunistas/marcelo-nobrega) na HSM Management.*

Compartilhar:

Marcelo Nóbrega é especialista em Inovação e Tecnologia em Gestão de Pessoas. Após 30 anos no mundo corporativo, hoje atua como investidor-anjo, conselheiro e mentor de HR TechsÉ professor do Mestrado Profissional da FGV-SP e ministra cursos de pós-graduação nesta e em outras instituições sobre liderança, planejamento estratégico de RH, People Analytics e AI em Gestão de Pessoas. Foi eleito o profissional de RH mais influente da América Latina e Top Voice do LinkedIn em 2018. É autor do livro “Você está Contratado!” e host do webcast do mesmo nome. É Mestre em Ciência da Computação pela Columbia University e PhD pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Artigos relacionados

Inovação

Living Intelligence: A nova espécie de colaborador

Estamos entrando na era da Inteligência Viva: sistemas que aprendem, evoluem e tomam decisões como um organismo autônomo. Eles já estão reescrevendo as regras da logística, da medicina e até da criatividade. A pergunta que nenhuma empresa pode ignorar: como liderar equipes quando metade delas não é feita de pessoas?

Liderar GenZ’s: As relações de trabalho estão mudando…

Mais da metade dos jovens trabalhadores já não acredita no valor de um diploma universitário — e esse é só o começo da revolução que está transformando o mercado de trabalho. Com uma relação pragmática com o emprego, a Geração Z encara o trabalho como negócio, não como projeto de vida, desafiando estruturas hierárquicas e modelos de carreira tradicionais. A pergunta que fica: as empresas estão prontas para se adaptar, ou insistirão em um sistema que não conversa mais com a principal força de trabalho do futuro?

Empreendedorismo
Contratar um Chief of Staff pode ser a solução que sua empresa precisa para ganhar agilidade e melhorar a governança

Carolina Santos Laboissiere

7 min de leitura
ESG
Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Carolina Ignarra

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 2º no ranking mundial de burnout e 472 mil licenças em 2024 revelam a epidemia silenciosa que também atinge gestores.
5 min de leitura
Inovação
7 anos depois da reforma trabalhista, empresas ainda não entenderam: flexibilidade legal não basta quando a gestão continua presa ao relógio do século XIX. O resultado? Quiet quitting, burnout e talentos 45+ migrando para o modelo Talent as a Service

Juliana Ramalho

4 min de leitura
ESG
Brasil é o 4º país com mais crises de saúde mental no mundo e 500 mil afastamentos em 2023. As empresas que ignoram esse tsunami pagarão o preço em produtividade e talentos.

Nayara Teixeira

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Empresas que integram IA preditiva e machine learning ao SAP reduzem custos operacionais em até 30% e antecipam crises em 80% dos casos.

Marcelo Korn

7 min de leitura
Empreendedorismo
Reinventar empresas, repensar sucesso. A megamorfose não é mais uma escolha e sim a única saída.

Alain S. Levi

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar o cérebro operacional de organizações inteligentes. Mas, se os algoritmos assumem decisões, qual será o papel dos líderes no comando das empresas? Bem-vindos à era da gestão cognitiva.

Marcelo Murilo

12 min de leitura
ESG
Por que a capacidade de expressar o que sentimos e precisamos pode ser o diferencial mais subestimado das lideranças que realmente transformam.

Eduardo Freire

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A IA não é só para tech giants: um plano passo a passo para líderes transformarem colaboradores comuns em cientistas de dados — usando ChatGPT, SQL e 360 horas de aprendizado aplicado

Rodrigo Magnago

21 min de leitura