Para fazer um exercício de futurologia sobre o mundo pós-covid-19, ajusto os meus óculos multifocais. Porque o amanhã me parece tão próximo e, paradoxalmente, tão longínquo. E, entre esses dois tempos, existe um estágio intermediário que requer toda atenção.
As lentes para perto me ajudam na leitura do que nos espera logo ali na frente, quando sairmos da clausura e retomarmos o poder de fazer escolhas. Escolhas pessoais e coletivas – quero crer – muito melhores.
As lentes para longe me mostram um futuro distante porque é como se muito tempo tivesse passado. As grandes transformações em curso imprimem essa sensação de que vivemos dez anos em um.
Uma imagem me vem à cabeça: a do empuxo de um foguete decolando de Cabo Canaveral, sabe? O foguete despende um esforço enorme para se desvencilhar da força gravitacional da Terra, mas ao quebrar essa barreira parece flutuar.
Com os pés fincados no chão, seguimos nos exercitando por aqui para romper nossas barreiras. As lentes intermediárias nos alertam que é preciso estar preparado para esse momento. Um cenário de não-vínculo, de relacionamentos efêmeros, de livre arbítrio, de empreendedorismo e com alta demanda para habilidades como [agilidade de aprendizagem](https://www.revistahsm.com.br/post/aprendizado-constante-a-habilidade-mais-importante-de-um-profissional), versatilidade e adaptação.
O script mudou. Como ajustar nossa estrutura mental para atender ao protagonismo que o novo mundo exige?
Esse é o desafio. Não do futuro, mas do agora. E para todos nós. O novo conceito de aprendizagem é o *learning agility*, saber reconhecer que se está diante de um dilema inédito e, portanto, assumir que a “fórmula de sucesso” até então usada não vai funcionar. Vide a covid-19!
## O que fazer num momento como esse?
Parar, racionalizar e agir. Rapidamente. E pivotar, se necessário. Essa habilidade é prima-irmã da versatilidade e da adaptabilidade. A primeira, versatilidade, é o jogo de cintura construído pelas experiências de se navegar em ambientes diferentes. A segunda, a [adaptabilidade](https://www.revistahsm.com.br/post/oito-virtudes-para-o-cmo-ambidestro), vem da disposição de estar preparado para jogar o jogo que as peças do tabuleiro lhe apresentam.
*Learning agility*, curiosidade, apetite a risco, adaptabilidade e versatilidade. Essas têm sido as minhas recomendações quando tenho conversas de mentoria com profissionais de todas as idades e setores de atividade. Até agora…
Só que as mudanças e seus efeitos são rápidos, incertos, complexos, ambíguos. E paradoxais como nunca. Tentando resumir, A (em maiúsculo mesmo) habilidade do futuro será: resolver situações complexas.
Esse grande movimento da chamada Era Digital não significa a mera “[digitalização do trabalho](https://www.revistahsm.com.br/post/liderando-na-industria-4-0)”. É muito mais do que isso: representa toda a conectividade, transparência e colaboração que as ferramentas de design e tecnologia possibilitam.
## Invista em você e no seu aprendizado
E antes que seja mal interpretado: não estimulo o egocentrismo e nem a lógica do profissional herói e autossuficiente, do Super-Homem ou da Mulher-Maravilha. Não sabemos tudo e nunca teremos as repostas para tudo, por mais que estudemos e vivenciemos experiências distintas. Que tal trazer mais gente com perspectivas diferentes para a discussão dos problemas? Dividir para conquistar, tática utilizada por César e Napoleão.
Compartilhe seus dilemas e obtenha o benefício de acesso a perspectivas diferentes. E não falo de complementariedade, mas de diversidade radical. Conecte-se com gente bem diferente de você e que tenha bagagem e experiências também bastante distintas. Assim, você terá visões de ângulos diferenciados sobre uma mesma questão. É como o VAR do futebol.
No trabalho ou na vida pessoal, mantenha uma rede de relacionamento vasta, atuante e rica em perfis e personalidades. [Contribua para o desenvolvimento](https://www.revistahsm.com.br/post/para-ser-o-profissional-do-futuro-hoje) dessas pessoas e do coletivo. Junte-se a grupos profissionais da sua expertise ou setor de atividade. Não existe? Inicie um. Convide gente boa, interessada, bem-intencionada, que executa, altruísta, com visão e valores.
O aprendizado é trabalhar em rede, coletivamente, com vistas ao bem comum. Quem sabe assim teremos menos situações complexas no futuro ou ao menos mais preparo para matá-las no peito.
*Confira outras [colunas do Marcelo Nóbrega](https://www.revistahsm.com.br/colunistas/marcelo-nobrega) na HSM Management.*