Gestão de Pessoas

O papel do sense-making na era da hiperconexão organizacional

Entenda como essa abordagem pode capacitar pessoas a tomarem melhores decisões em seus sistemas sociais e ser um aliado durante transformações
É Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil e possui uma trajetória de pioneirismo com agilidade e complexidade. Teve trabalhos de grande destaque envolvendo a disciplina Agile Coaching, como a publicação do livro The Agile Coaching DNA, e introduzindo o conceito de plasticidade organizacional para comunidades e organizações. Na Austrália, esteve envolvido em iniciativas de transformação nas áreas financeira e de segurança civil, onde utilizou complexidade aplicada como base do seu trabalho. Mais recentemente foi Diretor de Business Agility para Americas da consultoria alemã GFT.

Compartilhar:

O papel do sense-making na era da hiperconexão organizacional com o contínuo aumento da hiperconexão mundial, as informações são construídas, desconstruídas e reconstruídas em velocidades cada vez maiores. O nível de ambiguidade e efemeridade no atual tecido social também tem se intensificado.

Esse dinamismo torna evidente a necessidade de as organizações serem hábeis em perceber mudanças, construir significados e responder de forma apropriada a situações desconhecidas, imprevistas e complexas. Desenvolver essa habilidade é a ideia central do Sense-making: uma prática que envolve a construção coletiva e contínua de significados, por meio de narrativas, sobre os acontecimentos em um sistema social.

O propósito desta abordagem é capacitar as pessoas a tomarem melhores decisões em seus sistemas sociais. Por essa razão, naturalizar a construção coletiva de significados é essencial para a evolução de qualquer organização.

Narrativas são um importante instrumento para o sense-making, pois permitem uma compreensão mais ampla dos acontecimentos em uma organização. O sense-making também reconhece a necessidade de que os indivíduos, que vivenciaram determinada história, tenham o poder de interpretar o significado associado a essa narrativa.

Ao integrar as narrativas de múltiplas pessoas em grande escala, o sistema se torna mais consciente dos padrões de significados e, consequentemente, utiliza-os para apoiar ações mais contextualizadas às necessidades e características da organização.

A construção de significados a partir de narrativas permite à organização identificar formas de fazer com que “mais histórias como essas aconteçam” ou que “menos histórias como essas surjam”. Portanto, o sensemaking é um importante aliado para melhorar o senso de direção durante transformações.

Naturalizar essa construção coletiva de significados também tem ajudado empresas a evitarem enxergar apenas o que esperam ver. Descobrir padrões não óbvios em situações ambíguas e complexas tem sido um benefício instrumental para ajudar organizações a inovar, navegar nas crises e enfrentar situações de caos.

Existem diversas escolas de pensamento sobre sense-making. Uma delas é o ‘Sense-making Naturalizado’, proposto por Dave Snowden, criador do framework Cynefin. A abordagem é essencialmente pragmática e está frequentemente associada a ferramentas colaborativas de interpretação, práticas de gestão do conhecimento e apoio a decisões e ações em contextos complexos.

Seu conceito principal reside em usar a emergência natural resultante das interações dos indivíduos como ponto de partida para um melhor suporte à tomada de decisão. Essa escola de pensamento, proposta por Snowden, utiliza a ciência natural como base para desenvolver práticas que ajudam a responder à pergunta: “como posso entender o mundo de modo que eu possa agir nele?”.

# Realidade, Percepção e Conhecimento

A construção de significados envolve harmonizar três elementos essenciais: realidade, percepção e conhecimento. Cada indivíduo possui uma forma única de combinar esses elementos. Por isso, o sense-making consiste em dar voz e integrar esses múltiplos arranjos individuais. Com essa integração bem-sucedida, a organização consegue identificar padrões de significados e tomar melhores decisões dentro de seus contextos.

Centralizar a responsabilidade de perceber e construir significados apenas nos líderes e gestores tem se mostrado prejudicial para a capacidade das empresas de responderem efetivamente a mudanças abruptas e de fomentarem a inovação em seu tecido organizacional.

Nós, seres humanos, evoluímos para perceber padrões, fazer conexões novas e inesperadas, e utilizar a diversidade cognitiva e experiencial ao agir juntos, não como tomadores de decisão isolados, mas como seres coletivos e interdependentes.

Por essa razão, distribuir a construção de significados tem se mostrado eficaz para evitar que decisões sejam tomadas unicamente com base em suposições e vieses. Consequentemente, a abordagem também se revela muito mais saudável para as organizações enfrentarem os desafios atuais.

Diálogos, por exemplo, são uma ferramenta essencial para a construção coletiva de significados. Com essa prática, indivíduos são incentivados a interagir múltiplas vezes para trocar experiências e percepções. Essa troca contínua permite que a plausibilidade e a coerência dos significados sejam construídas e testadas de forma colaborativa.

Como um dos pilares do Cynefin Framework, na The Cynefin Co. Brazil, temos utilizado a abordagem do sense-making para auxiliar clientes de diferentes tamanhos e segmentos a enfrentarem desafios estratégicos, culturais e transformacionais. Dessa forma, as empresas passam a fortalecer gradualmente sua capacidade de perceber e responder a mudanças de forma contextualizada e coerente.

De forma geral, a principal preocupação ao naturalizar o sense-making é apoiar a tomada de decisões contextualmente apropriadas, especialmente em relação a problemas aparentemente intratáveis. Nesses casos, o contexto permite o surgimento de entendimentos compartilhados, originados das narrativas dos próprios indivíduos que fazem parte desse contexto.

Portanto, essa abordagem pode ser um importante facilitador para a resiliência organizacional. Quanto mais capaz uma organização for de reconhecer e integrar múltiplos significados individuais, mais preparada ela estará para lidar com mudanças, incertezas, ambiguidades e crises.

Compartilhar:

É Chief Scientific Officer na The Cynefin Co. Brazil e possui uma trajetória de pioneirismo com agilidade e complexidade. Teve trabalhos de grande destaque envolvendo a disciplina Agile Coaching, como a publicação do livro The Agile Coaching DNA, e introduzindo o conceito de plasticidade organizacional para comunidades e organizações. Na Austrália, esteve envolvido em iniciativas de transformação nas áreas financeira e de segurança civil, onde utilizou complexidade aplicada como base do seu trabalho. Mais recentemente foi Diretor de Business Agility para Americas da consultoria alemã GFT.

Artigos relacionados

Finanças
Com projeções de US$ 525 bilhões até 2030, a Creator Economy busca superar desafios como dependência de algoritmos e desigualdade na monetização, adotando ferramentas financeiras e estratégias inovadoras.

Paulo Robilloti

6 min de leitura
ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura